É novilíngua orwelliana ou perdi alguma coisa? Guerra de Obama vira “não-guerra” no Jornal Nacional
Como assim? Há pouco, no Jornal Nacional, líderes mundiais saudaram a morte de Muamar Kadafi. Tudo conforme o esperado. Não se disse uma miserável palavra sobre os métodos. Segundo deu para perceber, o novo governo está tentando inventar uma boa versão para o linchamento e a execução. O corresponde Luiz Fernando Silva Pinto disse o […]
Como assim?
Há pouco, no Jornal Nacional, líderes mundiais saudaram a morte de Muamar Kadafi. Tudo conforme o esperado. Não se disse uma miserável palavra sobre os métodos. Segundo deu para perceber, o novo governo está tentando inventar uma boa versão para o linchamento e a execução.
O corresponde Luiz Fernando Silva Pinto disse o seguinte:
“Obama prometeu que não iniciaria mais uma guerra, e a promessa foi cumprida”.
Entendi. Guerra é o que Bush fazia. Obama só faz a paz.
Bem, não é assim, como deixou claro o próprio Obama quando estava no Brasil. Ele estava aqui quando anunciou o início da operação contra a Líbia, que qualquer pessoa atenta ao sentido das palavras chamaria de “guerra”. Se Obama diz que não é, o jornalismo pode escolher entre o fato e a palavra de um governante.
Abaixo, há o vídeo em que Obama anuncia que autorizou a ação na Líbia. Depois dele, segue a transcrição em inglês de sua fala e a tradução. Ao fim de tudo, volto para um comentário.
[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=f3FLSKuwA0I&w=420&h=315]
Good afternoon, everybody. Today I authorized the Armed Forces of the United States to begin a limited military action in Libya in support of an international effort to protect Libyan civilians. That action has now begun.
In this effort, the United States is acting with a broad coalition that is committed to enforcing United Nations Security Council Resolution 1973, which calls for the protection of the Libyan people. That coalition met in Paris today to send a unified message, and it brings together many of our European and Arab partners.
This is not an outcome that the United States or any of our partners sought. Even yesterday, the international community offered Muammar Qaddafi the opportunity to pursue an immediate cease-fire, one that stopped the violence against civilians and the advances of Qaddafi’s forces. But despite the hollow words of his government, he has ignored that opportunity. His attacks on his own people have continued. His forces have been on the move. And the danger faced by the people of Libya has grown.
I am deeply aware of the risks of any military action, no matter what limits we place on it. I want the American people to know that the use of force is not our first choice and it’s not a choice that I make lightly. But we cannot stand idly by when a tyrant tells his people that there will be no mercy, and his forces step up their assaults on cities like Benghazi and Misurata, where innocent men and women face brutality and death at the hands of their own government.
So we must be clear: Actions have consequences, and the writ of the international community must be enforced. That is the cause of this coalition.
As a part of this effort, the United States will contribute our unique capabilities at the front end of the mission to protect Libyan civilians, and enable the enforcement of a no-fly zone that will be led by our international partners. And as I said yesterday, we will not – I repeat – we will not deploy any U.S. troops on the ground.
As Commander-in-Chief, I have great confidence in the men and women of our military who will carry out this mission. They carry with them the respect of a grateful nation.
I’m also proud that we are acting as part of a coalition that includes close allies and partners who are prepared to meet their responsibility to protect the people of Libya and uphold the mandate of the international community.
I’ve acted after consulting with my national security team, and Republican and Democratic leaders of Congress. And in the coming hours and days, my administration will keep the American people fully informed. But make no mistake: Today we are part of a broad coalition. We are answering the calls of a threatened people. And we are acting in the interests of the United States and the world.
*
Boa tarde a todos. Autorizei hoje as Forças Armadas dos Estados Unidos a começar uma ação militar limitada na Líbia em apoio ao esforço internacional para proteger os civis líbios. A ação começou agora.
Nesse esforço, os Estados Unidos estão agindo com uma ampla coalizão, que está empenhada em fazer cumprir a Resolução nº 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que apela para a proteção do povo líbio. Essa coalizão se reuniu hoje em Paris para enviar uma mensagem unificada [ao povo Lívio], que junta muitos dos nossos aliados europeus e árabes.
Não é isso o que queriam os EUA ou qualquer um de nossos parceiros. Ainda ontem, a comunidade internacional ofereceu a Muamar Kadafi a oportunidade de declarar um imediato cessar-fogo, que desse um fim à violência contra os civis e ao avanço das tropas. A despeito das palavras vazias do seu governo, Kadafi ignorou a oportunidade. Seus ataques contra o seu próprio povo continuaram. Suas forças avançaram. E o perigo enfretado pelo povo líbio cresceu.
Estou plenamente consciente dos riscos de qualquer ação militar, mesmo que lhe coloquemos um limite. Quero que o povo americano saiba que o uso da força não é nossa primeira escolha, e não é uma escolha que eu faça de modo leviano. Não podemos ficar de braços cruzados quando um tirano diz a seu povo que não haverá misericórdia, e suas forças intensificam os ataques a cidades como Benghazi e Misrata, onde homens e mulheres inocentes enfrentam a brutalidade e a morte nas mãos de seu próprio governo.
Então nós devemos ser claros: ações têm conseqüências, e o mandado da comunidade internacional tem de ser cumprido. É a razão de ser dessa coalizão.
Como parte desse esforço, os EUA vão contribuir com a nossa capacidade única de atuar no front, na missão de proteger os civis da Líbia e tornar possível a imposição de uma zona de exclusão aérea, que será comandada por nossos parceiros internais. E, como eu disse ontem, nós não vamos, eu repito, não não vamos atuar com tropas dos EUA em terra.
Como comandante-em-chefe, eu tenho grande confiança nos homens e mulheres de nossas Forças Armadas, que irão realizar esta missão. Eles carregam consigo o respeito de uma nação agradecida. Também estou orgulhoso de estarmos agindo como parte de uma coalizão que inclui aliados e parceiros que estão preparados para atender a sua responsabilidade de proteger o povo da Líbia e sustentar o mandato da comunidade internacional.
Eu agi depois de consultar minha equipe de segurança nacional e os líderes republicanos e democratas do Congresso. E, nas próximas horas e nos próximos dias, meu governo vai manter o povo americano plenamente informado. Mas não se enganem: hoje fazemos parte de uma ampla coalizão. Estamos atendendo ao chamado de um povo ameaçado. Estamos agindo no interesse dos Estados Unidos e do mundo.
Encerro
Pode-se cair na conversa de considerar que isso não é uma declaração de guerra, como quer Silva Pinto. Obama convocou as Forças Armadas para promover a paz e proteger civis. Afinal, não sendo Bush, ele é incapaz de fazer coisas feias, ainda que na defesa “dos interesses dos EUA e do mundo”.
O discurso também é um tantinho mentiroso. Até os democratas se abespinharam quando descobriram que Obama foi à guerra contra a Líbia, sem autorização do Congresso.
Se um dia Obama aparecer roubando o pirulito de uma criança, alguma o infante terá aprontado… Nem a imprensa americana está mais nessa. E faz tempo.