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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Como? Cientistas não querem um católico na Ciência e Tecnologia? Que os vigaristas tenham a coragem de pregar o fechamento de hospitais católicos e promovam a queima da imagem de Mendel, aquele padreco das ervilhas, ou de Descartes, aquele cretino!

Então vamos a Gabriel Chalita e aos ditos “cientistas”. Santo Deus! Se vocês me virem agarrado na rua ao deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), podem separar que é briga, não amor. E eu certamente estaria apanhando porque ele é fortão. “Quatro olho” não sabe brigar. Mas me obrigo a escrever um texto que muitos dirão […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h54 - Publicado em 7 fev 2013, 18h04

Então vamos a Gabriel Chalita e aos ditos “cientistas”.

Santo Deus!

Se vocês me virem agarrado na rua ao deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), podem separar que é briga, não amor. E eu certamente estaria apanhando porque ele é fortão. “Quatro olho” não sabe brigar. Mas me obrigo a escrever um texto que muitos dirão ser em sua defesa. Fazer o quê? Pretendo sempre ser justo, e essa profissão não é assim tão fácil. A Folha publica hoje uma reportagem de Natuza Nery que informa;

Setores da comunidade científica reagiram ao nome do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Diante disso, a presidente Dilma Rousseff informou a interlocutores que busca um outro lugar para o aliado. Pessoas próximas de Chalita disseram que ele próprio recebeu sinais recentes de que sua ida para o ministério já não é dada como certa. Nos últimos dias, interlocutores presidenciais acentuaram críticas de que o peemedebista, por ser muito religioso, misturaria os conceitos de ciência e fé à frente da pasta.”

Vamos ver
Procurei saber quais as restrições dos “cientistas” a Chalita. Não encontrei nenhuma na reportagem, a não ser o fato de ele ser “católico”. Também procurei as aspas, que reproduzem as falas dos ditos cientistas. De novo, não encontrei nada. Estamos diante de uma daquelas interdições que se espalham no éter, que fazem parte de uma metafísica política, tão real como intangível. Eu não tenho a menor simpatia pela atuação política de Chalita. Se um dia eu fosse governo, ele jamais seria o meu ministro. Mas vetá-lo para o Ministério da Ciência e Tecnologia porque é CATÓLICO? Aí não!

Cadê a cara desses cientistas? Onde eles estão? Por que não vêm a público para demonstrar a incompatibilidade entre um católico e a ciência? Por que não vêm a público pregar o fechamento de todas as PUCs do Brasil? Por que não vêm a público cobrar que todos os hospitais ligados a entidades católicas sejam fechados, em nome do bem da ciência e do povo brasileiro? Chalita pode não ser o mais indicado para a Ciência e Tecnologia, mas não porque é católico.

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Por que esses senhores anônimos não dão a cara ao tapa e promovem a queima simbólica do padreco Gregor Mendel (1822-884), que, na paciência do claustro, agarrado ao crucifixo, observando e cruzando as ervilhas, deu à ciência muito mais do que esses arrogantes sem nome, com sua sabedoria supostamente laica? Eu não gosto da atuação política de Chalita. Eu rejeito a sua abordagem sobre educação, por exemplo. Mas impedi-lo de ser ministério porque católico? Ah, tenham paciência! Não! Chalita não é, assim, um Mendel, eu sei. Mas quem disse que os que o recusam são Galileus Galileis? Ora, senhores cientistas, vão plantar ervilhas na beira do brejo para ver se conseguem ter, ao menos, um estalo interessante.

Um mundo em que me obrigo, de algum modo, a defender Chalita de um ataque obscurantista está caminhando, sem dúvida, para o abismo intelectual. Uma palavrinha, diga-se, chamou a minha atenção no texto da Folha. Chalita seria “muito” religioso. Pelo visto, é permitido, no máximo, ser um “pouquinho” religioso. Fico imaginando algumas notáveis cavalgaduras no Brasil a vociferar: “Descartes? Esse não passava de um bostinha católico!”.

