Cristo e o Red Bull. Ou: Maomé jamais apareceria tomando um energético
É… Eu adoro esses assuntos que lidam com temas como costumes, tolerância, preconceito etc — e melhor ainda quando eles tocam em temas religiosos. O Conar, vocês já leram, pediu que o Red Bull suspendesse uma propaganda que afirmava que Jesus Cristo tomava o energético. Abaixo, publico um vídeo que está no Youtube. Um outro […]
É… Eu adoro esses assuntos que lidam com temas como costumes, tolerância, preconceito etc — e melhor ainda quando eles tocam em temas religiosos.
O Conar, vocês já leram, pediu que o Red Bull suspendesse uma propaganda que afirmava que Jesus Cristo tomava o energético. Abaixo, publico um vídeo que está no Youtube. Um outro já foi retirado pela empresa. Caso este também saia, narro a cena.
Jesus Cristo está pescando, num barco, em companhia de Pedro e de outro apóstolo. Entediado porque os peixes não aparecem, decide ir embora e sai caminhando sobre as águas. Pedro se espanta: “Como você faz isso?” O que está no barco responde: “É que ele toma Red Bull”. Jesus então desmente: não é nada disso. É só saber pisar onde estão as pedras. Vejam o filme (que traz, advirto, interpretações e comentários que nada têm a ver com este blog).
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Não é uma propaganda feita no Brasil. Ela já tinha ido ao ar na África do Sul e igualmente suspensa. Na Itália, no fim do ano passado, Jesus também foi parar na campanha do Red Bull, como vocês verão, de modo um pouco mais sóbrio. Já falo sobre o assunto. Fiquemos no caso do Brasil. O Conar recebeu mais de 200 reclamações e concluiu que, de fato, a propaganda “fere a respeitabilidade religiosa”. Vamos ver. Cristo é aquele que multiplica os peixes. No comercial, ele não consegue nem pescá-los. Também é o que anda sobre as águas. Não no filminho. Era só um truque. Como ele faz essa revelação quando se fala nos milagres, fica subentendido que os demais também eram só artimanhas. Sim, é uma peça bem-humorada e coisa e tal, mas é desrespeitosa com a crença de milhões de pessoas.
Muitos babacas por aí estão criticando a chamada “intolerância dos cristãos”. Que intolerância? Onde? Reclamar ao Conar é um direito de qualquer um — inclusive dos cristãos. Inaceitável seria que o estado censurasse o filme. Não foi o que aconteceu. Tampouco os cristãos ameaçaram sair por aí matando os que foram jocosos com a sua crença. Noto, ademais, que seria até possível fazer a propaganda usando Cristo como tema — acho uma desnecessidade, dada a vastidão de referências disponíveis —, sem, no entanto, ofender elementos da crença.
Que fique claro: reclamar é um direito! No limite, os cristãos ofendidos podem simplesmente não tomar a bebida e pronto.
Itália
Na Itália, os publicitários que fazem a propaganda do Red Bull também decidiram apelar a uma cena cristã. Quatro Reis Magos, não três, chegam para visitar o Menino Jesus. Diante do espanto de Maria com o número, o “quarto” rei explica que ele é o que traz o Red Bull. E diz à mãe de Jesus: “Maria, Red Bull é um energético que dá asas. Como você acha que os anjinhos fazem para voar?” Vejam o filme. Volto depois.
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Voltei
Atenção! Embora o filme italiano seja mais brando, também foi retirado do ar. Assim, os que trouxeram a peça publicitária para o Brasil, estou certo, esperavam reação idêntica —« e é bem possível que contassem com isso. A área de publicidade e marketing tem dessas coisas. Já há alguns anos lida com a antipropaganda. Mais ainda com a massificação da Internet. O que se proíbe na TV costuma virar febre na rede.
Levar ou não a propaganda ao ar? Comecemos do começo: censura oficial jamais! Não cabe! Já a manifestação dos cristãos é absolutamente legítima — desde que nos padrões aceitáveis de civilidade. Mas eu fico cá me perguntando se os publicitários não conseguem vender seu peixe sem apelar a temas sensíveis a muita gente porque mexem com suas crenças e convicções. O legal não é necessariamente decoroso.
De resto, não ocorreria a ninguém sugerir que Maomé tomou um Red Bull antes de ter as suas revelações, não é? Os extremistas islâmicos, o que seria condenável, sairiam por aí botando fogo no planeta. A mansidão de espírito dos cristãos, no entanto, não lhes tira o direito de protestar. E foi só o que fizeram. Democraticamente.