Agora só falta Shwarcz convocar João Pedro Stedile…
Muitos leitores me perguntam por que não tomo a iniciativa eu mesmo de redigir uma petição contra a concessão do Prêmio Jabuti a Chico Buarque, hipótese em que eu teria o controle da lista, que não seria, então, depredada pelos petralhas com falsas assinaturas e xingamentos. Respondo: porque a primeira, para certo espanto meu, já […]
Muitos leitores me perguntam por que não tomo a iniciativa eu mesmo de redigir uma petição contra a concessão do Prêmio Jabuti a Chico Buarque, hipótese em que eu teria o controle da lista, que não seria, então, depredada pelos petralhas com falsas assinaturas e xingamentos. Respondo: porque a primeira, para certo espanto meu, já teve um efeito devastador para a canalha que decidiu transformar um prêmio literário num desagravo político. Vejam o que aconteceu: Luiz Schwarcz teve de debater na planície; foi preciso chamar Caetano Veloso para o confronto. Antigamente, o cantor seria um blindado da Marinha invadindo a Vila Cruzeiro do pensamento: ai de você se Caetano decidisse xingá-lo ou lhe meter uma pecha. Estaria lascado!
Ou o Prêmio Jabuti muda ou está desmoralizado. Fim de papo! Todos sabem o que aconteceu lá. Schwarcz tentou criar um “movimento popular” pró-Jabuti para Chico, e nada aconteceu. “Movimento popular”, entenda-se, entre os descolados de sempre. Agora só falta chamar João Pedro Stedile para assegurar a justiça e a justeza da premiação, além, claro, da Marilena Chaui, do Emir Sader e do Frei Betto…
Eu tinha assinado a petição, deixei isso claro aqui, meio na galhofa. Devolver prêmio é como renúncia, né? Trata-se de ato unilateral. A única constituição que obrigava o titular de um cargo a renunciar era a boliviana. Não deu muito certo… Tratava-se de uma nota de bom humor num ambiente contaminado pela politicagem, pelo compadrio e por silêncios entre inconformados e cúmplices. E foi o que vocês viram!
O “movimento popular” não veio. O inconformismo era grande também no meio literário. Mas, do outro lado da linha, estavam alguns coronéis do pensamento e do meio literário. E que podem ser bem vingativos. Edney Silvestre, por exemplo, não disse um “a” contra a premiação, nada! Mas Luiz Schwarcz lhe mandou um recado no artigo publicado na Folha: além de atacá-lo gratuitamente, afirmou que aquele poderia ser um mau caminho — recado ao jornalista e escritor (que ele chamou de “apresentador”) e a quem, eventualmente, se atrevesse a protestar.
Silvestre publicou uma pequena nota da Folha de domingo a respeito. Foi elegante:
Sou essencialmente um jornalista enveredando pelos caminhos da literatura.
Escrevo porque gosto de contar histórias que, imagino, interessem às outras pessoas.
A aceitação que busco, mesmo, é a dos leitores.
Não fiz – nem me caberia – nenhum comentário público sobre a polêmica do Jabuti – que, registremos, deu a meu romance de estreia o primeiro lugar na categoria, para minha alegria.
Por isso mesmo, só posso lamentar que, numa discussão em nome de ética, respeito, delicadeza e cultura, seja gratuitamente atacado por um dono de uma poderosa editora “concorrente”, que bem sabe que nós autores – ainda mais iniciantes – somos o elo mais fraco neste mercado surpreendentemente tão hostil.
Encerro
A petição — que agora foi invadida pela única tropa que Schwarcz conseguiu mobilizar, dona de uma vocabulário realmente muito impressionante — fez com que as pessoas se revelassem como são.