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Reinaldo Azevedo

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Escócia diz “não” à separação; o risco em caso de vitória do “sim” estava bem longe do Reino (des)Unido

O patriotismo, disse Samuel Johnson, é o último refúgio de um canalha. E, a depender do caso, o nacionalismo pode ser o último refúgio da irracionalidade. Vamos lá. A Escócia, um dos pedaços de uma ilha chamada Grã-Bretanha, tem lá a sua cultura, os seus valores, as suas tradições — cantadas e exaltadas em prosa, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h03 - Publicado em 19 set 2014, 04h36

O patriotismo, disse Samuel Johnson, é o último refúgio de um canalha. E, a depender do caso, o nacionalismo pode ser o último refúgio da irracionalidade. Vamos lá. A Escócia, um dos pedaços de uma ilha chamada Grã-Bretanha, tem lá a sua cultura, os seus valores, as suas tradições — cantadas e exaltadas em prosa, verso, música e o que mais se queira — o “scotch”, por exemplo. Não havia e não há, prestem bem atenção!, uma única razão relevante para esse pedaço da ilha se despregar da Inglaterra e do País de Gales e dar adeus ao Reino Unido, que inclui a Irlanda do Norte. Fala-se ali, por acaso, um idioma próprio? Não! Há um inglês com sotaque particular, mas isso varia dentro de Londres — como varia o “paulistanês” (já um português local) nas várias áreas da capital paulista. Bem, aconteceu o melhor: o “não” à separação venceu o plebiscito. Enquanto produzo este comentário, conhece-se o resultado da votação em 26 dos 32 condados. O “sim” venceu em apenas quatro. A estimativa é que o placar final seja 55% a 45% contra a independência.

O “sim”, de todo modo, venceu em cidades importantes como Glasgow, a maior da Escócia, com 53%, em West Dunbartonshire (54%) e Dundee (57%). O “não” confirmou a vitória em suas áreas de resistência como East Lothian, Orkney e Shetland, mas também obteve a maioria em algumas em que havia a expectativa de que o “sim obtivesse a maioria: Falkirk, Inverclyde, Eilean Siar, Dumfries e Galloway, Clackmannanshire, Stirling, Renfrewshire, East Renfrewshire, Angus e Midlothian.

Se os separatistas tivessem sido bem-sucedidos, o Reino Unido perderia 32% do seu território, 8% da sua população e 9% do seu PIB. E então caberia a pergunta: “Pra quê?”. Para nada! Ligada ao Reino Unido, a Escócia é parte de um país superdesenvolvido. Sozinha, conservaria suas virtudes, sem dúvida — não sei por quanto tempo —, mas teria de criar uma nova burocracia. Os problemas se multiplicariam. Que moeda adotaria? De saída, haveria uma fuga óbvia de investimentos. Mas vá falar com nacionalistas exaltados, orgulhosos de ser, afinal de contas, “escoceses”.

Nesse episódio, no entanto, o que menos tinha importância era saber se a Escócia iria ou não continuar como parte do Reino Unido. O risco maior estava nas consequências. Há ambições separatistas na Espanha (Catalunha e País Basco), na Itália (Lombardia e Tirol do Sul), na França (Córsega), na Bélgica (Flandres), na Alemanha (Bavária) e até na Dinamarca (Groenlândia). Mas podemos sair da Europa ocidental: a Abcásia e a Ossétia do Sul se consideram independentes da Geórgia; Kosovo já não se diz parte da Sérvia, embora não seja membro da ONU; Nagorno Karaback, de maioria armênia, declarou sua independência do Azerbaijão, mas não foi reconhecido pelas Nações Unidas; a Transnistria, cuja existência, leitor, você talvez ignorasse, diz não pertencer mais à Moldávia, e há a República Turca do Chipre do Norte.

Em algumas dessas regiões, como Geórgia, Moldávia e Chipre, houve guerras. O terrorismo basco está desativado, mas eventos como esse da Escócia, se bem-sucedidos, poderiam reacender ânimos adormecidos. Pensemos um pouco na Ucrânia. Ainda que Vladimir Putin seja a mão que balança o berço da delinquência, ele sabe que prega em solo fértil. E há ambições separatistas em regiões muito mais explosivas do planeta, como a Caxemira (Índia), por exemplo.

Independente ou não, Escócia e Reino Unido acabariam se entendendo. O risco não estava ali, mas no que a separação desencadearia mundo afora.

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