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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

DILMA ESTÁ DE PERUCA, E PARTE DA IMPRENSA ESTÁ PELADA

Fiz um comentário, num dos posts abaixo, sobre a novilíngua petista. É o idioma que todos eles falam, pouco importa o assunto. A ministra Dilma Rousseff deixou o hospital Sirio-Libanês nesta quarta. Felizmente, parecia estar bem, já recuperada dos efeitos colaterais da quimioterapia a que se submeteu. Negou que tenham decorrido do excesso de trabalho […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 17h36 - Publicado em 21 Maio 2009, 06h23
DILMA ESTÁ DE PERUCA, E PARTE DA IMPRENSA ESTÁ PELADAFiz um comentário, num dos posts abaixo, sobre a novilíngua petista. É o idioma que todos eles falam, pouco importa o assunto. A ministra Dilma Rousseff deixou o hospital Sirio-Libanês nesta quarta. Felizmente, parecia estar bem, já recuperada dos efeitos colaterais da quimioterapia a que se submeteu. Negou que tenham decorrido do excesso de trabalho ? e excesso de trabalho em quem enfrenta um câncer é uma virtude, não um defeito; é uma daquelas teimosias que nos induzem a admirar a têmpera dos bravos, dos guerreiros, dos lutadores.

Referindo-se à exploração política de sua doença, Dilma afirmou: “Eu acho de mau gosto misturar uma doença que é hoje curável com questões políticas. E acho que a própria população vai entender que isso não é adequado.” É mesmo?

Leitor (e, nesse caso, até os petralhas que dão plantão aqui podem colaborar), tente achar uma só frase, por mais remota que seja, de políticos da oposição que sugira a exploração da doença. Não há. Não existe. Ninguém toca no assunto. Ou melhor: há uma de Serra: “Eu acho de mau gosto misturar doença com política”.

Leiam esta fala:“Imagino que [o câncer] possa até fortalecer [a ministra] pela sua própria trajetória, pelos desafios que ela já venceu. Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país”.Quem falou essa indignidade? Fernando Haddad, ministro da Educação, no dia 27 de abril, num seminário na Fundação Getúlio Vargas, no Rio.

Agora leiam esta outra fala:

“Do ponto de vista médico, ela tira isso aí de letra. A doença reforça a candidatura. Eu, que já enfrentei situações parecidas, não tenho a mínima dúvida de que nossa ministra Dilma já se saiu bem desta, inclusive a coragem com que enfrentou, a franqueza. Ou seja, isso deve ter impactado muito bem na opinião pública do País”.
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Quem falou esta outra indignidade? Marco Aurélio Top Top Garcia, o assessor especial do presidente Lula, no dia 28 de abril.

E isto?
“Se você não rezava toda noite, agora trate de começar a rezar porque esse povo vai precisar muito de você daqui pra frente”.
É Lula falando a Dilma num palanque em Manaus, também no dia 27 do mês passado.

E a própria Dilma tem juntado, sempre numa mesma equação, a sua doença e a solidariedade do povo. Logo, quem é que está procedendo a uma deplorável exploração política do câncer? Por isso afirmo que se trata de uma caricatura da novilíngua orwelliana: fazer justamente o contrário do que se enuncia e se anuncia.

Peruquinha básica
A imprensa, com raras exceções, parece acuada. Franklin Martins e seus contínuos nas redações acusam a cobertura de “antipetista” e “preconceituosa”, e alguns tolos caem no truque. O homem, dê-se a mão à palmatória, tem sido eficiente no seu trabalho. É o Doutor Fantástico do terrorismo midiático. Ou os comandos das redações se dão conta disso e decidem reagir, ou, em breve, estarão enviando textos para a aprovação prévia de Franklin Martins. Alguns leporellos já fazem isso hoje em dia, mas ainda se trata de uma variante da “iniciativa privada”, se é que vocês me entendem…

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Querem um exemplo? As fotos publicadas no Correio Braziliense no Dia das Mães já deixavam claro que a ministra Dilma Rousseff estava usando peruca. Problema pessoal? Não é. Não quando se trata de uma ministra com a sua importância, virtual candidata do PT à Presidência, com enormes chances de ser eleita. Isso não é “problema pessoal” nem aqui nem em qualquer outra democracia. Doença de líderes e poderosos é assunto vetado na imprensa em regimes libertários como o da Coréia do Norte, de Cuba, do Irã ou da China.

Pois bem. Mesmo evidente, ninguém disse um miserável “a”. Eu mesmo reproduzi a página do jornal, que vai acima. Na legenda, limitei-me a um enigmático “As fotos recentes de Dilma publicadas pelo Correio: penteado bem diferente (clique na imagem para ampliá-la)”. O assunto só voltou a ser notícia quando Estadão e Folha publicaram uma foto com a peruca visivelmente fora do lugar ? e, ainda assim, falou-se de “indícios de que usava peruca”.

Daqui a pouco, estaremos como o Chico Buarque da ditadura quando se referia à falta de democracia:
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr

Temo perguntar ao Chico Buarque da democracia como poetizaria essa particularíssima forma de ditadura…

Imprensa acuada, sim. Imprensa que, hoje, em boa parte, é refém das correntes de difamação na Internet manipuladas pelo governismo e conduzidas por delinqüentes a soldo. Ontem, critiquei aqui o senador Aloizio Mercadante, que atacou a decisão de publicar as fotos. E, sendo quem é, ele prometeu vingança: “É inaceitável expor a individualidade e a feminilidade de uma pessoa como nesse caso. Daqui a seis meses vamos dar o troco”. Troco? Mercadante quer dar um troco na notícia.

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Hoje, a própria Dilma falou de sua “peruquinha básica”. Ah, bom. Então, agora, o assunto já foi liberado pelo “Comitê de Questões que Podem Ser Abordadas pela Imprensa”.

Os leitores mais jovens acreditem: na “Ditadura Esculhambada” (livro que Elio Gaspari ficou devendo), de Figueiredo, a imprensa, de modo geral, se movia com mais liberdade de espírito, sem precisar ficar provando para si mesma e para algum Tribunal do Santo Ofício que tinha bons propósitos. O infarto que quase matou o último dos generais presidentes ? num momento em que, com efeito, os destinos do país eram bem mais incertos porque posto numa moldura institucional completamente esgarçada ? foi noticiado com muito menos cuidados e dedos.

Sabem por quê? Porque a imprensa livre era considerada uma aliada da democracia. Hoje, os petistas, que tentam privatizar até a democracia, a consideram uma inimiga.

Texto publicado originalmente às 19h53 de ontem
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