O PT é perigosamente previsível. Ué, se é previsível, então por que é perigoso? Porque quem alerta para as suas artimanhas corre o risco de virar uma Cassandra. A figura quase sempre é evocada de forma equivocada nos discursos. O sujeito diz: “Não quero ser uma Cassandra…” Ou, então, diz-se de um adversário: “As Cassandras […]
Por Reinaldo Azevedo
Atualizado em 31 jul 2020, 23h22 - Publicado em 2 ago 2006, 20h47
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O PT é perigosamente previsível. Ué, se é previsível, então por que é perigoso? Porque quem alerta para as suas artimanhas corre o risco de virar uma Cassandra. A figura quase sempre é evocada de forma equivocada nos discursos. O sujeito diz: “Não quero ser uma Cassandra…” Ou, então, diz-se de um adversário: “As Cassandras do caos etc.” Como se a coitada fosse símbolo de pessimismo ou mau agouro. Ocorre que ela sempre estava certa. Para quem não sabe, a filha de Príamo, o rei de Tróia, tinha o dom da profecia, que lhe foi concedido por Apolo (numa das versões ao menos), a pedido seu. A moça fez troça do presente, e o deus, zangado, aplicou-lhe uma pena terrível: ela anteveria os eventos, mas ninguém acreditaria nela. A pobrezinha opôs-se à entrada do cavalo — aquele — muro adentro na cidade. Não lhe deram ouvidos. Era tida por louca. Entregue ao grego Agamenon como espólio de guerra, pediu-lhe que não voltasse para casa. Não foi ouvida de novo. Resultado: o homem foi morto pela mulher, Clitemnestra. A Mitologia Grega é milhares de vezes mais divertida do que o PT. Mas há o ofício, não é? Fazer o quê? Os que têm advertido para o caráter autoritário, totalitário mesmo, do PT são vistos com certa desconfiança. E os petistas, no entanto, sempre avançam. Agora vem essa conversa de Constituinte. Chávez tornou-se um ditador da Venezuela só dando golpes constitucionais. Tenho vontade de recuperar aqui o texto de certas reputações do jornalismo que diziam não ver nada de errado com o presidente da Venezuela — afinal, diziam eles, ele faz tudo por meio do voto. Como se não fosse possível solapar a democracia seguindo seus rituais. O índio de araque que governa a Bolívia acaba de fazer o mesmo. Ah, mas aí vêm os troianos dizendo que Cassandra tem de ser encarcerada: “Ora, no Brasil temos partidos fortes; não há esse risco”. A questão não é essa. Quem entrega ao Executivo a possibilidade de comandar uma Constituinte com a reputação do Congresso no chão está flertando com o perigo. É bom lembrar que, a despeito de tudo, a de 1988 foi feita por um Congresso que tinha alguns dos símbolos da decência política do país. O máximo de esquisitice que se tinha ali era o tal “Centrão” — quem ainda se lembra? O ápice da estranheza segundo alguns critérios mais rígidos era Roberto Cardozo Alves, o famoso da Lei de São Francisco: “É dando que se recebe”. Hoje, ele seria saudado como um moralista radical. Robertão, perto de Berzoniev, era um monge trapista. Constituinte agora? É preciso matar essa idéia na raiz. A OAB prestaria um excelente serviço de desse um jeito de coibir a atuação de advogados bandidos.
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