Dilma é considerada ótima ou boa por 59% após um ano, diz Datafolha. E daí?
Por Bernardo Mello Franco, na Folha: A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Pesquisa Datafolha realizada na última semana mostra que 59% dos brasileiros consideram […]
Por Bernardo Mello Franco, na Folha:
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Pesquisa Datafolha realizada na última semana mostra que 59% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa — um salto de 10 pontos percentuais em seis meses. Outros 33% classificam a gestão como regular, e 6% como ruim ou péssima — cinco pontos a menos que na pesquisa de agosto. Não responderam 2% dos entrevistados. A nota média do governo é 7,2. Os números atestam que a presidente não teve a imagem afetada pelos escândalos que marcaram o início de sua gestão. Ela demitiu sete ministros em 2011, seis deles sob suspeita de corrupção.
Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Luiz Inácio Lula da Silva alcançou 42% e 50%, respectivamente. De acordo com o novo levantamento, a avaliação de Dilma melhorou entre homens e mulheres e em todas as faixas de idade, renda familiar e escolaridade. Sua aprovação agora é de 62% no eleitorado feminino e de 56% no masculino.
A presidente alcançou um equilíbrio entre os eleitores da base e do topo da pirâmide social. Tem 61% de ótimo e bom entre os que estudaram até o ensino fundamental e 59% entre os que chegaram ao ensino superior. Na divisão por renda familiar, o maior avanço foi na faixa de cinco a dez salários mínimos: 16 pontos de melhora, atingindo 61% de aprovação. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a chave para entender a evolução dos números nos últimos meses está na economia.
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A fatia de entrevistados que acredita que sua situação econômica vai melhorar subiu de 54% em junho passado para 60% neste mês. O otimismo sobre a economia do país foi de 42% para 46% no período. Em 2011, a inflação chegou a 6,5%, a maior em sete anos. A alta de preços atingiu o pico em setembro, mas agora segue tendência de queda. A imagem pessoal de Dilma também melhorou. Ela é considerada “decidida” por 72% dos brasileiros. Para 80%, ela é “muito inteligente”, e para 70%, “sincera”.
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Comento
Os índices são formidáveis para presidente que teve de demitir seis ministros sob suspeita de corrupção — e só não demitiu mais porque achou que tinha capital político, e tem, para não arrumar mais confusão na base aliada. A economia deu uma discreta piorada para o consumidor na comparação com Lula, mas nada que assuste. Continua fortemente ancorada no consumo, e a percepção é a de que tudo vai bem.
A oposição, como discurso alternativo, neste primeiro ano de governo Dilma, mal existiu. Procurou repercutir denúncias feitas pela imprensa e coisa e tal, mas é preciso bem mais do que isso. Se, no passado, não soube cuidar dos seus acertos, hoje, não consegue cuidar dos erros do governo. É claro que há exceções, como, para citar um, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), sempre muito atento.
Dilma deu a sua grande tacada quando se livrou da primeira leva de ministros-problema. É bem verdade que amplos setores da imprensa colaboraram, alimentando a imagem da presidente decidida, que é ombudsman do próprio governo. Ela é tratada como a gerente durona da máquina — 72% a consideram “decidida”. A presidente não cumpriu, nem minimamente, as promessas feitas para o primeiro ano. E daí?
Anteontem, lemos nos jornais que Dilma, vejam vocês, se opõe a cortes no Orçamento que atinjam áreas sociais ou que acabem refletindo no consumo e no emprego. Tem-se a imagem da mulher destemida que luta por nós “lá junto aos homens”. É a nossa protetora. Assim como nos protegeu ao demitir aqueles seis — que ela havia nomeado. É evidente que essas construções têm menos chances de prosperar quando encontram pela frente um discurso organizado de combate a mitos e mitologias. Mas não há nada parecido.
Concorre, finalmente, para essa avaliação positiva em setores onde o próprio Lula nunca conseguiu avaliação tão expressiva o fato de a presidente ter escolhido o figurino da sobriedade — há o risco de escorregões em período eleitoral, vamos ver. Os mais exigentes nunca tiveram muita paciência para as bazófias de Lula. Dilma optou pelo caminho da discrição. Fala pouco e conseguiu plasmar a imagem de que está sempre muito ocupada, cuidando do Brasil.
De fato, seu governo é lento, fraco. Mas só 6% acham isso, e, para um político, é o que importa. A menos que a crise internacional dê um tombo na economia brasileira — e não há essa perspectiva — ou que venha à luz um escândalo avassalador (ainda existe?), caminha para a reeleição (sim, sei que é cedo e coisa e tal). Ora, perguntem-se: quem lidera o contraponto no país, tornando audível a sua voz?
Encerro lembrando que, se Dilma tivesse dado bola àquele bando de puxa-sacos pagos com dinheiro público, teria mantido no governo todos os suspeitos. Preferiu, ao contrário, atentar para o que informa a imprensa séria, que aqueles vagabundos chamam de “golpista”. Ao fazê-lo, captou um sentimento que a canalha a soldo já não reconhece: indignação. Fez algumas demissões e consolidou a sua imagem de durona e austera. Esse foi o seu maior acerto até agora. O resto é pífio. “E daí?”, pergunta o petralha. “Você está nos 6%, Reinaldo!” Claro que sim! Numa democracia se tolera a crítica da minoria, não é mesmo?