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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

AH, NÃO! AÍ JÁ É DEMAIS!!!

Fiz um postezinho ontem, antes de sair pro jantar (“Teoremas”, vejam lá) em que reproduzia uma espécie de síntese de algumas opiniões que chegam sobre coisas que eu e Diogo escrevemos. No meu caso, religião; no dele, segundo entenderam alguns leitores, aviação. E a síntese é esta: “Rei, você falando sobre política é show de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h03 - Publicado em 10 mar 2009, 06h37
Fiz um postezinho ontem, antes de sair pro jantar (“Teoremas”, vejam lá) em que reproduzia uma espécie de síntese de algumas opiniões que chegam sobre coisas que eu e Diogo escrevemos. No meu caso, religião; no dele, segundo entenderam alguns leitores, aviação. E a síntese é esta: “Rei, você falando sobre política é show de bola, mas sobre religião…; o Diogo é genial quando escreve sobre Lula, mas pisou na bola com Santos Dumont”.

E então emendei: “Todos as pessoas por quem temos algum apreço deveriam só escrever ou falar coisas que fossem tão inquestionáveis quanto o quadrado da hipotenusa ser igual à soma dos quadrados dos catetos”. E então o interlocutor dirá: “Sim, você tem razão”, pouco antes de tomar uma água mineral sem gelo e sem gás.

Ora, é claro que mesmo os leitores que nos consideram interessantes não precisam e não devem concordar com tudo o que escrevemos. Tampouco precisam considerar pertinentes todas as nossas ironias e os nossos gracejos. Mas não deixa de ser curiosa a decepção de alguns quando confrontados com o que classificam as nossas “besteiras” ou o nosso “radicalismo”. É como se o liame da tolerância se rompesse. “Pô, Digo e Reinaldo! Já basta bogar o cotovelo na mesa. Agora vocês estão falando de boca cheia! Aí não dá! Nem Santos Dumont escapa? Aí eu acho que é um exagero!” Ou ainda: “Rei, esse bispo não dá; como você pode defendê-lo depois do que ele disse? Por favor, volte a falar de política”.

E há um grupo particularmente interessante. Uma leitora me mandou um longo arrazoado, com e-mail e tudo para correspondência. A propósito: jamais mandem endereços eletrônicos em comentários; nunca os publico (acontece de escapar) porque a pessoa pode receber, depois, mensagens desagradáveis e acabar me responsabilizando, como já aconteceu. Volto ao e-mail. Num dado momento, ela diz:“Tenho muitos amigos que detestam as coisas que você escreve porque acham que você é conservador demais. Eu sempre o defendo. Mas, nesse caso do bispo, fiquei sem argumentos. Acho que você queimou desnecessariamente o filme”.Agradeço o cuidado que você tem comigo, cara E.S., mas ele é desnecessário. Você não precisa concordar com tudo aquilo que escrevo. Sei que defender Dom José Sobrinho, mesmo fazendo reparos à sua atuação no caso, como fiz (o que, pelo visto, você e seus amigos ignoram), é a posição mais incômoda, mais difícil. O fato de eu expressar sobre o governo Lula ou o aquecimento global opiniões que você endossa não a obriga a acatar a minha posição sobre a disciplina católica. Quero crer que a defesa que faço de uma sociedade fundada no mérito e na hierarquia orienta o que penso sobre política e sobre religião. Tendo a achar que se trata de um todo coerente. Mas isso não implica que você deva acatar a minha interpretação dos eventos. De jeito nenhum!

Mas esses exemplos ainda não exploram os limites todos do que penso a respeito. Volto àquela imagem dos teoremas. E aqui o pensamento vai assumindo delicadezas um tanto perigosas. Querem ver? O que realmente testa a saúde do estado de direito? O tratamento que a sociedade dispensa aos chamados homens de bem ou aquele que dispensa aos criminosos? A resposta, nada óbvia, é esta: o efetivo estado de direito é testado com o tratamento dispensado aos criminosos. O valor positivo da democracia, sem dúvida, é traduzir a vontade da maioria; mas isso pode ser feito por outros regimes. A sua diferença está, então, no valor negativo: ela tem de proteger a minoria, aqueles que dissentem. Ou não é democracia.

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Vejam que afirmação quase escandalosa: a liberdade e a tolerância são mais testadas, vá lá, pelas bobagens (ainda que supostas) e pelas opiniões, digamos, excepcionais, do que pelo consenso e pela média aceita, não é? Sim, claro: todos vivemos segundo códigos dados. Reconhecemos (ou arcamos com as conseqüências de não fazê-lo) como legítimos os limites que nos são impostos pela vida em sociedade. Dado isso, é uma missão alargar, se me permitem o clichê, as fronteiras do possível.

Certa feita, fiz algumas piadas com um tal , como é mesmo?, “ciclone extratropical”. E lá vieram os especialistas em ciclones: “Pô, pare de falar besteira e leia mais sobre ciclones”. Ora, diabos! Eu não!!! Dormiria na terceira página ou logo começaria a pensar em um milhão de coisas que acho mais interessantes. Só tinha feito uma crônica. Haverá algum maluco que me ache referência confiável em matéria de ciclones? Digo o mesmo sobre o aquecimento global. Sim, os aquecimentistas têm razão. Eu não entendo nada! Tudo o que escrevo a respeito é análise do discurso sobre o aquecimento global. Faço a crônica de uma época, não disputo o espaço com os especialistas em clima.

Entendo que muitos fiquem desgostosos quando afirmo que dom José Sobrinho, como autoridade eclesiástica, agiu de acordo com suas obrigações — embora, reitero, eu visse caminhos mais luminosos para expressar a doutrina. Mas rejeito, mesmo!, a crítica daquelas que dizem: “Pô, você poderia ter-se poupado (isso realmente me chegou) porque aí vão começar a pôr sob suspeita outras opiniões suas”. Mas Deus do Céu! Este sou eu. Desde quando eu me importo com suspeições? Os meus leitores, felizmente!, são donos do próprio nariz e das próprias opiniões. É claro que podem e devem discordar de mim. Já aconteceu tantas vezes.

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Não aceito é que me digam — porque aí é obscurantismo — coisas como: “Ah, não fale sobre esse assunto; deixe dom José ou Santos Dumont para especialistas”. Ou ainda: “Pô, aí já é demais!” Na China totalitária, por exemplo, é perfeitamente possível escrever sobre os benefícios da iniciativa privada. Só não se pode falar em democracia pluripartidária. Porque “aí já é demais!”.

A propósito: quem será o Santos Dumont da China? Deve haver um. O que não há por lá é Diogo Mainardi.

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