As hienas de focinho vermelho
Chegam perto de mil os e-mails sobre o fim de Primeira Leitura. A esmagadora maioria lamenta. Precisamente três se mostraram não exatamente aliviados, mas vingados. Tomavam site e revista, pelo visto, como ofensa pessoal. A turma heavy metal apareceu mesmo foi comentando a entrevista que concedi a Luiz Antonio Magalhães, do Observatório da Imprensa. Aí […]
Chegam perto de mil os e-mails sobre o fim de Primeira Leitura. A esmagadora maioria lamenta. Precisamente três se mostraram não exatamente aliviados, mas vingados. Tomavam site e revista, pelo visto, como ofensa pessoal. A turma heavy metal apareceu mesmo foi comentando a entrevista que concedi a Luiz Antonio Magalhães, do Observatório da Imprensa. Aí o bicho pegou nos “comentários”. Recebi mais apoios do que esperava. Mas, até quando vi, a maioria tinha o focinho tão vermelho quanto as hienas quando tomam a caça do leão e se resfolegam nas vísceras da presa, emitindo um misto de grunhido e latido inconfundível. A hiena é a natureza de mau-caráter: é feia, só ataca em bando, não caça para prover o próprio sustento, preferindo tomar o alheio. Se fosse gente e fizesse política, vocês sabem em que partido estaria. Uma hiena sozinha contra um leão não daria nem para o cheiro. Mas o leão, sabem cumé?, é a natureza de nariz em pé. Até topa viver numa quase comunidade, mas prefere não depender da boa vontade nem de outros leões. A crítica que achei mais divertida, dada a sua burrice essencial, é aquela que poderia ser resumida assim: “Ué, não gostava tanto do capitalismo? Por que fechou a revista?”. As hienas também não são um exemplo de inteligência. Seu argumento é a força bruta coletiva. Ainda que Primeira Leitura tivesse dado com os burros n’água, o que é falso, eu estaria proibido de apreciar o capitalismo? O exemplo mais óbvio é a crítica literária. Quer dizer que Edmund Wilson não poderia ter sido o crítico que foi sem ter escrito obras melhores do que aquelas que ele analisava? Mesmo o já arroz-de-festa Harold Bloom terá antes de rivalizar com Shakespeare na arte dramática para depois ser analista? É claro que não estou me comparando a Wilson ou Bloom — até porque o capitalismo não é também nenhum Shakespeare —, mas apenas observando que há domínios distintos do saber. Médicos brilhantes cuidam mal da própria saúde às vezes. A medicina não perde nada com isso. Se eu fosse um capitalista exemplar — o que, de fato, não sou —, não quer dizer que pudesse fazer uma boa revista. Para ler a entrevista ao Observatório, clique aqui