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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Chalita e “aquele homem que cuida há 40 anos das abóboras”

Gabriel Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, não gosta de mim faz tempo, desde quando era tucano (depois disso, ele já foi socialista)… Não posso condená-lo e entendo seus motivos. Mexo com a sua vaidade e costumo evidenciar as bobagens que diz, motejando de sua falsa profundidade. Como ele pretende ser reconhecido […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h08 - Publicado em 14 ago 2012, 18h17

Gabriel Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, não gosta de mim faz tempo, desde quando era tucano (depois disso, ele já foi socialista)… Não posso condená-lo e entendo seus motivos. Mexo com a sua vaidade e costumo evidenciar as bobagens que diz, motejando de sua falsa profundidade. Como ele pretende ser reconhecido como um intelectual, não como padrinho de festa de debutantes do pensamento, fica agastado. Como sabe que vou votar em José Serra (PSDB), acusa-me de ser o braço terceirizado de um de seus adversários. Huuummm… Entendo. Acha impossível que alguém possa discordar dele em razão de suas qualidades — ou da falta delas. Coisas da vaidade.

Leio na Folha Online que, na sabatina do UOL de que participou, defendeu que a cidade arranje recursos para Woody Allen fazer um filme sobre São Paulo. O cineasta americano, dono de obra respeitável, optou, a essa altura da vida, como sabem, por fazer releases cinematográficos, mas para pessoas inteligentes. Qualquer outro seria só um tolo mercenário; ele representa a reinvenção do mecenato. Então tá. Não vou entrar nisso agora. Indagado sobre as paisagens urbanas que gostaria de ver retratadas no filme de Allen, Chalita citou o Ceagesp, o Mercado Municipal e a Represa Guarapiranga. E poetizou:
“É fascinante [ir ao Ceagesp]. Você fica ouvindo a história de vida das pessoas. Aquele homem que cuida há 40 anos das abóboras”…

Não sei o que quer dizer essa frase nominal. Noto que há um frêmito que pode conduzir à poesia, aquela extraída das coisas, da materialidade da vida, em que se especializou, por exemplo, a mineira Adélia Prado. Percebo que o pensador pretende alçar esse homem das abóboras a uma espécie de metafísica do cotidiano, elevando o anônimo à condição de verdadeiro agente da história. Mas lhe faltaram fôlego teórico e a iluminação poética que faz o Pégaso meter os cascos na Fonte de Hipocrene, de onde jorra, então, aquela cascata de metáforas… Fico pensando nas suas plateias habituais, tentando entender o significado oculto do homem das abóboras. No próximo livro, o 9.856º da carreira, ele explica o que quis dizer.

Santo Deus!

Kit gay
Em sabatinas assim, especialmente num portal “progressista” como é o UOL, sempre é preciso discutir temas como o kit gay (“anti-homofobia” em politiquês-corretês) e aborto. São temas pertinentes, sim, embora se refiram a áreas que não são primordialmente da Prefeitura. De todo modo, o prefeito da maior capital do país, um das três maiores cidades do mundo, tem o que dizer a respeito porque o município administra uma infinidade de escolas e responde por boa parte do atendimento à saúde da mulher. Muito bem.

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Ele se disse favorável ao kit gay, mas não àquele que foi produzido por Fernando Haddad, que considerou de “mau gosto”. Mau gosto? De que natureza? Estético? Pedagógico? Moral? O Chalita que quer ser candidato de Alckmin e de Dilma ao mesmo tempo também quer ser a favor do kit e contra ele, também ao mesmo tempo. O que precisaria ser mudado? O que havia de errado com aquilo? O material opta pelo proselitismo escancarado. Ele é contra ou é a favor? Segundo o texto da Folha Online, o tema “acirrou os ânimos” da plateia. Não sei o que se quis dizer com isso. Mas é fato que gente que dispõe de tempo para participar de uma sabatina em plena terça-feira costuma pertencer a setores mobilizados de opinião, a militâncias… No geral, trata-se de pessoas bem pouco tolerantes com aquilo de que discordam. Para não chatear a plateia, mas também não se comprometer com uma fatia do eleitorado, ele não foi nem contra nem a favor…

