Conforme o roteiro, Amorim diz que Irã aceita acordo nuclear
Por Marcelo Ninio e Samy Adghirni, na Folha. Comento em seguida: Após quase 20 horas de negociação em Teerã, Brasil, Turquia e Irã finalizaram as bases de um acordo para romper o impasse em torno do programa nuclear iraniano. O acordo deve ser anunciado hoje, quando os chefes de governo dos três países se reunirão […]
Por Marcelo Ninio e Samy Adghirni, na Folha. Comento em seguida:
Após quase 20 horas de negociação em Teerã, Brasil, Turquia e Irã finalizaram as bases de um acordo para romper o impasse em torno do programa nuclear iraniano.
O acordo deve ser anunciado hoje, quando os chefes de governo dos três países se reunirão na capital iraniana. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou à Folha que uma fórmula foi alcançada para implementar a proposta da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que tem o objetivo de garantir que o Irã não produza armas atômicas. Ao final de um dia de negociações intensas entre os três países, que obrigaram o chanceler brasileiro a faltar a dois compromissos da visita do presidente Lula ao Irã, Amorim não escondeu que um acordo estava costurado.
“Há pequenas diferenças de linguagem. A fórmula está razoavelmente pronta”, disse o chanceler, que em seguida, chegou a receber os parabéns pelo sucesso da negociação do subsecretário-geral para Assuntos Políticos do Itamaraty, Roberto Jaguaribe.
A conclusão do acordo foi confirmada pelo chanceler turco, Ahmet Davutoglu. Questionado pela Folha, ele foi categórico. “Temos um acordo.” O chanceler se referia a uma proposta negociada desde o ano passado pela AIEA para conciliar a preocupação das potências ocidentais acerca do programa nuclear iraniano com o direito, assegurado pela ONU, de o Irã enriquecer urânio para fins pacíficos.
O plano prevê que o Irã envie parte de seu estoque de urânio pouco enriquecido para outro país e receba em troca o combustível enriquecido a até 20%, nível adequado para uso médico, mas não para a bomba. Temendo não receber o urânio de volta, Teerã impôs condições: que a troca fosse simultânea e acontecesse em território iraniano. As potências rejeitaram as exigências e ergueram uma frente diplomática no Conselho de Segurança (CS) para impor uma quarta rodada de sanções da ONU ao Irã.
Brasil e Turquia uniram esforços no CS, onde ocupam vagas rotativas, para ressuscitar o plano da ONU.
Detalhes do acordo
A Folha obteve uma cópia do esboço de acordo trilateral que deve ser finalizado hoje em café da manhã entre Lula, Ahmadinejad e o premiê da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que embarcou às pressas para o Irã na noite de ontem depois de ser informado sobre o êxito das conversas.
Pelo texto, o Irã enviaria 1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia. Em troca, EUA, Rússia e França se comprometeriam a entregar 120 quilos de combustível necessário para o reator de pesquisa de Teerã. O texto não deixa claro se essa troca seria simultânea, como Teerã queria, ou não.
Ontem, a Casa Branca confirmou à Folha ter recebido informações sobre o acordo, mas um porta-voz disse que seria preciso mais tempo para saber o que exatamente foi oferecido antes de fazer qualquer avaliação. Já o Departamento de Estado afirmou que só falaria sobre o assunto hoje. Antes da viagem, os EUA haviam demonstrado ver com ceticismo a possibilidade de que Lula conseguisse um acordo. Aqui
Comento
Era o esperado, não? Não era preciso esperar o “acordo” para comentar. Escrevi então:
Antes que acontecesse, já comentei o caso na sexta-feira:
“O Irã já rejeitou proposta idêntica à feita pelo Brasil, depois de ter dado sinais de que poderia aceitá-la. Rejeitou, fez testes com mísseis e admitiu a existência de instalações nucleares que não tinham sido previamente comunicadas à Agência Internacional de Energia Atômica. O pacifismo de Mahmoud Ahmadinejad é internacionalmente reconhecido…
Se o “Zóio Junto” combinar tudo direitinho com Lula, topa a “proposta” nada original do nosso Demiurgo, o mundo saúda um “acordo”, o nosso líder posa (Emir Sáder escreveria “pousa”) de pacificador, e os iranianos continuam a desenvolver o seu plano nuclear secreto para tentar obter a bomba. Afinal, como escreveu há dias a revista alemã Der Spiegel, já há a desconfiança de que o Brasil faça o mesmo…“
Diogo também já comentou o acordo antes do acordo, em sua coluna na VEJA:
“O Brasil é uma espécie de Macaé do mundo. Isso é uma sorte. Se o Brasil fosse a Inglaterra, Lula já estaria consagrado como o nosso Chamberlain. Sempre que alguém quer guerrear, surge algum pateta tentando ser intermediário da paz. Em 1938, o primeiro-ministro da Inglaterra, Chamberlain, viajou para a Alemanha para negociar olho no olho com Hitler. Depois de alguns encontros, eles assinaram um tratado de paz, pelo qual Hitler se comprometia a ocupar apenas uma parte do território da Checoslováquia. Chamberlain voltou à Inglaterra comemorando a paz. Seis meses mais tarde, Hitler atropelou Chamberlain e ocupou o resto da Checoslováquia. Em seguida, ocupou a Europa inteira.
Se Lula é o Chamberlain de Macaé, Mahmoud Ahmadinejad só pode ser o Hitler de Macaé. Como Hitler, ele mata seus opositores. Como Hitler, ele persegue as minorias. Como Hitler, ele tem um plano para eliminar todos os judeus. Só lhe falta o poder de fogo, porque um Macaé, felizmente, é sempre um Macaé. O papel de Lula é esse: dar-lhe algum tempo para que ele possa obter uma arma nuclear. Na semana passada, um articulista do Washington Post chamou Lula de “idiota útil” de Mahmoud Ahmadinejad. O articulista está certo. Mas há outros “idiotas úteis”, além de Lula. O G15, reunido neste domingo no baile funk iraniano, conta também com a Venezuela, de Hugo Chávez, com o Zimbábue, de Robert Mugabe, e com a Indonésia, de Susilo Bambang Yudhoyono, eleito pela Time, em 2009, uma das 100 personalidades mais influentes do mundo. Time é uma espécie de VEJA de Macaé.”
Concluindo
Por enquanto, a coreografia ensaiada por Lula e Ahmadinejad está dando certo para… Lula e Arhmadinejad. Essa é uma história longa. Está só no começo.