A provocação iraniana
No dia 24 de fevereiro, escrevi um texto sobre o Irã. Muita gente ficou brava, também pessoas de boa índole, achando que eu poderia estar, sei lá eu, endossando a violência. Peço que leiam aquele texto, que segue em azul. Volto depois aos dias de hoje: A imprensa britânica está definitivamente assanhada com a possibilidade […]
A imprensa britânica está definitivamente assanhada com a possibilidade de os Estados Unidos atacarem o Irã. Ontem, era o esquerdista (ou centro-esquerdista…) The Guardian que tratava da possibilidade — e, claro, suas simpatias, na reportagem, quaisquer que fossem, eram anti-Bush. O jornal deu grande destaque a “fontes” que garantem que os informes da CIA sobre o programa nuclear iraniano são falsos. O roteiro é tão óbvio que chega a dar preguiça. A tentativa é acusar os EUA de estar fazendo com os pobres aiatolás o mesmo que fizeram com aquele vítima indefesa chamada Saddam Hussein…
Ocorre que, desta feita, o Irã admite o programa nuclear. E é a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que está acusando o país de a) não ter seguido as suas recomendações; b) ter reforçado o seu programa nuclear.
Bem, vamos ao ponto. Neste sábado, o conservador The Daily Telegraph sustenta que Israel negocia com os americanos uma permissão para sobrevoar o Iraque como parte de um plano para um ataque aéreo a instalações nucleares iranianas. O jornal atribui a informação a um alto oficial da defesa israelense, o que é negado pelo governo. Segundo o jornal, o serviço secreto, Mossad, tem informações de que o programa nuclear iraniano, mantido o cronograma, estaria em condições técnicas de ter uma bomba nuclear já em 2009. Israel não permanecerá passivo diante de um Irã nuclear. Num longo artigo, Con Coughlin mostra como o país — de fato, a nação — está pronto para a guerra.
Vamos ver. Existe uma falsa questão — talvez seja só má consciência — que mobiliza as esquerdas do mundo inteiro (também a brasileira) em relação a esse tema. Consiste no seguinte: se Israel deixasse amanhã os territórios palestinos, estaria resolvida a questão do Oriente Médio. Bem, é mentira. Grupos terroristas árabes e o Irã — que não é árabe, mas é terrorista — não querem Israel fora dos territórios palestinos, mas fora do mapa. Certo, poderiam dizer os adversários, por que, então, Israel não sai dos territórios ocupados para ver o que acontece? A resposta é simples: porque não seria inteligente nem seguro. Qual é a proposta? Ceder território a um inimigo que jura por Deus — seu Deus! — que vai destruí-lo? Isso é sério ou é brincadeira?
A questão palestina, pois, no episódio iraniano do Oriente Médio, não tem a menor importância. Os “humanistas” de esquerda estão moralmente obrigados a responder a uma outra questão: “Israel tem ou não o direito de existir?” Se a resposta for “não”, então, tudo bem, que o Irã prossiga com o seu programa nuclear. Sem a bomba, o país já patrocina ações terroristas no Iraque, no Líbano e nos territórios palestinos. Sempre a cavaleiro da retórica que prega o fim de Israel. Com a bomba, faria o quê?
Os cinco países do Conselho de Segurança, mais a Alemanha, que tratam da questão, têm de oferecer uma resposta a essas indagações, já que, por ora, descartam uma ação militar contra o Irã. Até porque, meus caros, acreditem: Israel tentará negociar, sim, com os EUA e os outros países qualquer ação mais dura contra o inimigo. Mas não se enganem: se a bomba iraniana for mesmo uma realidade plausível, atacará com ou sem autorização. E o mundo estará à beira do caos. Atacará, e entendam bem: tem 1) o direito de fazê-lo; 2) é sua obrigação. Qual é a alternativa? Morrer berrando feito um carneiro?
Que a esquerda se coloque no lugar do Irã e resolva destilar seu ódio contra Israel, pregando a sua passividade, bem. Compreendo esse, vá lá, ponto de vista. Mas convém que ela se pergunte o que faria se estivesse no lugar de Israel. Eu já fiz esse exercício e tenho uma resposta: jogaria algumas bombas nos cornos dos aiatolás. A menos que guardem o topete debaixo do turbante.
Se alguém tiver alguma idéia melhor…
Voltei
É, apanhei bastante por motivos óbvios. Muitos me acusaram de gostar de guerra tanto quanto, sei lá, Jorjibúchi. No fim de 2005 e início de 2006, o Irã deu início à recente escalada de provocações. Reino Unido, Rússia, Alemanha, França e China chamaram para si a negociação, tentando convencer os aiatolás a interromper seu programa nuclear. Não interromperam: aceleraram. Agora, elevam o fogo da fervura detendo 15 militares ingleses, que acusam de terem invadido as águas territoriais do seu país, o que o governo britânico nega.
Está claro que o Irã, como costuma acontecer com as ditaduras, não dá a menor pelota para as sanções da ONU. Quem paga o pato, nessas horas, é sempre a população. Ao contrário até: as medidas servem como elemento de mobilização. Em vez de o Irã tentar negociar, despachou. Mohamoud Ahmadinejad — que tem pinta de louco, fala como louco e é louco — para fazer proselitismo mundo afora. Notem bem: os iranianos seqüestraram soldados do país que integrava o grupo que busca uma solução negociada. O acordo proposto ao país, é bom lembrar, previa o fornecimento de urânio enriquecido para gerar energia — já que alegam a finalidade pacífica de seu programa nuclear. Teerã rejeitou.
Volto, então, ao texto de 24 de fevereiro: e aí? Vocês acreditam que israelenses e americanos deixarão o Irã fabricar um bomba, tendo como primeiro item de sua pauta a destruição de Israel? Aliás, eis aí uma boa questão para o Partido Democrata dos EUA. A Câmara e o Senado votaram pelo fim da ocupação americana do Iraque. Iraque? Ainda que o resultado não seja lá grande coisa, esse filme já passou. Os democratas poderiam dar uma sugestão sobre o que fazer com o Irã.