O ex-tucano, ex-socialista e atual peemedebista Gabriel Chalita, que escreve livros como quem espirra, espalha a fantasia de que foi tangido do PSDB pelos serristas, que, parece, seriam insensíveis a seus talentos. Mas notem: se isso fosse verdade, a turma, então, lhe teria feito um favor. Havia uma alma socialista sendo torturada no corpinho de um tucano. Do alto de sua cinematográfica cobertura em Higienópolis, ele contemplava o “povo diferenciado” e pensava: “É preciso distribuir melhor a poesia”. Para mudar de ave, ao deixar o partido, ele pôde, metaforicamente falando, soltar a franga ideológica, descobrindo a sua real natureza. Encontrou-se, em princípio, no socialismo do PSB. Mas era pouco. Seu destino era aninhar-se no lulismo.
O deputado convidou Lurian da Silva, filha de Lula, para ser sua assessora. Ela é sua companheira na “Canção Nova”, uma corrente pentecostal da Igreja Católica, e tem, diz o deputado, “muita sensibilidade social”. Entendo. Lurian poderia, na verdade, ser uma espécie de enviada de Chalita ao mundo, aos gentios, né? Afinal, goza do benéfício escandaloso do passaporte diplomático.
Chalita, um dia, haverá de ser objeto de investigação acadêmica. Enquanto foi secretário de educação de Alckmin, em São Paulo, era impiedosamente criticado pela imprensa paulista. Nada escapava: sua gestão ou seus livros, cuja cafonice é, com efeito, constrangedora. Bastou que esse Georges Simenon da auto-ajuda descobrisse que, em seu peito, batia um coração esquerdista, e as críticas cessaram; passaram a levá-lo a sério. “E você, Reinaldo? Não o elogiava antes e passou a criticá-lo só depois que deixou de ser tucano?” As respostas são estas: “Nunca!” e “Não!”. Há pecados que nunca cometi. Jamais fui um “sochialita”. Já relatei aqui: num consultório, enquanto aguardava, entre exemplares de revistas “Caras” e “Quem”, encontrei um livro de Chalita. Folheei. Fiquei traumatizado.
Chalita e Lula juntos! Por uma questão de justiça — e eu procuro sempre ser justo —, é preciso reconhecer que as diferenças persistem. Lula é um pensador muito mais agudo.
Ai, ai… O cenário da disputa eleitoral na cidade de São Paulo é bastante incerto. Mas fico cá pensado num desfecho um tanto trágico: um eventual segundo turno entre Marta e Chalita. O que fazer? Não sei os demais paulistanos… Eu vou pra praia.