Caos no presídio federal de Catanduvas. Aquele que Lula disse que seria um exemplo. Beira-Mar já manda lá
Segurem-se na cadeira para não cair. Volto ao fim de tudo. Por José Maschio, na Folha desta segunda: Inaugurada em junho de 2006 com estardalhaço pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a penitenciária federal de Catanduvas (PR) vive uma situação de caos, motivada por uma queda-de-braço entre os agentes penitenciários e a direção da […]
Inaugurada em junho de 2006 com estardalhaço pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a penitenciária federal de Catanduvas (PR) vive uma situação de caos, motivada por uma queda-de-braço entre os agentes penitenciários e a direção da unidade. Esse quadro é descrito em relatório interno do serviço de inteligência da Polícia Federal, a cuja cópia a Folha teve acesso. O documento expõe uma unidade bem diferente do superpresídio alardeado pelo governo. Mostra agentes com antecedentes criminais e desvios de conduta, falhas graves de segurança e influência de presos -como o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o primeiro a ocupar a cadeia. A disputa interna, aponta o relatório, é motivada pela decisão do Ministério da Justiça de vincular os agentes ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e colocar homens da Polícia Federal nos dois principais cargos de chefia da cadeia -chefe de segurança e diretor. (…)A falta de normas e o enfraquecimento da chefia fortaleceram os presos, a maioria integrantes de facções criminosas, notadamente o PCC (Primeiro Comando da Capital). Beira-Mar, diz o relatório, já assumiu a condição de chefe dos demais detentos. São 141 presos na unidade -a capacidade é para 208 pessoas. O traficante carioca tem ajudado presos mais pobres com a contratação de advogados e já alugou dois apartamentos em Catanduvas “para que sirvam de albergue para familiares de presos”, cita o documento. A Folha apurou que Beira-Mar comprou um táxi em Cascavel (PR), cidade a 48 km de Catanduvas, que é usado para levar seus parentes ao presídio. O objetivo seria evitar que a presença de carros de luxo chamasse a atenção. A Folha apurou que no acordo fechado entre advogados de Beira-Mar e o taxista, o traficante ficou responsável pelo pagamento das prestações mensais de R$ 827 do Siena 0 km, financiado em 60 meses. Em troca, o taxista tem a obrigação de não deixar sem condução parentes ou advogados de Beira-Mar na região. Segundo taxistas de Catanduvas, “Pé de Boi” faz, em média, quatro viagens mensais entre Cascavel e Catanduvas. O relatório aponta também que um agente da unidade declarou a colegas ter sido consumidor habitual de cocaína e ter “admiração” pelo traficante. (…)O presídio teve falhas já na contratação dos agentes. Os aprovados só passaram por capacitação após a admissão e não tiveram seus passados investigados. Resultado: dos 239 agentes contratados, 11 são réus em inquéritos ou processos criminais. Entre os delitos, há tráfico de drogas, homicídio e atentado violento ao pudor.Assinante lê íntegra aquiTORTURA E EXTORSÃO – Pelo menos dois agentes penitenciários de Catanduvas, segundo apurou a Folha, serão denunciados por crime de tortura contra o assaltante de banco José Reginaldo Girotti, apontado como mentor do assalto ao Banco Central em Fortaleza, em 2005. Girotti foi transferido no último dia 22 para a penitenciária federal de Campo Grande (MS), inaugurada em dezembro. A transferência ocorreu depois que um laudo do IML (Instituto Médico Legal) comprovou que Girotti foi vítima de tortura, em fevereiro, no presídio de Catanduvas.Sete agentes da unidade estão indiciados como réus na apuração do caso.(…)O relatório da PF sobre Catanduvas aponta “fortes suspeitas” de que o sindicato dos agentes da unidade tenha sido estruturado “por influência de membros do crime organizado, particularmente o PCC”. O objetivo, diz o documento, seria o “controle da unidade prisional pela facção”.(…)O relatório feito pela PF também aponta que agentes penitenciários de Catanduvas se fazem passar por policiais federais para ter livre acesso a bares e boates de Cascavel, cidade-pólo da região.Um grupo de agentes praticantes de artes marciais, auto-intitulado “pitboys”, estaria provocando confusões em casas noturnas e extorquindo dinheiro de comerciantes para organizar festas particulares, nas quais, segundo o relatório, há consumo de drogas e seções de stripteases com prostitutas.Segundo o relatório, lojas de munição e armas seriam as principais vítimas das extorsões dos “pitboys”. O documento aponta ainda o uso de arma de fogo, pelos agentes, para abordar pessoas nas ruas de Cascavel, situações em que assumem o papel de policiais.Assinante lê mais aquiTRAPALHADAS – O diretor-geral do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), Maurício Kuehne, disse, na sexta-feira, que só iria comentar o relatório da Polícia Federal sobre irregularidades no presídio federal de Catanduvas após ter acesso ao material.