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Reinaldo Azevedo

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Cartilha com apoio oficial ensina como consumir drogas

Por Daniel Bergamasco, na Folha desta sexta. Volto depois: Impresso em 40 mil exemplares, um panfleto produzido para ser distribuído na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo orienta os participantes sobre o uso de cocaína.”Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro”, diz o material, que também traz dicas sobre outras drogas: […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 jun 2024, 09h48 - Publicado em 8 jun 2007, 07h53
Por Daniel Bergamasco, na Folha desta sexta. Volto depois:

Impresso em 40 mil exemplares, um panfleto produzido para ser distribuído na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo orienta os participantes sobre o uso de cocaína.”Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro”, diz o material, que também traz dicas sobre outras drogas: “Faça uma piteira de papel se for rolar um baseado”; “Compartilhe a droga, nunca o material a ser usado”.

A cartilha estampa o selo colorido do governo federal, aquele do slogan “Brasil – Um País de Todos”. O Ministério da Saúde confirma que os dados utilizados no texto são coerentes com a sua política de redução de danos (leia abaixo).

Também estão impressos na cartilha logotipos dos programas contra DST/Aids do governo estadual e da Prefeitura de São Paulo, do Ministério do Turismo e da Embratur. Entretanto, segundo as respectivas assessorias de imprensa, os órgãos não tiveram participação na elaboração do material.

O panfleto -que, dobrado em quatro partes, forma uma cartilha de oito páginas- começou a ser distribuído ontem, durante a Feira Cultural GLBT (sigla para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), no vale do Anhangabaú (região central), principal evento paralelo à parada. A distribuição continuará no domingo, quando a parada deverá reunir 3 milhões de pessoas, segundo estimativa dos organizadores.Regina Fachini, vice-presidente da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, diz que o objetivo do texto é “alertar para o risco de contaminação durante o uso de drogas, de acordo com dicas do Ministério da Saúde”. “É a idéia de redução de danos para afastar riscos de doenças transmissíveis, como a Aids”, diz Fachini.
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VolteiSe o Ministério Público tiver um pouco de brios, processa os responsáveis por essa cartilha — aliás, de quebra, poderia verificar se há dinheiro público, de qualquer esfera (União, estado e cidade), e, sendo o caso, acionar também esses entes. É um acinte. Um achincalhe. Uma vigarice. Redução de danos coisa nenhuma! Isso é apologia da droga, feita de forma descarada. Apologia e estimulo ao consumo. Com que então alguém precisa ser instruído? Não precisa.

Olhem aqui: eu pouco me importo com os que as pessoas fazem com a sua vida privada. Se quiserem beber água até fazer explodir os rins, o problema não é meu. Aconselho, no máximo, que não o façam. Mas o estado brasileiro, que é democrático, tem firmado, até agora, que algumas drogas são ilícitas — e, pois, a sua apologia, categoria em que se insere o folheto, é um crime. E o estado brasileiro, ficando quieto, torna-se criminoso também. Nunca me importei que a passeata gay integrasse o calendário turístico do país. Se essa gente quer ser vista como atração, pra mim, tudo bem. Mas a piada agora se tornou dolosa.

Aceito respostas, se houver: qual a diferença entre fazer uma cartilha de suposta redução de danos para o consumo de drogas e fazer uma outra, para bandidos e vítimas, de redução de danos em assaltos? Por que não usar uma variante da máxima já consagrada no Brasil do “estupra, mas não mata?” Por que não um manual de instrução com dicas de como assaltar bancos sem fazer vítimas fatais? De como achacar no sinal de trânsito sem pôr a vida dos motoristas em risco? Por que, enfim, não assimilamos o crime como parte de nossa rotina, de nossa cultura? Não me venham com a conversa de que a droga só põe em risco a vida do drogado. É mentira: o papelote que o consumidor leva no bolso põe uma arma da mão do bandido.

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É impressionante que sejam os organizadores deste tipo de evento a permitir essa barbaridade. Já não basta que o estado brasileiro gaste uma fortuna com os remédios gratuitos contra a Aids? Boa parte dos casos de contaminação está relacionada justamente ao consumo de drogas, e não serão cartilhas que glamourizam o vício que vão impor um limite. A Aids não é uma doença da pobreza, “social”, mas de comportamento. Exceção feita aos casos de contaminação por transfusão de sangue — uma minoria hoje estatisticamente desprezível — , a contaminação nasce de uma decisão errada do indivíduo. O estado não tem nada com isso. Mesmo assim, o conjunto da população arca com o custo do tratamento.

A política de combate à Aids deve consumir mais recursos do que programas contra a tuberculose, que, creio, mata mais — nesse caso, com efeito, uma doença da pobreza. É possível que diarréia infantil também esteja na frente. Estou querendo cortar a verba? Não. Estou dizendo, isto sim, é que os recursos são fruto, em boa medida, da militância da comunidade gay que estará na avenida no domingo. A cartilha é um acinte à generosidade com que a sociedade acolheu o seu lobby.

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