A sogra de Kaká e a lição

Rosangela Lyra é sogra do jogador Kaká. Leiam o e-mail que segue. Volto depois:

Não sei se leram a matéria da Carta Capital cujo teor não questiono, mas sim a minha suposta participação . A capa tem como título “A Fé e Grana – A justiça cobra explicação do garoto-propaganda da igreja renascer. E a sogra de Kaká, católica, tem suas dúvidas” . A matéria e índice tem fotos minhas de arquivo com algumas declarações que nunca dei à imprensa porque sempre tive o cuidado e a preocupação em não expor minha família independente da situação.

Abaixo meu e-mail à Carta Capital .

Deixo um abraço,

Rosangela
*
Demétrio Carta
Diretor de Redação

Sérgio Lírio
Editor Chefe

Prezados senhores,
Venho através desta manifestar minha surpresa ao ver citações e conclusões sobre a minha pessoa na matéria em questão quando nunca dei nenhuma entrevista ou falei com o jornalista que assina a matéria nem com ninguém da revista Carta Capital. Uma das citações inclusive está colocada entre aspas como se eu tivesse dado a declaração. Com isso sim eu fiquei perplexa !
Sempre tomei bastante cuidado em nunca responder às inúmeras questões feitas pela imprensa sobre o grupo renascer e menos ainda sobre questões familiares . Vocês foram muito imprudentes e me colocaram em uma situação bastante delicada em uma matéria onde são feitas deduções e frases soltas jogadas ao ar como “sogra tem suas dúvidas” , dúvidas de que , da Fé , da grana , da justiça ?
Corrigir o estrago será difícil mas deixo meus protestos para que no futuro tenham mais cuidado em não fazer outra vítima fruto da irresponsabilidade da publicação .
Sem mais,

Rosangela Lyra

Voltei
Antes que comente o e-mail, algumas considerações.

Não tenho qualquer simpatia pelo neopentecostalismo. Cunhei até uma frase: não respeito religião mais nova do que o uísque que eu bebo. Como tenho andado ali entre 21 e 60, a minha lista negra de seitas cresceu bastante. Os pastores da tal Teologia da Prosperidade fazem mais milagres em um único culto do que o Jesus em toda a sua vida terrena. Não dá, né? O Espírito Santo se manifestou uma única vez aos apóstolos. Nos templos da Igreja Universal ou da Renascer, ele dá pinta todo dia. A tal “bispa” Sônia a falar línguas estranhas ainda é das coisas mais pateticamente engraçadas que a TV já apresentou: “Obabalubirabixa quibecrucomkafka…” Cheguei a achar que fosse a pombagira. Mas era só a pomba divinal…

Tenho uma posição firmada a respeito: todo trouxa é livre para ser enganado. Eu, por exemplo, quero distância do capeta. Por isso não entraria num templo da Universal. Eles vivem fazendo exorcismo por lá, sinal de que o rabudo está sempre presente, né? Não há como coibir a liberdade religiosa. O que o estado não pode fazer — e faz — é lhes ceder canais de televisão e rádio, que são concessões públicas. E, no entanto, cede. Edir Macedo constituiu o seu império de televisão com dinheiro da sua seita — a menos que ele prove outra origem para os recursos com os quais comprou a Record. Trata-se, evidentemente, de uma ilegalidade consentida.

Muito bem. Voltemos ao e-mail de Rosangela Lyra. Que aula de jornalismo ela deu ao “professor” Demétrio (Mino) Carta, não? Se eu fosse entrar no mérito da questão, diria que o promotor que investiga a Renascer, Marcelo Batlouni Mendroni, tem indícios muito fortes contra o grupo. Será que ele precisa mesmo, como está tentando fazer, interrogar Kaká? O jogador doaria R$ 2 milhões por ano à seita. E daí? Se é tudo legal, ninguém tem nada com isso. É bom que Mendroni se pergunte se, tendo milhões de doadores aqui no Brasil mesmo, ele não acionou Kaká, em Milão, em busca mais de notoriedade do que de investigação. Segundo o promotor, a Renascer é uma “organização criminosa dedicada à pratica de crimes como falsificação de documentos públicos e privados e outras fraudes como metodologias de colheita de fundos e crime reiterado de lavagem de dinheiro proveniente de atividades da mencionada organização. Tudo de forma continuada e estruturada”. Ok. Que prove então.

Agora convenham: nem mesmo a Renascer justifica que uma revista coloque entre aspas, numa matéria, a fala de alguém que nem foi ouvido pela revista. A Carta Capital precisa aprender a fazer jornalismo direito, independentemente de quem seja o objeto da reportagem.