COVARDIA E OPORTUNISMO
(Leiam primeiro o post abaixo) No meio dessa barafunda toda, o único que fala coisa com coisa é Ronaldo Fonseca, presidente do Conselho Político da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil: “O governo está se envolvendo em polêmicas desnecessárias (…). Não existe guerra santa aqui, e não é inteligente o Estado se preocupar […]
(Leiam primeiro o post abaixo)
No meio dessa barafunda toda, o único que fala coisa com coisa é Ronaldo Fonseca, presidente do Conselho Político da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil: “O governo está se envolvendo em polêmicas desnecessárias (…). Não existe guerra santa aqui, e não é inteligente o Estado se preocupar com símbolos religiosos, tombamentos e união de homossexuais. Isso é coisa de marxista.”
É o único que tem razão, mas, por óbvio, será visto como o dinossauro da turma pela boçalidade politicamente correta. Se tenho algum reparo a fazer à sua fala é um só: a polêmica é, sim, NECESSÁRIA… para os petistas!!! Ela é desnecessária para o Brasil. Para eleS, jogar brasileiros contra brasileiros e manter mobilizadas minorias para fazer barulho é parte do jogo, do proselitismo político. É da natureza do partido. Onde há conflito, eles extremam — vejam o caso das manifestações das vítimas das enchentes, que agora resolveram partir para o confronto. Onde não há, eles inventam. E há um outro aspecto interessante nessa história toda.
Eliminar os crucifixos das repartições públicas, por exemplo — e ninguém está cobrando que se coloque o símbolo nesses prédios; isso seria coisa bem diferente!!! —, seria um sinal da laicidade do estado. Mas e a regularização de áreas públicas tomadas por terreiros e mesmo o tombamento de alguns? Estamos ou não diante de uma interferência no estado na questão religiosa? Ou será que a “independência”, no caso dos crucifixos, deve se manifestar por meio da hostilidade, mas, no caso dos terreiros, pela proteção especial?
Aí dizem o esquerdista do calcanhar sujo ou o tonto que se quer, sei lá, um pensador pós-ideologias: “Ah, mas os terreiros são um sinal da religião do oprimido”. É? E o que isso tem a ver, hoje em dia, com a questão da propriedade ou com o tombamento, o que significa que o estado terá de dispensar recursos para manter aquele aparelho religioso? Se a religião é independente do estado, e é, o estado não tem de socorrer ninguém com especial proteção.
“Mas, afinal, Reinaldo, o que você quer? O que você defende?”
Eu defendo que a presença CULTURAL de religiões no Brasil não seja ignorada. O Terreiro do Gantois, na Bahia, é tombado. Isso significa que recursos públicos são mobilizados para mantê-lo. Não estou pedindo o fim desse, vá lá, privilégio. Reconheço a importância daquele ente na cultura local. Como reconheço a importância do cristianismo — ou, como querem alguns, do catolicismo — na cultura nacional. Nos dois casos, não vejo ameaça à laicidade do estado.
Ocorre que está em curso uma prática que tem eixo político. E ela consiste, como se tornou comum neste governo e como é próprio do petismo, em subtrair direitos das chamadas maiorias para doá-los às minorias. Em vez do caráter universal da lei, os petistas estão sempre ocupados em transformá-las em instrumentos de supostas correções de injustiças. Escrevo “supostas” porque essa prática 1) não corrige coisa nenhuma; 2) serve apenas como instrumento para o partido fazer política. Ou me digam qual é a lógica: será que as religiões de origem africana, por serem uma minoria extrema no Brasil — e isso é inegável — devem ter direitos que serão vedados à maioria?
Covardia e oportunismo
Covardes e oportunistas, como se vê, eles são. Tudo obedece ao calendário eleitoral. Agora, Dilma não quer mexer no assunto. Ora, se estão realmente afinados com o sentimento do povo, por que não avançam?
Volto ao pastor Fonesca. Um dos traços que caracterizam a moderna sociedade brasileira é a tolerância religiosa. Do mesmo modo, o fato de haver mais de 40% de mestiços no Brasil evidencia a tolerância — à falta de expressão mais adequada — racial. Injustiças certamente remanescem, mas vinham sendo, são e serão corrigidas sem estimular o confronto, o ódio e a chamada “discriminação positiva”.
Dilma só recuou na questão dos terreiros porque a proposta expõe o caráter francamente discriminatório do suposto Programa Nacional de Direitos Humanos: para uns, perseguição; para outros, privilégios.
PS – O texto fala numa certa Pastoral Afro-Brasileira. Não me perguntem o que é porque não tenho a menor idéia. Vai ver o cristianismo passa a ser outra coisa quanto muda a cor da pele do crente… “Ah, você não reconhece que os negros, cristãos ou não, ainda não atingiram a mesma condição dos brancos?” Mais ou menos: reconheço que a esmagadora maioria dos negros não tem as mesmas condições da minoria dos brancos e partilham as mesmas dificuldades da maioria destes. Aliás, a maioria dos negros têm muito menos recursos do que uma minoria de negros. O mesmo se diga dos mestiços… Entenderam? A questão é primariamente social, não racial. E a resposta a essa equação não está na religião.
Quando a Igreja Católica faz uma Pastoral da Criança, não há dúvida de que exerce o amor cristão. Uma Pastoral Afro-Brasileira é só a evidência de uma igreja contaminada pelo discurso do confronto, que pretende jogar brasileiros contra brasileiros.