(…)O presidente do Sindapef (Sindicato dos Agentes Penitenciários Federais de Catanduvas), Helder Jacoby, 37, disse que o fato de agentes com antecedentes criminais terem sido admitidos mostra “como foi um ato político e no atropelo” a abertura da unidade.”Ninguém ainda foi condenado. Mas ficam claras, desde a origem, as trapalhadas do Depen na contratação. Fomos admitidos antes do curso de capacitação”, disse Jacoby.Jacoby confirmou que agentes deram “carteiradas” em casas noturnas da região.”Reunimos o pessoal e explicamos que isso não era direito. Hoje não existe mais isso aqui na região”, afirmou o dirigente sindical.Assinante lê mais aquiVolteiIncompetente. Vaidoso. Arrogante. Criminalista a serviço do chefe e não do Ministério da Justiça. Assim tratei Márcio Thomaz Bastos ao longo dos quatro anos em que ocupou o Ministério da Justiça. Usou — e parece que isso não mudou — as operações espetaculosas da Polícia Federal (ainda que elas tenham prendido também gente que mereça estar na cadeia) como ação de marketing, buscando ser exemplar, tentando provar que, no Brasil, rico também vai em cana. Mas sempre foi uma lástima como executivo. Com ele, a segurança pública brasileira, que já ia muito mal, foi para o brejo. Quando assumiu, Bastos prometeu cinco presídios federais. Entregou um. Justamente Catanduvas, que funciona como se vê. E olhe que é um caso raro de prisão “sublotada”, não é mesmo? Tem capacidade para 208 pessoas e abriga, até agora, só 141 pessoas.
Mas o ministro da Informação e Propaganda, Franklin Martins, tem razão. Não existem políticas individuais. De ministros. Todas elas pertencem ao chefe, ao presidente da República. Os mesmos qualificativos que atribui a Bastos — exceção feito ao de “criminalista” (já que ele demandava o serviço…) — também servem a Lula. Quem não se lembra do Babalorixá nos debates com Geraldo Alckmin a fazer baixa exploração política dos atentados do PCC em São Paulo, como se ele, Lula, 1) não tivesse qualquer responsabilidade na segurança pública; 2) pudesse fazer coisa muito melhor estivesse no governo de São Paulo? Em sua gestão, Alckmin construiu 72 presídios; Lula, um único. Entregue à bandidagem menos de um ano depois de inaugurado. Com a pompa ridícula que sempre cobre os atos desse governo.
Alguma chance de que a segurança pública venha a ter uma resposta à altura no país? Nenhuma. Não com eles aí. Beira-Mar ficou sob controle só enquanto esteve sob a guarda de São Paulo. Foi passar para o governo federal, e já se tornou um chefão local. Mas não só ele. Também os agentes penitenciários, alguns deles com acusação de tráfico e homicídio, se tornaram os valentões de Cascavel, dando carteirada no comércio local. Pior: há suspeita de infiltração do PCC no sindicato dos agentes. Tudo feito à matroca, no joelho, com o padrão de qualidade Lula da Silva.
A estabilidade econômica — esta que aí está, com suas virtudes e vícios — esconde o desastre de gestão que é o governo Lula. Em certa medida, talvez seja o caso de suspeitar que, se Deus não é brasileiro, tem lá as suas estranhas simpatias por essa gente, ainda que se possa questionar o mérito do gosto. Mas Deus é Deus… Lula governa o país num momento raro da economia mundial. A ele, sempre pedimos o quê? Que não atrapalhe. Até a política macroeconômica tem o seu lado de piloto automático — daí o esforço brutal de alguns setores para tentar torná-la imune à sanha do Apedeuta, deixando que brinque com o resto.
Essa estabilidade faz com que o Brasil que não depende da ação do governo — ou que dela depende pouco — possa ir tocando a vida, fazendo de conta que Lula, o governo e o PT não existem. Porque está provado, evidenciado a cada dia, de maneira sempre escandalosa: o Brasil que depende da eficiência do estado, este está lascado. As exportações, por exemplo, vão bem. Já a segurança, a saúde, a educação, o tráfego aéreo, as estradas… Não há uma maldita área em que o governo não se meta sem que sobrevenha o desastre.
E eles nem mesmo se esforçam para parecer competentes. Imaginem: Catanduvas deveria ser o presídio modelo, para servir a Lula como exemplo de sua eficiência. Nessa matéria, não consegue nem fingir.