Agência Brasil reconhece que errou em notícia que cita a VEJA e, ao tentar corrigir o texto, erra de novo. Aguarda-se nova correção
Às 18h51 de ontem, publiquei aqui um post apontando um erro de informação numa reportagem da Agência Brasil, assinada por Luciana Lima. Trata-se de uma agência oficial. Seus textos são reproduzidos por blogs, sites e jornais Brasil afora. Quando se publica uma informação errada, é preciso corrigir — o JEG e a BESTA não fazem […]
Às 18h51 de ontem, publiquei aqui um post apontando um erro de informação numa reportagem da Agência Brasil, assinada por Luciana Lima. Trata-se de uma agência oficial. Seus textos são reproduzidos por blogs, sites e jornais Brasil afora. Quando se publica uma informação errada, é preciso corrigir — o JEG e a BESTA não fazem isso porque, por lá, eles não erram; cometem crimes deliberados; é coisa diferente. Por isso não se lhes deve cobrar correção — quem sabe um dia a cadeia, mas segundo o estado de direito e a democracia, coisas que eles detestam. Adiante.
Havia publicado a Agência Brasil:
O requerimento para resgatar informações prestadas pelo jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja, em Brasília, à Comissão Parlamentar (CPI) dos Bingos, em 2006, causou discussão entre os parlamentares da CPMI do Cachoeira. O requerimento foi apresentado pelo senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL)…”
Erro grave
O jornalista Policarpo Júnior nunca prestou depoimento nenhum à CPI dos Bingos. É uma mentira espalhada pela esgotosfera. Mais uma! Tão verdadeira quanto os 200 telefonemas com Cachoeira (a canalhada, até agora, não se emendou; seus leitores habituais não existem a verdade, só o capim). Dei aqui a informação correta e cobrei uma correção da Agência Brasil.
Às 21h30, a Agência Brasil publicava a seguinte nota:
Brasília — A matéria “Relator da CPMI do Cachoeira rejeita pedido de informações de jornalista” permaneceu com erro das 11h58 até as 21h11. Ao contrário do publicado no texto anterior, o diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Jr., não depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, em 2006. De acordo com informações da assessoria do senador Fernando Collor (PTB-AL), o parlamentar se referiu, em seu discurso, à CPI da Loterj, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e ao Conselho de Ética da Câmara, na ocasião da cassação do deputado André Luiz, em 2005, processos em que o jornalista foi convidado a testemunhar.
A nota acima remetia para o novo texto, cujos dois primeiros parágrafos são estes, também assinados por Luciana Lima:
Brasília — Ao apresentar hoje (17) requerimento para ter acesso a todas as gravações telefônicas entre o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja, em Brasília, Collor destacou em seu discurso que o jornalista havia prestado informações a outras ocasiões “em favor” de Carlinhos Cachoeira. O requerimento não foi aceito pelo relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), mas causou discussão entre os parlamentares.
De acordo com a assessoria de Collor, as ocasiões a que o parlamentar se referiu foram os testemunhos de Policarpo Jr. na CPI da Loterj, que funcionou na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e durante o processo de cassação do deputado André Luiz, no Conselho de Ética da Câmara, em 2005.
Assim não, Luciana! Assim não, EBC
Expressei no post em que apontei o erro a confiança de que a EBC não repetiria o que fez no caso do Pinheirinho, quando ajudou a espalhar a informação falsa de que tinha havido mortes na desocupação. Apontado o erro aqui, ainda que com 14 dias de atraso, fez-se a correção sem subterfúgios. Desta vez, a EBC produziu um caso que os professores de jornalismo podem usar nas aulas de deontologia.
Curiosamente, a agência repete o erro que cometeu no caso do Pinheirinho. Daquela vez, deu curso à informação de uma fonte furada, que garantia ter havido mortes na desocupação. Não se preocupou em apurar a informação e tratou como se verdade fosse. Ora, no primeiro texto, afirma-se que Policarpo depôs na CPI dos Bingos! Falso! No segundo, confiando na informação do gabinete de Collor, que depôs na CPI da Loterj, na Assembleia do Rio. FALSO TAMBÉM!!! E agora? Será preciso fazer a correção da correção! Convidaram-no, sim, mas ele não foi. Jornalista cobre CPI, não depõe em CPI — a menos que seja investigado, entenderam? A EBC vai ter de corrigir a correção. É uma imposição ética. Se não o fizer, deixará que a mentira prospere.
Questão mais delicada
A EBC e Luciana mandam muito mal nesse caso! O segundo texto não se limita a corrigir o primeiro. Faz-se um novo lead, mudando o “quê” da notícia. E para muito pior! Qualquer um razoavelmente treinado na área percebe:
a) no primeiro texto, o lead chamava a atenção para o pedido feito por Collor; no segundo, dá-se destaque a seu discurso acusatório;
b) o requerimento, que está com a EBC, não toca em CPI da Loterj nem no depoimento de Policarpo na Comissão de Ética da Câmara;
c) se a assessoria de Collor afirma alguma coisa a um profissional da EBC e se isso diz respeito a terceiros — especialmente se desafetos do senador —, o mínimo que se espera é que o repórter verifique se aquilo aconteceu mesmo. Uma coisa é colher uma opinião de uma fonte; outra, distinta, é dar crédito a uma suposta informação sem a devida apuração;
d) no primeiro texto, a EBC procurava informar o que tinha acontecido, mas passou adiante um dado falso, talvez sem querer. Duvidei que fosse má-fé. O ambiente anda muito contaminado pelo subjornalismo a soldo;
e) o segundo texto me deixa com a pulga atrás da orelha: divulga-se uma nova mentira e se manda para o lead a acusação feita por Collor, como se fosse um trabalho da assessoria de imprensa do senador;
f) leiam este trecho: “Collor destacou em seu discurso que o jornalista havia prestado informações a outras ocasiões ’em favor’ de Carlinhos Cachoeira.” DESTACOU? Eu publiquei aqui a íntegra do depoimento de Policarpo ao Conselho de Ética da Câmara em 2005. Collor, no máximo, pode “acusar” — acusação sem fundamento, basta ler. “Destacar” nunca, Luciana! Alguém só pode “destacar” (embora eu seja contra essas variantes modernosas para os verbos de declaração) algo que seja um fato.
A EBC deve nova correção
Não tem como: a EBC terá de se corrigir de novo! E não adianta jogar a responsabilidade nas costas de Collor. Com a imunidade parlamentar — e imune também ao bom senso e ao compromisso com a verdade —, ele fala o que lhe dá na veneta. A EBC é que não pode ser porta-voz de suas mentiras Brasil afora.
A menos que seja esse o intento. Mas não creio. Aguardemos para ver.