A Igreja e os facciosos
Ontem, a BBC Brasil noticiou o que segue. Em seguida, reproduzo trechos de um texto da Efe publicado na sexta. Volto em seguida: O bispo britânico Richard Williamson, que integra uma ala conservadora e dissidente da Igreja Católica, disse que apesar do pedido do papa Bento 16 não pretende se retratar de sua negação sobre […]
O bispo britânico Richard Williamson, que integra uma ala conservadora e dissidente da Igreja Católica, disse que apesar do pedido do papa Bento 16 não pretende se retratar de sua negação sobre o Holocausto e uso de câmaras de gás que mataram milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Williamson é bispo da Fraternidade Sacerdotal Pio X – fundada em 1969 pelo bispo francês dissidente Marcel Lefebvre -, dirige um seminário e realiza missas na localidade de La Reja, na província de Buenos Aires desde 2003.
Em declarações à revista alemã Der Spiegel , que chega às bancas na semana que vem, ele afirmou que antes de se retratar, tem de rever as provas históricas. “Se encontro provas, me corrigirei, mas isso precisa de tempo”, disse Williamson. Suas declarações à publicação alemã foram reproduzidas neste sábado pelos principais jornais da Argentina – Clarin e La Nación – em suas edições online.
Williamson gerou polêmicas internacionais ao negar a existência do holocausto durante uma entrevista a uma emissora de televisão sueca. Suas declarações foram feitas dias antes do anúncio no mês passado de que o Papa suspenderia sua excomunhão e de outros três bispos da mesma congregação. Eles tinham sido excomungados em 1998 por terem sido nomeados bispos por Lefebvre sem a autorização do papa João Paulo 2º.
Agora a notícia da Efe:
O chefe dos lefebvrianos no nordeste da Itália, o sacerdote Floriano Abrahamowicz, desafiou a exigência da Santa Sé de que o Concílio Vaticano II seja reconhecido pelo grupo ao afirmar que ele “é uma heresia, uma droga”.
“O Concílio Vaticano II foi pior que uma heresia, já que significa tomar uma parte da verdade, fazê-la absoluta e negar o resto. Nesse contexto digo que foi uma droga, a maior”, afirmou o sacerdote tradicionalista em declarações ao canal de televisão Canale Italia.
Dois dias depois de o Vaticano ter endurecido sua postura com os lefebvrianos e ter exigido deles que aceitem o concílio para readmiti-los, e que o bispo que negou o Holocausto se retrate publicamente, as declarações de Abrahamowicz são vistas por observadores do Vaticano como um “desafio aberto” dos tradicionalistas ao papa e à Santa Sé.
Estas declarações foram conhecidas ao mesmo tempo em que – segundo publicou ontem o semanário alemão Kolner Stadt Anzeiger – o superior da Fraternidade São Pio X, Bernard Fellay, deve ordenar novos sacerdotes. Fellay – um dos quatro bispos aos quais o papa retirou a excomunhão -, segundo o meio alemão citado pelos italianos, já teria ordenado vários diáconos.
Embora Fellay já não esteja excomungado, o Vaticano disse há dois dias que tanto ele como os outros três prelados ordenados em 1988 pelo arcebispo Marcel Lefebvre, que causou um cisma na Igreja, continuam suspensos “a divinis” (não podem celebrar missa, nem administrar os sacramentos, nem fazer sermões).
Comento
Não parece haver entendimento possível com essa gente, não é? Por eles, a Igreja Católica se transformaria numa seita. Williamson só pode fazer bem à Igreja longe dela. Quanto a Abrahamowicz, convenha-se: a sua liderança, junto aos seus, decorre de sua leitura facciosa. E que se note: isso nada tem a ver com tradição. Até porque ela já entrou em falência onde não há disciplina.
Volto ao assunto depois. Nos termos em que esses dois senhores se manifestam, a vitória da Igreja está em mantê-los afastados.