Caso Varig 2 – Lap Chan agora fala pelos cotovelos
Lap Chan, sempre tão silencioso, ficou loquaz de repente. Começou a falar pelos cotovelos. Concedeu ontem entrevista a Roberto Kovalick, correspondente da TV Globo em Nova York, reproduzida no Jornal Nacional e no Jornal da Globo. Também falou a Daniel Bergamasco, da Folha. Leiam. Volto depois: No Jornal da GloboLap Chan nasceu em Hong Kong […]
No Jornal da Globo
Lap Chan nasceu em Hong Kong e passou a infância e a adolescência no Brasil. Tem cidadania britânica e agora mora em Nova York.
Dois anos atrás, como representante do fundo americano Matlin Patterson, ele conduziu a compra da Varig, ao lado de três sócios brasileiros.
Lap Chan nega que tenha havido influência do governo no negócio. “Jamais. O processo da Varig foi feito dentro de uma lei de recuperação, foi aprovado pelos credores, pelos órgãos regulatórios e foi feito num leilão”, afirma.
JG: E essas acusações da ex-diretora da Anac de que integrantes do governo agiram para beneficiar a compra da Varig pelo fundo?
Lap Chan: Isso para mim é mentira. Nunca tive contato com a Denise. Todas as assessorias que temos no processo foram conduzidas pelos nossos advogados contratados.
Um dos advogados é Roberto Teixeira, acusado pela ex-diretora de usar influência para pressionar a agência a permitir o negócio.
JG: Ele foi contratado porque é compadre do presidente Lula?Lap Chan: Não. Ele foi contratado porque ele tem experiência de fazer o que a gente precisava fazer, que é um processo de recuperação que tava sendo feita para a Varig naquela época.
JG: Vocês pagaram cinco milhões de dólares para ele?
Lap Chan: Não.
Ele reconhece: os três sócios brasileiros entraram no negócio sem gastar nada. Adquiriram ações da empresa, que comprou a Varig com dinheiro de um empréstimo, intermediado pelo Matlin Patterson.
JG: Eles eram laranjas?
Lap Chan: Não, não eram laranjas. Eles estavam administrando essa empresa. A lei fala que as ações votantes tem que estar 80% nas mãos de brasileiros, 80% das ações votantes estavam na mão de brasileiros. Nas mãos dos três. Não burlamos a lei.
Na Folha de São Paulo (trechos)
FOLHA – Na sociedade para comprar a VarigLog, os brasileiros entraram com menos dinheiro e ficaram com 80% do controle da empresa. Qual é a lógica desse negócio?
CHAN – Nós ficamos com 100% das ações preferenciais. A lei não permite que a gente tenha mais de 20% das ações ordinárias para controlar a empresa. Por causa disso que a gente entrou nessa parceria.
FOLHA – Os brasileiros entraram como laranjas no negócio?
CHAN – Você acha que eu estaria numa disputa societária se eles fossem laranjas? Não, é claro que não.
FOLHA – Somando entrada e saída de dinheiro, qual é o status do negócio para o fundo?
CHAN – Vamos perder dinheiro com a operação.
(…)
CHAN – Foi um equívoco do juiz. O dinheiro continua na conta da Suíça. Digo, já saíram quase US$ 20 milhões para voltar para recuperar a VarigLog. Mas, veja, os sócios brasileiros é que mandaram o dinheiro para a Suíça, eu fui surpreendido.
FOLHA – Você me disse antes da entrevista que fica chateado porque afirmam na imprensa que você é “chinês”.
CHAN – Fico chateado porque todo mundo fala “é o chinês”, mas o chinês aqui é mais brasileiro do que muitas pessoas que eu conheço. Eu tenho o coração brasileiro. Tenho sotaque chinês? Não tenho. Sou um corintiano sofrido!
Comento
Lap Chan tem pleno domínio do português, como vimos. É até engraçada uma de suas respostas, à moda José Dirceu: “Isso, para mim (sic), é mentira”. Faz lembrar a frase famosa do ex-ministro: “Estou cada vez mais convencido de que sou inocente”… Notem que Chan nega aquilo de que não foi acusado até agora: ter tido contato com Denise. Alguém disse isso por acaso?
O vídeo está aqui. Posso estar enganado, mas acho que ele está lendo as respostas. Ele admite que os sócios brasileiros não desembolsaram dinheiro no negócio, conforme noticiou o Estadão. Mas nega que fossem laranjas.
E como ele nega? Assim, ó: “Não, não eram laranjas. Eles estavam administrando essa empresa. A lei fala que as ações votantes tem que estar 80% nas mãos de brasileiros, 80% das ações votantes estavam na mão de brasileiros. Nas mãos dos três. Não burlamos a lei.”
Deixe-me ver se entendi: eles não puseram um tostão na empresa, mas, mesmo assim, participaram de um negócio de US$ 24 milhões. Huuummm… Afinal, tinham 80% das ações votantes. Ora, o que justamente caracteriza um “laranja”? É o fato de ele aparecer como dono formal, legal, de um negócio, mesmo não sendo. Sem dúvida, Chan está com um advogado bastante esperto.