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ALÉM DOS SLOGANS, A REALIDADE

Quando a política é tratada como mera coleção ou luta de slogans, tudo parece tão claro, não é? A, digamos assim, média da mídia brasileira e ocidental conhece muito bem o caminho do mal: é George W. Bush. Anteontem, na TV, um comentarista observou que não há diferença entre o “fundamentalismo” de Bush e o […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h17 - Publicado em 23 jan 2009, 17h02
Quando a política é tratada como mera coleção ou luta de slogans, tudo parece tão claro, não é? A, digamos assim, média da mídia brasileira e ocidental conhece muito bem o caminho do mal: é George W. Bush. Anteontem, na TV, um comentarista observou que não há diferença entre o “fundamentalismo” de Bush e o de Osama Bin Laden. Pior: segundo deu a entender, o ex-presidente dos EUA era o verdadeiro responsável pela estupidez do outro. Pois é… Desde quando começou o debate sobre Guantánamo, tenho escrito que a questão é bem menos simples do que parece. Não se trata de opor simplesmente a democracia, “o nosso estilo de vida”, à não-democracia de Guantánamo, que seria a negação de tudo o que aprendemos e dos fundamentos do modelo democrático.

Pobre de quem se dedica ao exercício de lembrar as dificuldades. Logo se confunde com um defensor da tortura. O QUE ESCREVI ONTEM AQUI? VEJAM LÁ:

“A questão essencial continua a mesma: o terrorismo desafia o estado de direito. Dar estado de direito a quem age para destruí-lo é apostar na autodestruição. Eu não tenho resposta para isso. Ninguém tem. Se Obama fosse o demiurgo que alguns tolos supõem que ele seja, fecharia já aquela porcaria, levaria os prisioneiros para os Estados Unidos e lhes daria todos os direitos previstos nas leis americanas. E teria um bando de terroristas soltos em Nova York.”

E houve uma chuva de protestos. Reparem: eu nem mesmo apontei uma solução. Ao contrário: disse que não sei qual é ela. O que sei é que as respostas convencionais que muitos imaginam — “dêem aos terroristas as leis vigentes” — resultam no que se lê no post anterior. E esse certamente não é o único caso. “Programa de Recuperação de Terrorista?” Deus do céu! Ainda que Obama não solte todos os celerados em Nova York; ainda que países ofereçam generosamente seu solo para abrigar os facínoras, quais são as garantias de que não voltarão ao terror?

É uma bobagem e uma inverdade histórica a ilação de que situações excepcionais não criam regras excepcionais no estado democrático e de direito. Elas existiram nos EUA e na Europa durante a Segunda Guerra, por exemplo. “Ah, mas a luta contra o terror não é uma guerra; isso ERA coisa da direita neoconservadora”. É uma forma específica de guerra, mas é guerra, sim. Tem seus campos de batalha específicos, como Iraque, Afeganistão e Paquistão, mas se espalha em núcleos pelo mundo inteiro.

É um conforto intelectual e tanto pensar que os otimistas iluminados são contra Guantánamo, em oposição aos pessimistas sombrios, que defendem a existência daquela prisão — com práticas de tortura, claro (ou não seríamos, assim, homens tão maus…). Não! Aquela prisão nasceu de um tipo particular de ação contra os estados organizados: o terror globalizado.

“Ah, Reinaldo, Obama e Hillary Clinton responderão a esse desafio com diálogo”. Tá bom. Vamos ver. E não vai aqui desconfiança cínica. Vamos ver mesmo. É claro que me pergunto, nessas horas, por que os outros, antes deles, não trilharam esse caminho se ele é moralmente superior (“dialogar é sempre melhor do que a guerra”) e mais eficiente. Seria em decorrência de sua maldade intrínseca?

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Ademais, creio que o tempo há de revelar que o diálogo, em certa medida, aprofunda as diferenças. Explico-me: é uma tolice achar que o Ocidente é o responsável original pelo jihadismo. O jihadismo nasce de dissensões no seio do próprio Islã. Os terroristas são apenas uma das forças que querem impedir a modernização dos países islâmicos e da própria religião. Há, destaque-se, outras forças reacionárias que lhes são opostas, mas que se combinam na luta pelo atraso: aquelas que estão à frente dos governos.

Pois bem… Quanto mais o Ocidente tenta se aproximar, mais se acirram as disputas internas e mais se assanham os delírios do jihadismo. “Ah, espertinho, então diga qual é a solução”. Sucessivos governos americanos (e já vou colocar Obama aí) não souberam o que fazer. Será que eu sei? O que faço é, humildemente, reconhecer os limites da realidade. O que não quer dizer que eu esteja satisfeito com ela ou que ela me fascine.

Encerro este texto observando que alguns tontos inferem que estou, sei lá, infelicíssimo com a eleição de Obama. Eu? Por quê? Sim, teria votado em McCain se votasse, mas que me importa de verdade? A rigor, estou até um tanto satisfeito — um certo conforto de natureza intelectual. Talvez o governo Obama contribua para aumentar a dose de realismo do mundo, evidenciando que as respostas simples e fáceis para problemas complexos e difíceis costumam ser as erradas, espichando um pouco a frase de H. L. Mencken.

E, bem, “progressistas” e “conservadores” devem rezar para que não haja um novo e espetacular atentado — o que as medidas contra o terror, até agora, conseguiram evitar — uma conquista da gestão Bush que jamais será reconhecida. Sabemos como é ser progressista e iluminista sem um novo 11 de Setembro, não é? As chamadas medidas de exceção não brotaram da mente psicopata de fundamentalistas cristãos. Saíram dos escombros e das cinzas dos corpos das Torres Gêmeas.

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