E Tio Rei não vai perder o mindinho…
O que foi que Tio Rei escreveu para seus “reinaldetes” (como disse aquela editora esquisita de livros esquisitos) na quarta-feira, no post das 18h01? Isto aqui, vejam: “Não tenho os números, não, e deixo a curiosidade para os repórteres investigativos. Eu só investigo advérbios e derivações impróprias. Mas aposto o mindinho — e não o […]
A repórter Renata Cafardo informa no Estadão deste domingo: “O mercado do livro didático no País chegará ao fim de 2007 com um recorde de 152 milhões de exemplares comprados para uso em salas de aula de escolas públicas e privadas. O crescimento em relação a 2002, ano com o maior número de vendas até então, é de 5%. O Ministério da Educação (MEC) praticamente sustenta esse mercado de R$ 1,3 bilhão e é considerado o maior comprador de livros do mundo (íntegra aqui). Prometo continuar investigando idéias. Sabem o que isso significa? O governo compra 80% das coleções postas no mercado ano a ano. Dá para imaginar o poder do MEC junto a essas editoras?
As obras são previamente avaliadas por professores etc e tal. Parece que falta é rigor — e um corpo estável de técnicos que, afinal, respondam por um programa bilionário. O jornal traz, por exemplo, uma boa entrevista com a historiadora Margarida Maria Dias de Oliveira, que supervisionou a equipe que acabou rejeitando, para 2008, a coleção Nova História Crítica, de Mário Schmidt, aquela que transformou Mao Tse-Tung num homem amado pelas mulheres… Ela vai ao ponto: “(…) uma certa noção de esquerda simplificada, ortodoxa, está ultrapassada. Isso era comum nos anos 80, quando vivíamos o fim da ditadura e a redemocratização. Esses livros fizeram muito sucesso. No afã de se contrapor à historia tradicional da ditadura, um marxismo mais simplificado chegou às escolas.” (íntegra para assinantes). No dia 20 de junho, num post das 5h01, escrevi aqui: “Quando professor, fiz alunos do primeiro ano do colégio lerem um capítulo de Casa Grande & Senzala, evidenciando como eram difíceis as condições de vida nos primeiros tempos da colônia, também para os senhores de engenho. Ficaram surpresos. Estavam convencidos de que eram todos nababos ou bichos-papões. Em regra, os livros de história, contaminados pelo submarxismo, criminalizam a história do Brasil.”
Mas nem tudo vai bem. Não sei se só para honrar uma concepção vesga de “outro lado”, de “pluralidade”, um terceiro texto do Estadão sobre o mesmo assunto, assinado por Elisangela Roxo (assinante clica aqui), traz depoimentos de pais e professores que gostam da coleção Nova História Crítica. Incrível: não há um só depoimento contrário. Fala-se em dar uma “outra visão” da realidade. Como a coleção é, assumidamente, um panfleto socialista, forçoso seria, então, haver o panfleto capitalista…
Por que o jornalismo precisa ainda cair nessa esparrela? Quer dizer que a pluralidade supõe agora transformar três ou quatro opiniões numa espécie de contraponto àqueles que estão pedindo só um pouquinho de rigor científico na abordagem histórica? Será que devemos fazer uma assembléia em Capão Redondo para votar se o amor de Schimidt pela Revolução Cultural chinesa deve ou não ser financiado pelo estado e servido às crianças?