Segundo informa a Folha, o nome de Chalita passou a ser cogitado para o Ministério do Turismo. Parece que, nesse caso, a atividade pode se conciliar com a fé. De certo modo, é bem feito pra ele! Foi o oportunismo político que o aproximou daqueles que, no fundo, o desprezam. Agora se vê desmerecido naquilo que um homem pode ter de mais íntimo e, em certa medida, pessoal: a sua fé.

Aborto
Na reportagem da Folha, outro trecho chama a minha atenção, a saber:

“Pessoas próximas ao deputado, porém, ponderam que ele é professor universitário e possui dois doutorados, apesar de seus laços estreitos com alas mais tradicionalistas da Igreja Católica.
Vem justamente daí sua aproximação com Dilma. Na campanha de 2010, ele foi fundamental para desfazer rumores de que era favorável ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Chalita também foi peça-chave na campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo em 2012
.”

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Vamos pela ordem em que se manifestam as confusões:
1: Chalita não tem “laços estreitos” com “alas mais tradicionalistas da Igreja Católica” porcaria nenhuma! Ele é próximo da chamada “Canção Nova”, um ramo do pentecostalismo católico, que, de “tradicionalista”, não tem nem a missa. Os movimentos carismáticos no catolicismo são essencialmente antitradicionalistas. Ou, então, é preciso redefinir o que seja “tradição”. A imprensa brasileira já teve jornalistas, vamos dizer, especializados em religião. Não tem mais. Deveria ter o bom senso, então, de deixar o assunto de lado. Em economia, exige-se que o repórter saiba ao menos distinguir a Taxa Selic de uma fatia de mortadela. Quando é o tema é religião, uma fatia de mortadela não se distingue da doutrina católica.

2: Como é??? Havia “rumores” de que Dilma fosse “favorável” ao aborto? Não! Havia e há fatos indicando que ela era e, suponho, ainda é (ou passou a achar a prática uma abominação?). A Folha sabe disso, como se vê no vídeo abaixo, no tempo em que a agora presidente ainda usava um capacete como penteado

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=DU6fYwtuQdI%5D

Nesse caso, falou em “descriminalização”. Numa entrevista à revista Marie Claire, defendeu mesmo a legalização. Assim:
“Abortar não é fácil pra mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização. O aborto é uma questão de saúde pública. Há uma quantidade enorme de mulheres brasileiras que morre porque tenta abortar em condições precárias. Se a gente tratar o assunto de forma séria e respeitosa, evitará toda sorte de preconceitos. Essa é uma questão grave que causa muitos mal-entendidos.”

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O católico Chalita, então, foi usado — e ele sabia muito bem o que estava em curso — para lavar as opiniões de Dilma e para tentar esconder o que ela de fato pensava. Naquele caso, o catolicismo do deputado foi útil para ajudá-la a chegar ao poder. Mas, como se vê, esse mesmo catolicismo não é bom para ajudar a governar.

3: Sim, claro!, Chalita ajudou a eleger o Supercoxinha — aliás, houve quase uma conspiração de Coxinhas, hehe.

Encerro
A Ciência e Tecnologia já esteve sob os cuidados de Aloizio Mercadante. Quando os morros vieram abaixo no estado do Rio, ele prometeu um sistema de radares, em prazo curto, que ia nos livrar dos diabólicos pesares. Até agora não aconteceu nada.

No Nordeste, os católicos continuam a rezar para que chova.

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No Sudeste, os católicos continuam a rezar pra que não chova.

No Palácio do Planalto, Dilma continua a rezar (ela é devota de “Nossa Senhora de Forma Geral”, lembram-se?) para que os reservatórios da hidrelétricas se encham d’água.

E os “cientistas” estão quietos. A ignorância, desde que laica, parece ser menos ameaçadora, não é? Finalmente, entendo por que ninguém reclamou quando o “bispo” Marcelo Crivella (da seita de Edir Macedo) virou ministro da Pesca, embora tenha confessado jamais ter posto “uma minhoca no anzol”. O símbolo primeiro do cristianismo, vocês sabem, é um peixe, e Crivella é evangélico… A relação está mais do que explicada. Ele era mais próximo da área, é certo, do que Ideli Salvatti, que agora pesca nas águas turvas das “Relações Institucionais”. Das “não institucionais”, quem cuida é Dirceu…

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