“Charlie Hebdo” trará Maomé na capa, com uma lágrima nos olhos
A próxima edição do “Charlie Hebdo”, que chega às bancas na quarta-feira, trará uma vez mais um desenho de Maomé, o profeta do islamismo. Ele aparece segurando um cartaz com a frase que acabou se transformando numa espécie de símbolo da resistência ao fascismo islâmico: “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie). Acima do desenho, a […]

A próxima edição do “Charlie Hebdo”, que chega às bancas na quarta-feira, trará uma vez mais um desenho de Maomé, o profeta do islamismo. Ele aparece segurando um cartaz com a frase que acabou se transformando numa espécie de símbolo da resistência ao fascismo islâmico: “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie). Acima do desenho, a expressão: “Tout est pardonné” — “Tudo é perdoado”. Atenção! Essa edição especial, que circulará em vários países, está sendo multiplica por 50! Isto mesmo: o jornal imprime habitualmente 60 mil exemplares; desta vez, serão 3 milhões. Vejam a charge.
Como se nota, uma lágrima verte dos olhos do Profeta. Neste ponto, é preciso indagar: “Mas, afinal, o que é que os islâmicos rejeitam? Um desenho que ofenda Maomé?”. A resposta é “não”. O que autoridades religiosas mundo afora têm proibido é qualquer representação do líder religioso porque isso constituiria uma forma de idolatria. O veto está no Alcorão, o livro sagrado da religião? Também não! O que lá se condena, insista-se, é a idolatria. Absurdo, isto sim, é considerar que uma charge é uma forma de adoração de imagem. Mas ainda que assim fosse, a interdição corânica vale para os muçulmanos.
O desenho de agora, obviamente, não é ofensivo e se pode dizer que, em certa medida, até alivia a carga negativa associada ao islamismo à medida que o Profeta diz também ser Charlie — e, pois, repudiar o atentado, numa admissão tácita de que a violência perpetrada é obra do terrorismo religioso, não da fé religiosa.
Alguém poderia objetar: “Ah, trata-se de uma provocação, de uma desnecessidade”. Será mesmo? Nas várias democracias ocidentais, e cada uma à sua maneira, religião e política podem até estar imbricadas, manter relações de parentesco, mas já não se misturam. Não só isso: também é permitido não ter religião nenhuma e declarar que Deus está morto.
Os vários ramos e subcorrentes do islamismo podem até achar isso um horror, um equívoco e mesmo uma agressão a Deus. Mas não têm licença para matar. Aceitar essa interdição corresponderia a aceitar uma próxima, e outra, e outra mais. Até quando? Em que momento se deve dizer: “Ah, a partir de agora, já não podemos mais ceder”? Ora, em matéria de liberdade de expressão, não se deve conceder é nunca. Os ofendidos sempre poderão encontrar a Justiça, e os ofensores, os braços da lei. É assim que as coisas funcionam nas democracias.
E as democracias ocidentais escolheram o caminho da liberdade, não da ditadura religiosa.
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