Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Resoluções Ano Novo: VEJA por apenas 5,99
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

Aniversário

Sim, hoje é meu aniversário. Muitos de vocês já sabiam e me mandaram comentários fraternos. 47 anos de samba no pé, veneno tropical e picardia. Idos de agosto… Em 2003, o atentado em Bagdá, que matou Sérgio Vieira de Mello. Em 1991, o socialismo deu o último suspiro, com a tentativa de golpe de estado […]

Por Reinaldo Azevedo 19 ago 2008, 15h56 • Atualizado em 31 jul 2020, 19h06
  • Sim, hoje é meu aniversário. Muitos de vocês já sabiam e me mandaram comentários fraternos. 47 anos de samba no pé, veneno tropical e picardia.

    Idos de agosto…

    Em 2003, o atentado em Bagdá, que matou Sérgio Vieira de Mello. Em 1991, o socialismo deu o último suspiro, com a tentativa de golpe de estado para depor Gorbachev — já tenho leitores que não eram nem nascidos. O “outro mudo possível” terminava com o triunfo do único mundo em que é possível pensar em mundos impossíveis. Embora sejam muitas e freqüentes as tentativas de solapar as bases que garantem a sua legitimidade.

    Como disse uma amiga num e-mail, eu deveria ter advertido o Dunga: “Cuidado com os idos de agosto!”

    Aniversário? Muita gente conhece o poema de Fernando Pessoa — Álvaro de Campos — sobre o tema. Segue abaixo. Volto depois:

    Continua após a publicidade

    Aniversário

    No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
    Eu era feliz e ninguém estava morto.
    Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
    E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

    No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
    Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
    De ser inteligente para entre a família,
    E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
    Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
    Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

    Continua após a publicidade

    Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
    O que fui de coração e parentesco.
    O que fui de serões de meia-província,
    O que fui de amarem-me e eu ser menino,
    O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
    A que distância!…
    (Nem o acho…)
    O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

    O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
    Pondo grelado nas paredes…
    O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
    lágrimas),
    O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
    É terem morrido todos,
    É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

    No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
    Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
    Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
    Por uma viagem metafísica e carnal,
    Com uma dualidade de eu para mim…
    Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

    Continua após a publicidade

    Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
    A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
    O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado —,
    As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
    No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

    Pára, meu coração!
    Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
    Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
    Hoje já não faço anos.
    Duro.
    Somam-se-me dias.
    Serei velho quando o for.
    Mais nada.
    Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

    O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…
    15/10/1929

    Continua após a publicidade

    Comento
    Não sou o “eu” melancólico deste grande texto de Pessoa. Mas ele desperta em mim a atração do abismo, o rigor implacável do pessimismo, a severidade com a esperança.

    A vida da “mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, o aparador com muitas coisas, doces, frutas” é prosa. A poesia está com o “resto na sombra debaixo do alçado”. É aí que nos perdemos da matilha para crescer sozinhos, na estepe.

    Toda vida é besta. É o tempo, com seus pequenos heroísmos inúteis, que a torna incapturável e única, de modo que seremos, ao fim, o que estávamos destinados a ser. E isso não é bom nem mau. É como dizer: “Hoje é terça-feira”.

    Publicidade
    TAGS:

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    RESOLUÇÕES ANO NOVO

    Digital Completo

    A notícia em tempo real na palma da sua mão!
    Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
    De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
    RESOLUÇÕES ANO NOVO

    Revista em Casa + Digital Completo

    Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
    De: R$ 55,90/mês
    A partir de R$ 29,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.