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Reinaldo Azevedo

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Curió: “Amazonas e Elza fugiram e deixaram cada um por si e Deus para todos”

Por Leonencio Nossa, no Estadão: A Guerrilha do Araguaia, movimento armado na selva contra o regime militar, não marcou a memória dos que viveram nos anos 1970 nas grandes cidades. Nem poderia. A censura impediu que os brasileiros soubessem da existência de uma operação de guerra na floresta amazônica. No entanto, um personagem do lado […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 5 jun 2024, 22h00 - Publicado em 22 jun 2009, 05h55

Por Leonencio Nossa, no Estadão:
A Guerrilha do Araguaia, movimento armado na selva contra o regime militar, não marcou a memória dos que viveram nos anos 1970 nas grandes cidades. Nem poderia. A censura impediu que os brasileiros soubessem da existência de uma operação de guerra na floresta amazônica. No entanto, um personagem do lado da repressão, o oficial Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, 74 anos, virou mito antes mesmo que a história do conflito fosse revelada com detalhes. Com a redemocratização, Curió pôs a cara para bater e tornou-se o principal representante de uma legião de militares que acompanharam em silêncio a mudança de regime. Passou os últimos 30 anos em duelo com a esquerda, mas sempre recorreu a palavras moderadas para atacar e rebater acusações.
Foi como interventor do garimpo de Serra Pelada, nos anos 1980, que o líder populista de direita, como a esquerda o classifica, conquistou “massas” do sul do Pará e do sul do Maranhão, um feito que os adversários não realizaram.
O capítulo da história de Curió que mais desperta interesse de aliados e inimigos, no entanto, é anterior: é o Araguaia. “Esta é a parte mais delicada”, diz. Numa franqueza que impressiona até quem o conhece há anos, afirma: “Num arrozal, quando se capina, não se corta a erva daninha só pelo caule. É preciso arrancá-la pela raiz, para que não brote novamente.” Admite, parecendo falar para os companheiros de farda, que “este é o momento de revelar a história”.

O senhor concorda que o fim da guerrilha coincidiu com o início do latifúndio e o aumento da pobreza no sul do Pará?
No final do relatório da Sucuri eu escrevi: a repressão por si aniquila, destrói, acaba com o movimento guerrilheiro. Mas não acaba com o movimento da subversão. Isso só se conseguirá com ações de governo em benefício da população. Foi exatamente o que não ocorreu. É preciso entender também que não estamos falando do Pará de hoje, mas do Pará de sempre, um Estado sempre marcado por conflitos sociais.

Que lições o combate à guerrilha trouxe para as Forças Armadas?
As Forças Armadas não conheciam a Amazônia. Tivemos muitos ensinamentos. Eu fui para o Araguaia com o curso de guerra na selva. Mas aprendi muito com os guias, os mateiros. Também desenvolvemos ensinamentos estratégicos, de como lidar com a população. Nas primeiras duas campanhas, os guias não conduziam as patrulhas para alcançar os objetivos. Eles davam voltas na selva, não estavam interessados em levar as patrulhas aos locais onde estavam os guerrilheiros. Já na terceira campanha tivemos uma equipe de mateiros que trabalhou de forma correta. Passamos a conversar com os guias, dar o valor que eles possuíam. É preciso ter humildade. Com os guias, aprendi a sobreviver com um pedaço de rapadura e fígado de uma jabota. Aprimorei o que aprendi nos bancos acadêmicos. Eu fui preparado para a guerra, mas a prática é um pouco diferente.

O que é uma guerra de guerrilha?
Uma guerra convencional já é um terror. Pode haver alguma surpresa, mas é difícil ser surpreendido na retaguarda. Já numa guerra de guerrilha você não sabe quem é o inimigo. É uma guerra feia, terrível. Só o terreno, a selva, é um enorme obstáculo. Não é fácil se movimentar no igapó, passar 15 dias sem tomar banho, sem se alimentar direito.

Quais os erros do PC do B?
O PC do B deslocou para a área de guerrilha pessoas que tinham curso na China, mas sem experiência em combate e sobrevivência na selva. As lideranças do partido se deslocaram para a área, a Elza Monnerat e o João Amazonas, mas logo no início abandonaram aquela juventude na mata. A Comissão Militar da guerrilha, cujo chefe era o Maurício Grabois, não tinha planejado contato com o partido fora da área. Foi uma aventura do partido. Amazonas e Elza fugiram e deixaram cada um por si e Deus para todos.

E os erros das Forças Armadas?
Na primeira campanha, não tinha um comando centralizado. Era cada equipe por si, chegando ao ponto de ocorrer choques entre militares. Na segunda campanha, mandaram tropas constituídas de elementos não especializados em selva, vindas de Brasília e de Goiânia, que nunca viram a floresta. Depois, as Forças Armadas cometeram o erro político de mascarar o movimento contra a guerrilha como uma manobra militar. E o erro mais grave: montaram uma operação de envergadura sem organizar um trabalho de informações. Não se sabia quem era o inimigo. Então, foi organizada a Operação Sucuri. Eu fui o coordenador na área, na linha de frente. Em quase cinco meses de operação, conseguimos saber tudo sobre os guerrilheiros, seus hábitos, seus armamentos. Foi uma das operações mais bem realizadas na América Latina. Aqui

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