Em 1989, Zottolo se chamava Lula
O próprio Lula, como já disse, foi vítima da mesma distorção que está contribuindo para demonizar o presidente da Philips, Paulo Zottolo. Deu-se num debate eleitoral na TV Globo, em 1989, contra Fernando Collor, hoje seu aliado. Vejam o diálogo:Lula: O problema do Nordeste não é um problema de seca, é um problema de cerca. […]
Lula: O problema do Nordeste não é um problema de seca, é um problema de cerca. Daí porque defendi a reforma agrária, senão morreriam milhões e milhões de nordestinos, como está aí a imprensa dizendo que o IBGE afirmando que é possível até nascer uma sub-raça.
Collor: Eu quero de alguma maneira repelir essa insinuação de que nós sejamos sub-raça, até porque sub-raça eu não sou, como também acredito que meu adversário não seja sub-raça somente pelo fato de ter nascido no Nordeste. A prova de que não somos sub-raça, deputado, é que nós estamos aqui disputando a eleição presidencial, duas pessoas com origens no Nordeste.
VolteiComo se vê, Collor se aproveitou muito bem, e de forma malandra, da afirmação do petista. Imediatamente, seus partidários deram início, no Nordeste, a uma reação contra as palavras supostamente preconceituosas de Lula. É evidente que a fala do petista era uma burrice — não existe essa conversa de sub-raça —, mas preconceituosa não era. O PT não perdeu a eleição por causa daquilo, mas a distorção permaneceu. Um dia, Duda Mendonça apareceu na vida do líder petista e lhe ensinou que, em vez do vitimismo, o melhor pra ele era o triunfalismo: “O nodestino que chegou lá”. E assim fez Lula. Ah, sim, hoje ele acha que o problema do Nordeste nao é de cerca, mas de seca. Tanto que quer fazer o sertão virar mar…
É claro que Zottolo não defendeu o fim do Piauí ou coisa parecida. Isso é desvio de informação da mídia petralha. Apenas usou o exemplo de uma região do Brasil mais ou menos esquecida — o que é verdade. A exemplo do que fez Lula em 1989. Acontece que, há quase 30 anos, falar das carências do Nordeste era coisa de esquerda. Hoje, a esquerda se tornou triunfalista. E, como se isso fosse possível, é mais estúpida do que era antes.
Ah, sim. Zottolo se desculpou com o governador Wellington Dias (PT-PI), que, magnânimo, aceitou o pedido. Um grande homem mesmo… É o coronel moral que privatizou a dor de todos os piauienses. No “meu” Piauí, no entanto, ele não mexe. Fico imaginando se Mário Faustino (1930-1962), o maior poeta brasileiro do século passado, nascido no estado, ainda fosse vivo… Tinha horror à botocúndia esquerdopata que já corroía a cultura brasileira na década de 60…