Indagado sobre a posição da Igreja a respeito do homossexualismo, informa a reportagem que ele demonstrou irritação: “Pergunta para o papa”. Heeeinnn? Como assim? O que custa Gabriel Chalita afirmar que as religiões têm o direito de pensar o que lhes der na telha a respeito dos mais variados temas e que as orientações morais e religiosas que passam são dirigidas a seus fiéis e não têm poder de lei? Por que Chalita não indagou aos repórteres — ou a quem lhe tenha dirigido a pergunta — por que seria imperioso que a Igreja Católica tivesse uma opinião favorável? Posso até discordar — e discordo — da posição da Santíssima Madre sobre o tema, mas o que custa a um político deixar claro que tanto quanto o Estado não é obrigado a assumir as posições de uma religião, uma religião não tem de se subordinar a políticas de estado? Ocorre que os políticos — e esse mal não é só de Chalita — têm medo de dizer o que pensam. Quanto mais anódinas forem as opiniões, melhor.

Aborto
No que concerne ao aborto, a coisa piora. A opinião que expressou, sendo verdade o que informa a Folha Online, beira o cretinismo. E, aí sim, tenta contornar, desta feita de modo grave, um fundamento de sua religião declarada ao menos. Para ele, não se trata de uma questão religiosa. E mandou ver: “Tudo o que é contra o direito à vida não há recepção possível no ordenamento político brasileiro.” Vertido isso para um português mais inteligível, ele diz uma verdade. É o que eu também entendo sobre a Constituição. Mas há, sim, senhor!, a questão religiosa. Para um católico — e é assim que ele se apresenta —, há.

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Mas, de novo!, há o medo da plateia, não é? Como enfrentar a, aposto!, maioria presente favorável ao aborto? Não que faltem argumentos a um bom católico — não vou aqui abrir um bolsão para debater o tema; já escrevi muito a respeito — para combater a cultura da morte. Não que faltem números objetivos demonstrando as mentiras da militância abortista. Mas o homem que quer ser Alckmin e Dilma e que quer ser contra o kit gay e a favor também se mostra contrário, mas não muito, ao aborto, preferindo fugir do mérito e se esconder na questão legal.

Patrimônio
Chalita também tentou explicar a milagrosa multiplicação de seu patrimônio. Em 2000, era de R$ 741 mil. Em 2008, já havia chegado a R$ 7 milhões. A aceleração verdadeiramente vertiginosa se deu entre 2008 e 2011: alcançou a marca dos R$ 15 milhões. Como? Aos sabatinadores do UOL, ele atribuiu tudo à herança familiar e à venda de livros: 10 milhões de cópias, segundo ele, o que ninguém consegue comprovar nem com reza braba. Basta fazer uma pesquisa para constatar que ele não é um assíduo frequentador das listas de mais vendidos. Quando entra, fica um tempinho e sai. Como já demonstrou reportagem de VEJA, a marca o colocaria à frente de J.K. Rowling, autora da série Harry Potter (3,6 milhões de exemplares vendidos no Brasil), e próximo de Augusto Cury, fenômeno editorial da década (11 milhões de livros vendidos desde 2002). Não há um só editor ou especialista na área que confie nesses números. Reproduzo trecho da reportagem:
“A pedido de Chalita, suas editoras também não divulgam os seus números de venda. Uma espiada nas planilhas da rede de livrarias Saraiva, no entanto, autoriza a suspeita de que o cálculo não é o forte de Chalita. Considerada um termômetro do mercado editorial, a Saraiva negociou apenas 70.000 exemplares do autor nos últimos três anos.”

Eu não tenho explicação para a multiplicação de seu patrimônio. Pelo visto, a melhor que ele consegue encontrar são os livros. Quanto à herança… Ele costumava evocá-la quando precisa justificar o patrimônio e “costuma ter sido” (se me permitem a construção estranha) um menino pobre, que vendia “geladinho” em jogo de futebol, quando isso interessa. Já escrevi a respeito.

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É por aí… O homem que quer financiar um filme de Woody Allen sobre São Paulo já comparou, numa palestra que deu nos EUA, as favelas do Rio à costa da Grécia:
“Algumas favelas se localizam nas áreas mais bonitas da cidade, então as pessoas estão comprando esses barracos e transformando em casas. Analistas dizem que várias dessas favelas estão parecendo com a Grécia pela beleza do oceano, pela montanha e [por] como as casas vão ficando bonitas.”

Não sei que especialistas são esses. Acho que, de novo, era só o Pégaso rondando Hipocrene. “E as ideias de Chalita?” Quais?

Agora vou refletir sobre aquele homem que cuida há 40 anos das abóboras.

Que tempos estes, não?

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