Acertei! Empresários da Rede pressionam, e Marina pode disputar Presidência pelo PPS, desde que o partido seja mera barriga de aluguel, sem ingerência na sua candidatura. Reunião acontece na manhã deste sábado. Será que dá?
Eu estava certo. Escrevi aqui nesta sexta que Marina Silva dava pistas de que estava articulando a sua candidatura. Um pequeno fragmento de sua fala sugeria isso: afirmou que o que definiria a sua escolha seria a necessidade de romper com a lógica da “oposição pela oposição” e da “situação pela situação”. Isso, de fato, não […]
Eu estava certo. Escrevi aqui nesta sexta que Marina Silva dava pistas de que estava articulando a sua candidatura. Um pequeno fragmento de sua fala sugeria isso: afirmou que o que definiria a sua escolha seria a necessidade de romper com a lógica da “oposição pela oposição” e da “situação pela situação”. Isso, de fato, não existe, mas eis Marina. De resto, não haveria por que adiar em um dia a decisão se estivesse mesmo determinada a não disputar.
O grupo de Marina debate com dirigentes do PPS na manhã deste sábado, em Brasília, a possibilidade de ela se candidatar à Presidência pelo partido. A ser como noticia o Estadão, em reportagem de Andreza Matais e Eduardo Bresciani, os dois grupos podem protagonizar cenas explícitas de surrealismo político. Não creio que haja erro de apuração, não. A turma da Rede é, sim, capaz de pensar coisas exóticas. A questão é saber se o PPS, que é pequeno, mas dotado de grande valentia, vai se submeter. O que se noticia caracteriza o que seria uma espécie de invasão. Vamos ver.
1 – Vice-presidência do PPS e candidatura avulsa
O grupo acha que Marina tem de ser a vice-presidente do partido — ao menos, entendo, pelo tempo que durar o concubinato. Marina seria a candidata do partido, mas o PPS não teria nenhuma ingerência na campanha. Ela teria autonomia para tomar as decisões.
2 – Empresários que estão no “projeto” querem candidatura
Marina, como a gente sabe, se apresenta como a política mais independente do Brasil, mas ela é deste planeta, não de outro (ainda que alguns duvidem disso). A reportagem diz que o vereador empresário Ricardo Young, do PPS de São Paulo, fez chegar a ela a informação de que o, digamos, núcleo empresarial da Rede quer a candidatura por outra sigla. Pensam assim, além de Young, Guilherme Leal, da Natura, e executivos do Banco Itaú. Informa a reportagem: “Foi dito a ela que não seria possível abandonar um projeto que contou com tantos apoios, inclusive financeiro, na sua trajetória para criar a Rede.” Entendi.
3 – Marina se convenceu, mas decidiu esperar
Marina teria se deixado convencer por esse forte argumento — o empresarial. Adiou a decisão porque preferiu escolher antes a legenda. Essa mesma turma do núcleo financeiro teria recomendado o PPS porque considera o partido programático e estruturado.
4 – Rede dividida entre “sonháticos” e pragmáticos
Houve mais motivos para hesitação: os marineiros mesmo, os de fé, são contra a candidatura por outra legenda. Além do núcleo financeiro, políticos profissionais, oriundos de outros partidos, querem a candidatura — afinal, eles próprios podem ficar em situação difícil. Está nesse grupo Alfredo Sirkis (PV), Miro Teixeira (ex-PDT) e Walter Feldman (ex-PSDB). Ocorre que o que confere mística à Rede é essa outra militância.
5 – Um tal “consenso progressivo”
A reportagem do Estadão traz informações interessantes sobre métodos de consulta e decisão. A Rede adotou um tal “consenso progressivo”: as decisões têm de ser tomadas por consenso. E como se faz isso? Ora, debatendo, debatendo, debatendo e… debatendo mais um pouco. A reunião na madrugada de quinta para sexta para decidir que rumo tomar levou… seis horas. Isso me cheira é a método de tortura. Marineiros espalhados Brasil afora foram ouvidos por videoconferência. Parece que a maioria não quer a candidatura. Foi nessa reunião que Sirkis se desentendeu com Marina, o que o levou a escrever um desabafo. Marina chama isso de “manejo sustentável de ideias”. Bacana… Caso se eleja presidente, espero que aprenda a tomar decisões por maioria…
Será assim mesmo?
Não duvido da apuração, reitero. Acho que parte da Rede realmente gostaria que fosse assim. Estranho é que o PPS possa aceitar a combinação se for como se informa. A mim me parece que o deputado Roberto Freire (SP), que preside o partido, preferiria continuar a ser o “Freire do PPS” a ser o rei da Inglaterra, ainda que lhe fosse oferecido o trono. Segundo reportagem da Folha deste sábado, o próprio Freire ofereceu a candidatura avulsa a Marina. Se é assim, então ele aceita ser rainha da Inglaterra no PPS mesmo. Pergunta óbvia: isso é “nova política”?
De resto, há outras questões delicadas. Como seriam distribuídas as vagas para a disputa pela Câmara? Um pouco para cada grupo? Tão logo a Rede obtenha registro, o PPS se dilui na nova sigla? Mantém a sua identidade? Nessa segunda hipótese, suponho que os eventuais deputados marineiros migrariam depois para a Rede.
Sem uma perspectiva de fusão posterior, que sentido isso faria para o PPS? Não tenho a menor ideia. Fico cá a pensar: Marina Silva e Roberto Freire numa única legenda só aumentaria a espantosa diversidade ideológica existente já hoje. Considerando que o método de decisão é o tal “consenso progressivo”, uma decisão por lá poderia ser mais longa do que o Concílio de Trento, que durou de 1545 a 1563…