Agora eu virei defensor da USP. Vão ter de me engolir
Eu pretendo, como já viram ontem, tratar da universidade segundo outros critérios. Estou muitíssimo interessado na sua gestão, produtividade, números. – agora que todos sabemos que menos de 3% de todos os estudantes do Estado de São Paulo ficam com um quarto do que se gasta em educação, já temos base para conversar;– agora que […]
– agora que todos sabemos que menos de 3% de todos os estudantes do Estado de São Paulo ficam com um quarto do que se gasta em educação, já temos base para conversar;
– agora que já sabemos que Harvard tem um orçamento entre US$ 2,8 bilhões e US$ 3 bilhões e que o das paulistas é de US$ 2,1 bilhões, já há parâmetros;
– agora que já sabemos que 20% das despesas de custeio da USP vão para “programas sociais” dos estudantes, estamos com uma base ampliada de dados;
– agora que já sabemos que a USP é a maior empresa de cocô subsidiado do Brasil, via bandejão, estamos todos mais informados sobre a universidade;
– agora que sabemos que um estudante universitário em são Paulo custa quase 11 vezes o que custa um do ensino fundamental e médio — na OCDE, a diferença é de, no máximo, 3,2 vezes —, podemos ter idéia do peso desse serviço;
– agora que sabemos que, em relação ao PIB, o Brasil investe mais em educação do que o Japão e a Alemanha, podemos falar de eficiência;
– Agora que já sabemos que, na USP, há um professor para cada 15,2 estudantes, enquanto, na França, há 1 para cada 32, já podemos falar sobre carências.
Claro, boa parte dos dados acima está ausente da mídia, especialmente daquela que resolveu abraçar os invasores como item de mercado, honrando a boa e notória tradição de progressismo. De certo modo, devemos agradecer aos remelentos e mafaldinhas por terem despertado a atenção da mídia para a USP.
No que depender de mim, a USP não será mais a mesma. Eu estou, por exemplo, particularmente interessado na carga horária dos professores do Departamento de Letras — na verdade, dos professores da Fefeléchi. Alunos e mestres foram caracterizados aqui como verdadeiros sofredores. Tão logo voltem as aulas, vou lá para pedir a lista de docentes e a grade horária. QUERO AJUDAR O PESSOAL A RESOLVER SUAS CARÊNCIAS. Prometo pôr meus esforços a serviço da celeridade da reitoria para contratar — só lamentando que também não se possam demitir os ineficientes. Ou será que não os há? Ou será que a autônoma USP é exemplo de gestão?
Mais: precisamos também iluminar a questão salarial: qual é o salário que se paga e por quantas horas de serviço. Precisamos saber os mecanismos de transparência existentes para avaliar se elas são mesmo cumpridas, para o bem da universidade e dos alunos. É o que cobramos de todo servidor público; é o que o patrão cobra dos empregados na iniciativa privada. Por que não na USP? Estudantes e professores encontraram neste trabalhador dedicado — olhem-me aqui, de madrugada… — um defensor entusiasmado da educação e da eficiência.
Vão ficando
Por isso, eu não pretendo mais dar muita bola à tal invasão. Por mim, que fiquem lá. Até já sugeri que se façam placas indicativas na USP. Os turistas já começaram a visitar o local. Agora, só falta o aviso: “É PROIBIDO ALIMENTAR OS INVASORES”. A exemplo do que se faz no Simba Safári, poder-se-ia produzir uma ração específica, balanceada. Não tou nem aí. Deixemos a polícia para proteger os pobres, os que nunca poderão invadir a reitoria.
Suely Vilela
Renúncia, já disse, é ato unilateral. Mas ficou claro, mais uma vez, nesta segunda, que esta senhora não tem condições de ser reitora da USP. À sua péssima condução do conjunto da obra se deve essa pequena anarquia que se instalou lá. Eu duvido que haja condições de ela retomar o trabalho, com o devido respeito de seus pares. Terá a autoridade necessária?
Dalmo DallariO dito jurista fez um texto em que acusa o governo de ter cometido inconstitucionalidade. Dallari não é jurista: é petista, pai de ex-vereador petista e sogro de petista — do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Se jurista, haveria de ter encontrado, nestes quatro anos e meio de governo Lula, alguma ilegalidade, não? Ou não foi cometida nenhuma? A palavra jurista deriva de “jus”, equilíbrio, que remete àquela balança, segurada por uma mulher de olhos vendados. Dallari não só não prima pelo equilíbrio — ele pende sempre para um lado só (daí que eu conteste, etimologicamente, a sua condição de jurista) — como tem os olhos sempre bem abertos: e olha sempre para a esquerda.
Seu texto só serve para dar apoio à invasão, cuja ilegalidade ele não condena. É jurista? Só se for jurista dos seus pares. Logo… É, desde 1980, petista. Pedem-me que comente aqui o artigo. Àquele parecer, outros tantos poderiam contrapor contestações. Não vou cair nesse jogo. Se há ilegalidade nos decretos, que o advogado Dallari instrua os seus aliados políticos a recorrer à Justiça. A invasão é banditismo e crime. Impedir quem assistir aula de exercer o seu direito também é.
Este senhor deve imaginar que o Brasil ainda vive um regime de exceção. A única exceção hoje vigente na USP, a única discricionariedade evidente, é a praticada pelos comuno-fascistas. Levarei as minhas filhas para ver os invasores: “Nunca façam o papai passar essa vergonha”.