CNT-Sensus 3 – Tudo igual, mas um pouquinho diferente…
No dia 20, escrevi dois textos sobre os números do Datafolha, que seguem abaixo. O que há de essencial neles continua valendo. Com um adendo — ou dois: na pesquisa CNT-Sensus, Aécio caiu, e Dilma subiu, o que provocou o empate técnico entre os dois. Na espontânea, a petista aparece na frente do candidato mineiro […]
Datafolha, Ibope e CNT-Sensus registram, pois, o crescimento de Dilma — obviamente, o terceiro instituto lhe é bem mais favorável. A permanente exposição naquilo que os petistas chamam “mídia” parece estar surtindo efeito no seu caso. Aécio tem menos motivos para se animar. Volta-se a uma espécie de enigma que já abordei aqui: ele quer fazer as prévias porque tem votos ou, em busca de votos, quer fazer as prévias?
Finalmente, observo que a pesquisa demonstra uma elevação da capacidade de Lula transferir votos. Os leitores do blog sabem o que penso a respeito. Quando se falava na transferência nas eleições municipais, observei: “É bobagem! O eleitor sabe que o presidente não tem como decidir quem é mais eficiente para asfaltar ruas ou cuidar de creches. Mas há, sim, transferência de voto para candidatos ao mesmo cargo”.
Com a popularidade na estratosfera, apesar da queda, qualquer nome escolhido por Lula logo se torna uma candidatura forte. O embate será duríssimo. Dilma não é, efetivamente, uma mala muito fácil de carregar. Dada a sua exposição, poderia ter mais pontos do que tem. Mas vem crescendo. Mais uma razão para a oposição não fazer besteira. Cumpre notar, ainda, que a presença de Serra na imprensa nacional, especialmente na televisão, é INFINITAMENTE MENOR DO QUE A DA PETISTA. Quais seriam os números em condições de igualdade?
Seguem os textos do dia 20
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SOBRE A POPULARIDADE
Antes que continue numa análise que é política, cumpre observar que, com efeito, a dinâmica da economia brasileira faz com que o tombo do crescimento seja grande, mas, para as camadas mais pobres, o pouso tem sido e continuará lento. A crise faz cair a inflação, o que garante o poder de compra do salário mínimo, que voltou ao topo se medido em cesta básica. É evidente que isso tudo conta na avaliação positiva. E há, sabemos, o, chamemo-lo assim, talento de Lula para a política nas circunstâncias e condições em que ela é feita no Brasil (não esqueçam deste ponto porque vou retomá-lo adiante).
Tudo isso explica a pequena variação negativa no seu prestígio, elevadíssimo ainda assim. A questão nem tanto é saber por que caiu um pouco, mas por que continua tão alto. A resposta, nesse caso, é bem mais simples. Em primeiro lugar, a oposição não tem rosto, e os rostos personalizados da oposição, nas questões que contam, são quase todos variações em torno do mesmo Lula. Fica-se diante de um círculo que se vai auto-alimentando: ninguém bate em Lula porque ele é popular, e, em parte ao menos, ele é popular porque ninguém bate em nele. Jamais um presidente foi tão preservado de seus erros como o petista. O governo surge, inclusive em boa parte da imprensa, como aquele que só acerta.
Convenhamos: também esta não tem sido das mais críticas — parece haver um questionamento mais ou menos silencioso que poderia ser assim expresso: “Se a oposição não se opõe, por que a imprensa vai fazer esse trabalho?” Não é uma indagação infundada. Querem um exemplo? Há dois meses, Lula, Mantega e Dilma diziam que o país iria crescer 4%. Hoje, a expectativa oficial é de 2%, e poucos acreditam nela. Nem oposição nem imprensa cobram do governo o erro de análise. Unida, a nação se dá por satisfeita se não houver recessão. Essa passou a ser a nova medida do acerto. Numa variante do patriotismo, estamos todos contra a crise, é claro. E há um certo sentimento de que a convicção firme pode afastar o perigo. É mais fácil, em certos círculos, acreditar em pensamento positivo do que em Deus…
Isso é ruim?
