Caça aos bandidos na Prefeitura, até agora, não atinge Kassab pessoalmente; operação de marketing de Haddad, no entanto, já transformou ex-prefeito em réu
Tudo indica que uma quadrilha da pesada agia dentro da Prefeitura de São Paulo. Os sinais de riqueza da turma são muito eloquentes. Parece haver poucas dúvidas a respeito. Não há sinais, ATÉ AGORA AO MENOS, de que a cúpula da gestão Gilberto Kassab, incluindo ele próprio, estivesse envolvida. Tanto é assim que Ronilson Bezerra […]
Tudo indica que uma quadrilha da pesada agia dentro da Prefeitura de São Paulo. Os sinais de riqueza da turma são muito eloquentes. Parece haver poucas dúvidas a respeito. Não há sinais, ATÉ AGORA AO MENOS, de que a cúpula da gestão Gilberto Kassab, incluindo ele próprio, estivesse envolvida. Tanto é assim que Ronilson Bezerra Rodrigues, um dos presos, tinha sido indicado por Fernando Haddad para cuidar da parte financeira da SPTrans. É bom, no entanto, em casos assim, aguardar o andamento das investigações. O ponto neste texto é outro.
Gilberto Kassab, presidente do PSD, tornou-se um dos mais fiéis aliados do PT na esfera federal. O que Dilma pedir, ele faz. O que Dilma decidir está decidido. Lula também é seu interlocutor. Embora, em São Paulo, não exista a mesma harmonia, a proximidade é grande. O PT passou boa parte do tempo demonizando a gestão Kassab na cidade. A campanha eleitoral de 2012 foi organizada na base da desconstrução da sua adminsitração. Nada disso afastou o ex-prefeito de seus novos companheiros. Ao contrário até: o que se tem como certo é que Kassab é considerado peça estratégica para tentar desalojar o PSDB do governo de São Paulo.
Haddad, reitero, ganhou a eleição demonizando a gestão anterior, e os vereadores do PSD na cidade se bandearam para a base de apoio ao prefeito. Nada parece abalar o governismo de Kassab. Se há alguém que descobriu uma instância além do orgulho pessoal, esse alguém é o presidente do PSD.
A operação
Muito bem! Há roubalheira? Cana na tigrada! Lugar de bandido que rouba dinheiro público é a cadeia. Não parece que sobre muito espaço para especulações. O ponto é outro. Parece escancaradamente evidente que a operação coincide com o desgaste gerado pelo aumento do IPTU. O marketing petista atuou firmemente para caracterizá-la como uma espécie de razia na gestão Kassab. O próprio Haddad está a dizer por aí, como se fosse polícia, que há mais envolvidos.
De novo: havendo safadeza, a providência tem de ser tomada. Mas se pode fazer isso com ou sem viés político Haddad escolheu o primeiro caminho. Com as manifestações de junho, sua popularidade despencou, junto com a de outros políticos. Havia uma discreta recuperação. O aumento do IPTU se encarregou de inverter a curva. Nada melhor do que posar de moralizador e de caçador de bandidos, especialmente quando eles, de fato, existem.
Eu jamais pagaria o mico de dar lições de política a Kassab ou a quaisquer outros. Apenas constato que, por mais fiel que seja à turma, Kassab jamais será visto como “um deles”. É e sempre será só um aliado de ocasião. Se for preciso jogá-lo ao mar, eles jogam. Sem hesitação. Ainda mais no caso do IPTU. Sete dos oito vereadores do PSD votaram contra o aumento.
Deixem-me ver… A esta altura, Lula, Dilma, Rui Falcão e até o próprio Haddad já devem ter telefonado para Kassab… “Ó, a gente não tem nada com isso; todos sabemos que você não tinha vínculo com os presos…” E, no entanto, é evidente que a operação o atinge em cheio e tira o foco do prefeito no momento em que o IPTU tem um aumento escorchante.
A investigação, até onde se sabe, não atinge Kassab pessoalmente; a operação de marketing, no entanto, deflagrada pelo PT já o transformou no principal réu. Coisa dos seus novos “companheiros”…