Direitos de alguns, direitos de todos e uma questão ao secretário de Segurança de Haddad. Ou: Se você não é minoria organizada, é só o primo pobre de um cachorro
Escrevi dois posts sobre o quiproquó com os skatistas na Praça Roosevelt, em São Paulo. Querem alguns que é assunto irrelevante. Não é, não. Trata-se de uma questão de civilidade e respeito, de que o país anda carente — no escritório da Presidência da República ou na praça. Os outros textos estão aqui e aqui. […]
Escrevi dois posts sobre o quiproquó com os skatistas na Praça Roosevelt, em São Paulo. Querem alguns que é assunto irrelevante. Não é, não. Trata-se de uma questão de civilidade e respeito, de que o país anda carente — no escritório da Presidência da República ou na praça. Os outros textos estão aqui e aqui. Inútil achar que a patrulha me intimida. Não dou a mínima. O caso, parece, também ilustra o modo como Haddad pretende governar a cidade. Se estamos diante de uma amostra ou de uma tendência, a maioria dos paulistanos será refém das minorias organizadas.
A praça, financiada com o dinheiro de todos os paulistanos, foi privatizada pelos skatistas. O fato de homens da Guarda Civil Metropolitana terem se comportado mal não torna certas as pessoas que estão erradas. É simples assim.
Roberto Porto, nomeado por Fernando Haddad para comandar a recém-criada Secretaria Municipal de Segurança Urbana, pasta a que está subordinada a GCM, afastou os policiais envolvidos, mandou abrir sindicância, emitiu nota de repúdio à atitude dos guardas e fez questão de deixar claro que não tolera ações como aquela. Que bom! Ele está certo! Só precisa tomar cuidado para não confundir o respeito legal que é devido por homens fardados — E É MESMO! — com um vício. Ele faz muito bem em se preocupar com os direitos humanos dos skatistas. Mas tenho uma pergunta ao doutor Porto: e os direitos humanos dos não skatistas?
Sei. Ele vai dizer: “Ah, essa pergunta é manjada!”. É, sim, mas segue sem resposta. Os skatistas continuam lá, passando como raio ao lado de crianças, a expulsar as pessoas comuns dos bancos — já que precisam realizar suas performances —, privatizando um equipamento público que pertence a todos os paulistanos.
Jader Junior, presidente da Ação Local, que defende os interesses dos usuários da praça que moram nas imediações, afirmou ao Estadão Online que, no sábado, um dia depois da confusão, um skate atingiu a cabeça de uma criança, que teve de ser levada para o hospital. Passei por lá hoje disfarçado de mim mesmo. A deterioração da área, entregue aos moradores há menos de quatro meses, em razão do uso inadequado é visível.
Pergunto ao doutor Porto: a Guarda Municipal que o senhor comanda é ou não capaz de conciliar o respeito aos direitos humanos dos skatistas com o respeito aos direitos, não menos humanos, dos demais usuários da praça? O senhor acredita ser possível assegurar os direitos da maioria sem agredir direitos da minoria?
Um método
Leio no Estadão:
“De acordo com o subprefeito da Sé, Marcos Barreto, uma reunião será marcada nos próximos dias com a GCM e os secretários da Segurança Urbana e do Verde e Meio Ambiente para discutir com a comunidade e o Conselho Gestor as regras que eles querem para o lugar. ‘É uma questão de ajuste’, garante.”
Huuummm… Posso ter entendido errado, mas acho que não. Até que não se faça, então, a reunião, os skatistas continuarão a ocupar toda a extensão da praça e a expulsar os seus frequentadores. Na cidade, sempre será parte legítima de uma demanda todo aquele que juntar uma turma e falar em nome de sua tribo, ainda que a despeito do direito de terceiros e de eventuais políticas públicas voltadas para a coletividade.
Aprenda, cidadão paulistano: se você não estiver ligado a alguma corporação — de ofício, esportiva, sindical, de lazer, escolha aí… —, você é um merda. Os direitos universais assegurados pela Constituição e eventualmente pelas leis não valem nada. Basta que um “representante” de alguma minoria se apresente como parte legítima de uma demanda, e só lhe resta calar a boca. Se o dito-cujo falar, então, em nome do “bem” (especialmente do bem futuro…), ele já ganhou.
Na madrugada de segunda, dois movimentos de sem-teto invadiram, sem prévio aviso ou qualquer outra tentativa de negociação com a Prefeitura, dois prédios na região central da cidade. Certo! Desde que o sujeito pertença a um “movimento”, de sem-alguma-coisa, de skatistas, de ciclistas, de defensor do planeta (escolham aí), pode-se invadir o prédio, a praça, a avenida, a calçada, a propriedade de terceiros…
Cada vez mais, mau negócio no Brasil é pertencer à maioria dos “sem-organização”. Não aparece um doutor Porto para dizer: “Não admito que os direitos dessa maioria sejam desrespeitados…”.
Doutor Porto, tenha a bondade de pedir a seus subordinados que garantam os direitos dos usuários da Praça Roosevelt sem desrespeitar a lei. Que desafio ousado eu lhe faço, hein? Como cobrar que um governo petista arbitre em favor da prestigiada maioria desorganizada, né? Ninguém liga para um sem-organização. É o primo pobre de um cachorro.