Chorar, lamber…
Vejam vocês… O que começou aqui quase como uma brincadeira acabou mesmo denunciando um cancro no mundo das letras e suas companhias — nem sempre muito respeitáveis. A. P. Quartim de Moraes, “editor associado” da Global Editora, resolveu entrar na polêmica. Em socorro de Chico Buarque e da Cia. das Letras, naturalmente. Escreve hoje no […]
Vejam vocês… O que começou aqui quase como uma brincadeira acabou mesmo denunciando um cancro no mundo das letras e suas companhias — nem sempre muito respeitáveis. A. P. Quartim de Moraes, “editor associado” da Global Editora, resolveu entrar na polêmica. Em socorro de Chico Buarque e da Cia. das Letras, naturalmente. Escreve hoje no Estadão um artigo intitulado “Chorando sobre o leite derramado”. O trocadilho, por óbvio, deveria ter sido evitado; uma vez praticado, há de me fornecer o fecho do post.
Confesso que gostei do artigo do rapaz (íntegra aqui). Como advogado da decisão da turma do Jabuti, Quartim expôs como ninguém a natureza do cágado. O link com a íntegra vai ali para que não digam que retirei trechos do contexto.
A premiação é política? Quartim responde:
“Antes de mais nada, é preciso atentar para o óbvio: o julgamento de obras de criação artística, de qualquer natureza, está sempre sujeito a enorme componente de subjetividade, seja porque não há cânones absolutos e definitivos, seja porque cada pessoa enxerga a obra de arte com seus próprios olhos, através dos filtros de seus valores e de sua sensibilidade. Além disso, todo julgamento dessa natureza, por mais justo e objetivo a que se proponha, está sempre suscetível de ser de alguma maneira influenciado por um contexto mais amplo no qual o ato de julgar se insere. Para ser mais explícito: nenhuma premiação artística deixa de ser, umas mais, outras menos, também, “política”.”
Fico satisfeito com a resposta. Dada a metafísica influente, ele está afirmando, sim, que os ditos “progressistas” sempre levarão uma ainda que ligeira vantagem. Por conta de sua literatura? Não!
Há o risco de o prêmio estar, assim, contaminado por um certo “buarquismo inercial”? Quartim responde:
“De resto, tanto Chico Buarque de Holanda quanto sua editora, a Companhia das Letras, são notórios colecionadores de prêmios literários. Dos quatro livros que escreveu, Chico já tinha tido dois, Estorvo, em 1992, e Budapeste, em 2004, eleitos Livro do Ano/Ficção. Não chega a ser surpresa, portanto, que tenha agora emplacado um terceiro, até porque repetiu a dose no Portugal Telecom. A Companhia das Letras, por sua vez, em 20 anos de Livro do Ano, ganhou 13 vezes, oito em ficção e cinco em não ficção. Sua participação no Portugal Telecom é ainda mais expressiva: em oito anos e 25 premiações, foi laureada nove vezes, seis das quais em primeiro lugar.”
Fico satisfeito com essa resposta também. Quartim aprendeu lógica na mesma escola em que Fidel Castro teve aula de democracia. Depois de admitir certo caráter político da premiação, ele acredita que o fato de Chico ter ganhado dois dos três Jabutis que disputou o habilita, naturalmente, a ganhar o terceiro. É um espanto! Agora só falta a Cia. das Letras publicar a grande fortuna crítica, acadêmica, sobre a obra de nosso romancista maior, que ainda vaga, solitária, num grande deserto de idéias. A tarefa poderia ficar por conta da Global Editora. Ah, sim: Quartim atribui tanta premiação à competência de seu amigo Luiz Schwarcz.
Como vocês vêem, com seu clichê e tudo, Quartim concorda comigo, não é mesmo? Ele ironiza os que, segundo ele, choram sobre o leite derramado. Dado o leite derramado de Chico, ele não se conforma que haja quem se negue a lambê-lo.
*
PS: Neste momento, são 8.437 os signatários da petição “Chico, devolve o Jabuti”. Leia, assine e divulgue: aqui. Como se lê acima, eles próprios confirmam o caráter político da premiação.
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