A morte de “Seu Frias”
Na Folha On Line. Volto em seguida: O empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha, morreu hoje à tarde, aos 94 anos, em São Paulo. Protagonista da modernização da mídia brasileira na segunda metade do século, Frias pertenceu a uma geração de empreendedores pioneiros dos quais ele era um dos últimos remanescentes e […]
O empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha, morreu hoje à tarde, aos 94 anos, em São Paulo. Protagonista da modernização da mídia brasileira na segunda metade do século, Frias pertenceu a uma geração de empreendedores pioneiros dos quais ele era um dos últimos remanescentes e o único a se manter em atividade profissional até o ano passado.
Em novembro, como decorrência de uma queda doméstica, o empresário foi submetido a cirurgia para remoção de hematoma craniano. Teve alta hospitalar na passagem do ano e, desde então, vinha se recuperando na casa de sua filha Maria Cristina. Suas condições clínicas pioraram nas últimas semanas, levando à instalação de um quadro de insuficiência renal grave. Ele estava inconsciente havia alguns dias. Seu coração deixou de bater às 15h25.
Depois de atuar no serviço público e nos ramos financeiro e imobiliário, em 1962, Frias adquiriu a Folha de S. Paulo em sociedade com Carlos Caldeira Filho. Em algumas décadas, saneou a empresa e a reorganizou em termos industriais, levando a Folha a se tornar o maior e um dos mais influentes jornais do país. Fez da Folha, também, a base do que é hoje um conglomerado que abrange o maior portal de internet do país, o UOL, o jornal “Agora”, o Instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o diário econômico “Valor”, em parceria com as Organizações Globo.
Personalidade inquieta e dinâmica, Frias continuava a receber visitantes, a supervisionar as empresas e a emendar pessoalmente os editoriais da Folha até ser hospitalizado em 2006. Sua atuação na imprensa foi marcada pela independência em relação a governos e grupos econômicos, assim como pela pluralidade das visões que abrigou em seus veículos de informação. Inteligência objetiva, gosto pela inovação e informalidade no trato são aspectos pessoais destacados pelos que conviveram com ele.
Octavio Frias de Oliveira deixa a viúva, d. Dagmar Frias de Oliveira, e os filhos Maria Helena, Otavio, Maria Cristina e Luís.
Voltei
O Brasil e a imprensa têm motivos de sobra para lamentar a morte de Octavio Frias de Oliveira, o “Seu Frias”, como era chamado pelos jornalistas e funcionários da Folha. O jornal teve um papel central da redemocratização do país e fez escolhas que o colocaram, durante muito tempo, na vanguarda do jornalismo brasileiro.
Nas duas oportunidades em que trabalhei na Folha, participei muitas vezes de almoços semanais com editores e convidados do jornal. Refiro-me aos anos de 1992, 1993 e 1996. O octogenário “Seu Frias”, com muita freqüência, percebia com mais rapidez e agudeza o que a muitos de nós chegava um pouco depois. E isso não é folclore ou encômio que fica bem aos que morrem. Era um fato. Dono de uma ironia certeira e de uma objetividade desconcertante, impunha-se por meio da autoridade intelectual, não da condição de “dono” do jornal ou do “velhinho” ao qual se deve respeito e tolerância formais. Não fazia nem um estilo nem outro.
No dia 10 de julho de 2003, vi Seu Frias pela última vez, num almoço que reuniu, além da direção da Folha, também os economistas Luiz Carlos Mendonça de Barros, Yoshiaki Nakano e o filósofo José Arthur Giannotti. Acreditem: aos 90, era o mesmo de havia dez anos, o que me impressionou muito. Interessava-se pelos destinos do Brasil e pelas coisas da política e da economia com o entusiasmo de quem vislumbrava décadas pela frente.
O papel do empresário modernizador, que construiu uma das mais importantes empresas de comunicação do país, será, certamente, devidamente dimensionado pela imprensa. Destaco aspectos de sua atuação pessoal porque prezo, em especial, a força de quem, num dado momento da vida, não se deixou abater nem mesmo pela tragédia pessoal. Levantou-se. Foi adiante. Fez história. Que sirva de exemplo.