AS BOBAGENS DE UM JORNAL ISRAELENSE SOBRE LULA
Leiam um texto da BBC Brasil sobre reportagem que o jornal israelense Haaretz publica. Volto em seguida: Uma reportagem publicada pelo diário israelense “Haaretz” nesta sexta-feira classifica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega no domingo a Israel para um giro de quatro dias pelo Oriente Médio, de “profeta do diálogo”, por sua […]
Leiam um texto da BBC Brasil sobre reportagem que o jornal israelense Haaretz publica. Volto em seguida:
Uma reportagem publicada pelo diário israelense “Haaretz” nesta sexta-feira classifica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chega no domingo a Israel para um giro de quatro dias pelo Oriente Médio, de “profeta do diálogo”, por sua defesa das negociações diplomáticas em busca da paz na região. “Imparcialidade é o nome do jogo. Lula tem que ser amado por todos. Sua visita ao Oriente Médio na próxima semana começará em Israel, mas também o levará para os territórios palestinos e para a Jordânia”, comenta o texto do jornal.
O autor da reportagem, Adar Primor, participou de uma entrevista concedida pelo presidente brasileiro a dois jornalistas israelenses e um árabe, e diz que essa característica de Lula transpareceu até mesmo na hora de escolher quem faria a primeira pergunta: numa disputa de par ou ímpar. Apesar disso, o jornal questiona a capacidade de Lula de ganhar a confiança dos israelenses ao manter a cordialidade com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, conhecido por sua negação do Holocausto.
A reportagem observa que Lula foi um dos primeiros líderes mundiais a receber Ahmadinejad após as contestadas eleições iranianas de junho do ano passado e um dos cinco países que se abstiveram em uma votação na Agência Internacional de Energia Atômica pela condenação do Irã. Questionado sobre isso na entrevista, Lula disse ter colocado “claramente” a Ahmadinejad que “ele não pode continuar dizendo que quer a liquidação de Israel, assim como é indefensável sua negação do Holocausto, que é um legado de toda a humanidade”.
“Acrescentei que o fato de que ele tem diferenças com Israel não permite a ele ignorar a história”, disse o presidente.
Negociador
Para o “Haaretz”, as autoridades israelenses ficarão perturbadas pela associação que Lula faz entre a falta de avanço no processo de paz israelo-palestino e sua visita a Teerã programada para maio, entre a necessidade de garantir que o Irã não desenvolva armas nucleares e a necessidade de resolver o conflito na região, e entre as fracassadas tentativas de mediação do diálogo, principalmente dos Estados Unidos, e a necessidade de se incorporar novos mediadores, como o Brasil. A reportagem comenta que Lula se descreve como “um negociador, não um ideólogo”, capaz de se relacionar ao mesmo tempo com Hugo Chávez e com George W. Bush, com o presidente israelense, Shimon Peres, e com Ahmadinejad.
“Ele diz nunca ter lido um livro em sua vida, embora todos admirem sua “sabedoria suprema” e sua “mente criativa”. Como presidente do sindicato de trabalhadores durante os anos de regime militar no Brasil, ele encontrou e resolveu muitos conflitos difíceis”, afirma o texto. Para a reportagem, Lula está ciente de que pode soar ingênuo diante dos seus interlocutores israelenses, mas crítica a posição do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, de comparar Ahmadinejad com Hitler e o Irã atual com o regime nazista do pré-guerra.
“Qualquer um que siga essa linha não está contribuindo em nada para o processo de paz que queremos criar”, disse Lula na entrevista. “Você não pode fazer política com ódio e ressentimento. Ninguém pode administrar um país com o fígado. Você tem que administrar um país com sua cabeça e com seu coração. Se não for assim, é melhor ficar fora da política”, afirmou.
Comento
O Haaretz caiu no truque. Ou melhor: não caiu. Trata-se de um jornal feito segundo critérios profissionais etc e tal, mas absolutamente identificado com a esquerda israelense. Reparem como o Lula que surge no texto acima não parece ser aquele que compara presos políticos a bandidos; não aparece ser aquele que se nega a ler a carta que lhe foi enviada pelos dissidentes.
Vejam o que pode produzir a mitificação basbaque:
“Ele diz nunca ter lido um livro em sua vida, embora todos admirem sua “sabedoria suprema” e sua “mente criativa”. Como presidente do sindicato de trabalhadores durante os anos de regime militar no Brasil, ele encontrou e resolveu muitos conflitos difíceis”.
Lula é o homem que já nasceu sabendo. É como se não houvesse um Itamaraty a orientar a política externa.
O texto também veicula uma mentira: Lula teria censurado Ahmadinejad por negar o holocausto e pregar o fim de Israel. Não censurou. O próprio governo brasileiro negou que isso tivesse acontecido. O brasileiro disse que, como chefe de estado, não se metia na briga entre “judeus e árabes” – os iranianos são persas (só para registro).
O jornal deixa claro que, na prática, Lula preservou Ahmadinejad e preferiu criticar Netanyahu… O esquerdista Haaretz (segundo o sentido particular que a palavra tem em Israel) parece achar isso muito interessante…
Esse Lula do Haaretz é uma invenção velha, já superada pelos fatos. “Você quer ser mais pró-Israel do que o próprio jornal?”, poderia indagar o petralha. Por que não? Esse perfil que ele desenha de Lula é mentiroso. Como é mentirosa a sugestão de que o brasileiro tenha algo de útil a dizer sobre os conflitos no Oriente Médio. A determinação do Brasil de votar sistematicamente contra Israel nas instâncias da ONU o demonstra.
E o Haaretz consegue esconder que Lula aproveitou a entrevista para se colocar como uma “alternativa” ao jeito americano de fazer política. E isso, mais do que estúpido, é risível.