Esse “patriotismo” nem é, em si, ruim. Mas convenham: é uma situação nova, não? Só Lula pôde experimentá-la. Como era com os outros presidentes — com FHC em particular? Quando foi que o PT, então na oposição, deixou de atribuir ao tucano a inteira responsabilidade pelas crises? Nunca! Elas estouravam lá fora, e logo se dizia que o Brasil padecia porque, por aqui, só havia ou incompetentes ou salafrários. Em cinco meses, vimos evaporar mais de 700 mil empregos. Mas não havia ninguém para encostar Lula na parede.
O PT CONSTRUIU UM LUGAR ÚNICO NA POLÍTICA BRASILEIRA, QUE LHE FOI FACULTADO PELAS LICENÇAS ESPECIAIS QUE LHE CONCEDEM OS ADVERSÁRIOS. Caso se eleja um tucano em 2010, e o país passe a enfrentar dificuldades vindas de fora, alguém aí dúvida de que os petistas botarão a boca no trombone, acusando o presidente de incompetência e/ou desvios éticos? Alguém aí duvida de que, fosse um tucano ou um democrata o presidente, as mais de 700 mil vagas fechadas teriam se transformado em passeatas da CUT, com acusações as mais severas ao mandatário?
Ninguém duvida. E não! Eu não acho esse um bom modo de fazer política. Essa é uma das minhas muitas contraposições ao partido — que, atenção!, nesse particular, continua rigorosamente o mesmo. “Sorte deles”, alguém diria. “Se são competentes no trato da coisa política, fazer o quê?” Não é bem assim. O uso, por exemplo, da máquina sindical para endossar governos aliados e atingir governos adversários é puro lixo ético.
Silêncio e 2010
Volto ao ponto. Que, dado o contexto, Serra e Aécio evitem enfrentar o governo — ou enfrentar Lula —, compreende-se. Que os oposicionistas no Congresso, o PSDB em particular, façam o mesmo, aí já me parece um caso de inapetência. O governo é senhor absoluto da agenda — e a crise, no que respeita à política propriamente, tem sido até positiva para o Planalto: o clima é de “não podemos nos dividir”.
Então 2010 já está no papo, e Lula faz seu sucessor, já que nem a nova desordem mundial parece abalar o seu prestígio? Bem, aí a coisa já é um tanto diferente. O tal “talento” de Lula, de que falo no segundo parágrafo, é um ativo político gigantesco, mas também traz contratempos. Ele é um fenômeno irrepetível. Transferirá, sim, parte do seu prestígio para o candidato (ou candidata) do governo, mas não tem um sucessor político natural. E não há como construí-lo artificialmente. Os petistas gostariam que a luta de 2010 se desse entre “o (a) escolhido (a) por Lula” e o anti-Lula, mas não creio que seja possível consolidar esse confronto, especialmente se o candidato das oposições for José Serra. Sua biografia política, vejam só, está mais ajustada à metafísica do social, tornada tão influente, do que a da própria Dilma Rousseff.
Mas que se note: o fato de o prestígio de Lula não implicar eleição fácil da candidatura que ele ungir não dispensa a oposição de fazer oposição. Se continuar de bico calado, os eleitores ficam sem distinguir cítara de flauta, como diria o Apóstolo Paulo.
SOBRE 2010
No ninho tucano, Aécio empacou. Ele também não pode reclamar de falta de visibilidade — ou de mídia, como se diz por aí. Poucos têm a sua destreza para ganhar notícia. Começará, agora, as andanças em favor das prévias. Vamos ver os efeitos. Se os números insistirem nessa magreza, ficará difícil a sua exigência de prévias não se parecer com uma birra. Afinal, uma coisa é exigir prévia porque se tem voto; outra é exigir prévias para tentar conseguir votos.