A volta do “Queremismo”, o PSDB e o tiro no pé
Qual será o efeito da pesquisa CNT-Sensus, que reforça, com números ainda mais vistosos, o que já havia sido apontado pelo Datafolha? A volta do “Movimento Queremista”, o “Queremos Lula”. Não acho que dê em alguma coisa, mas é claro que vão tentar. Não parece compreensível aos petistas que tenham um presidente aprovado pela maioria […]
Não parece compreensível aos petistas que tenham um presidente aprovado pela maioria dos brasileiros, mas que não consigam fazer o sucessor. Conviver pacificamente com isso significa aceitar o princípio da alternância do poder. E eles o acatam apenas formalmente — de fato, acham que não tem de ser assim. A maioria acredita que está operando uma revolução no poder. E revoluções têm de andar sempre para a frente. Logo, entregar o poder por quê? Vão tentar ficar ali.
Não que o petismo vá ser apeado pra valer mesmo que o presidente venha a ser José Serra ou Aécio Neves. De algumas instâncias do estado e do “para-estado” (se me permitem o neologismo), eles jamais sairão: fundos de pensão e estatais, por exemplo. A razão é simples: chegam lá por meio da máquina sindical. Aliás, caso a oposição realmente vença, será preciso tomar cuidado com a sabotagem. Já escrevi isso aqui diversas vezes.
Mesmo com o apoio da maioria — e sendo o mais lembrado para a Presidência no voto espontâneo, com mais de 23% —, não creio que Lula consiga viabilizar o terceiro mandato. Mas também é besteira achar que um candidato, ou candidata, do governo está fora do jogo. Quando Lula entrar pra valer na disputa presidencial, dando suporte a alguém, essa realidade muda.
Escrevi sobre isso nessa madrugada. Se o seu discurso é hoje beligerante e messiânico como é, imaginem em 2010, quando ele tentará um “Eu ou Eles”. Sempre que algum cretino afirmar que Lula prefere eleger um candidato de oposição para voltar mais forte em 2014, vocês saltem de banda, saiam de perto do sujeito, enfiem a mão no bolso e saiam assoviando… Melhor a solidão. Se Lula conseguir eleger um aliado à Presidência, torna-se o condestável da República. Será, se quiser, o candidato do PT em 2014, pouco importa quem esteja na Presidência. É uma questão de hierarquia. Ele sempre fez o que quis no partido e fará enquanto for vivo. Porque sabe que é bem mais abrangente do que a legenda. Mas me desviei um pouco. Retomo.
Essa disjuntiva entre a avaliação positiva de Lula e a possível eleição, segundo números de hoje, de um candidato de oposição não continuará assim, como está, com essa boca de jacaré: candidata petista lá embaixo; aprovação de Lula lá em cima. As duas trajetórias tendem a se aproximar — ainda que jamais coincidam porque inexiste transferência absoluta de prestígio e de votos.
Os números, dada a realidade, são favoráveis à oposição, em especial a José Serra — mesmo com o PSDB pisando no tomate de modo formidável: troca tapas em São Paulo; junta-se ao PT em Minas… Mas cumpre tomar cuidado. Dilma tem esse índice baixo porque, com efeito, é ruim de cintura. A insistir nela, o partido a fará passar por um intenso trabalho de construção de imagem. Nada que o PT não possa fazer: dispõe de gente competente pra isso e de recursos.
E esse super-Lula, ainda que não esteja — e não estará — com essa bola toda em 2010, vai partir com tudo para tentar fazer o sucessor. A única saída das oposições é a força total. O que é “força total”? Para começo de conversa, PSDB e DEM teriam de estar juntos — tomara que as barbeiragens de São Paulo não atrapalhem. Mais: as duas principais lideranças tucanas, José Serra e Aécio Neves, têm de estar engajadas num mesmo projeto. Isso vai acontecer? Vocês sabem: desde que Lula chegou ao poder, nunca ninguém perdeu dinheiro apostando que o PSDB faria uma besteira.
Apesar do formidável desempenho de Lula nas pesquisas, é o PSDB que está com a arma na mão. O temor de quem aposta em alternância de poder é que ele dê um tiro no próprio pé. Como de hábito.