Coréia do Norte. Ou: o coro dos anões morais
É mesmo uma pena que a CIA nunca tenha sido aquilo que dela se falava — aliás, os relatos dão conta de que sempre reuniu mais trapalhões do que seria prudente. Ou uma dos “agentes” já teria dado um pipoco na cabeça de Kim Jong-Il, o anão homicida que governa a Coréia do Norte. No […]
É mesmo uma pena que a CIA nunca tenha sido aquilo que dela se falava — aliás, os relatos dão conta de que sempre reuniu mais trapalhões do que seria prudente. Ou uma dos “agentes” já teria dado um pipoco na cabeça de Kim Jong-Il, o anão homicida que governa a Coréia do Norte. No momento em que se revela ao mundo que o país tem uma nova instalação de enriquecimento de urânio, a resposta vem na forma de uma provocação bélica: os norte-coreanos dispararam contra a ilha sul-coreana de Yeongpyeong, onde vivem entre 1.200 e 1.300 pessoas. Dois soldados morreram, e há 17 militares e três civis feridos.
O mundo que conta condenou unanimemente o ataque: EUA, União Européia, Rússia e até a China, a verdadeira garantidora do regime de Pyongyang. O mundo que não conta — Lula, por exemplo — preferiu ser acaciano, com, quem sabe?, uma centelha de flerte com a Coréia do Norte. Ele defendeu a soberania dos países (excelente!), condenou qualquer ataque (que bom!), mas quer mais informações, lembrando que a Coréia do Norte acusa a do Sul de ter atacado primeiro (como ele é equilibrado!).
A Coréia do Sul fazia exercícios militares nas águas da região no momento do ataque, mas nega que tenha efetuado disparos em direção à Coréia do Norte. Ainda que tivesse havido algum disparo, certamente teria sido acidental. O conflito não é de seu interesse. Mas Lula não sabe em quem acreditar: numa democracia, sujeita a inspeções internacionais, onde há liberdade de imprensa, partidos de oposição etc, ou numa tirania, no regime mais fechado do mundo, famoso por manter ativa uma fantástica máquina de guerra e matar a população civil de fome. O Brasil é o país cujo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que os críticos do Irã querem é aparecer… Lula é assim: quando a Coréia do Norte está metida num imbróglio, ele toma muito cuidado para não ser injusto…
Por que o regime norte-coreano ainda está de pé, ameaçando, provocando, esmagando o povo, deixando-o à míngua? Porque tem a bomba! Não fosse isso, já teria caído, e certamente o mundo seria um pouco mais digno e seguro. Quando, em nome do realismo, muita gente defende que o Irã faça a sua bomba na suposição de que será menos custoso condescender com o regime e buscar um acordo do que combatê-lo, faz-se, nesse particular, um convite para que surja uma nova “Coréia do Norte”, só que numa região um tantinho mais explosiva.
O curioso é que a reação à descoberta das novas instalações nucleares norte-coreanas foi bastante comedida. Só o Japão falou duro. Coréia do Sul e EUA tentaram minimizar o fato para não exacerbar os ânimos. A turma de Obama até tentou plantar na imprensa que a própria Coréia do Norte estaria interessada em superestimar seu potencial nuclear etc. Há uma certa tendência de achar que, caso se negue o perigo que o país representa, esse perigo diminui.
Há o que fazer? Não muito. A Coréia do Norte “pertence” à China, seu grande aliado. Pode não ser um desses parceiros que se exibem por aí, mas certamente o gigante reagiria a qualquer esforço para desestabilizar aquele regime e libertar milhões de cativos. Pequim é o esteio de um tirano homicida e instável, cujo único ativo é a chantagem nuclear. Até quando? Até quando Pequim quiser.