Esquerda, direita?
Também perguntam alguns, afetando espanto: mas você ainda acredita na existência de direita e de esquerda? Claro que acredito. Ademais, não é matéria de crença, mas de fato. E passo longe daquela besteira, infelizmente endossada por Norberto Bobbio, de que esquerdistas se preocupam mais com a justiça social, e direitistas tendem a naturalizar as diferenças. […]
Também perguntam alguns, afetando espanto: mas você ainda acredita na existência de direita e de esquerda? Claro que acredito. Ademais, não é matéria de crença, mas de fato. E passo longe daquela besteira, infelizmente endossada por Norberto Bobbio, de que esquerdistas se preocupam mais com a justiça social, e direitistas tendem a naturalizar as diferenças. Até porque, dada uma sociedade democrática, em que todos são iguais perante a lei, as diferenças podem não ser naturais, mas são fatais. Distribua a riqueza brasileira, em partes iguais, entre os pouco mais de 180 milhões… Quanto tempo demoraria para que, de novo, houvesse ricos e pobres — e é bem possível que os ricos de agora fossem os futuros ricos da pós-distribuição?
Então a gente acaba com o estado? Não! Ele tem de ser eficiente para garantir direitos que permitam às pessoas competir. E isso supõe, claro, intervir com políticas públicas em áreas como saúde, educação e segurança. Qual é o grau dessa intervenção? Uma que não o transforme numa máquina difícil de carregar, que passe a ser gerador de desigualdades, em vez de corrigi-las. É nisso que acredito. Isso é ser de direita?
Mas não é só. Dada (e isto é um pressuposto) uma sociedade democrática, a direita não solapa a legitimidade das leis para promover o que entende ser justiça social. Já a esquerda não vê mal nenhum nisso porque acredita que o legítimo se sobrepõe ao legal. E quem define o “legítimo”? Ora, ela própria. Sim, ainda existem direita e esquerda. E, nos termos dados neste texto, é óbvio que sou de direita.