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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A Era dos Boçais! Três décadas de petismo geraram os “fascistas” cheios de “consciência social”, que trazem a ditadura na alma!

A minha página do Facebook foi invadida por “fascisbikers” e “talibikers” tomados de fúria assassina — não é por acaso que eles vivem atropelando pessoas nas calçadas Brasil afora! — e por supostos militantes do ateísmo. As brutalidades, os xingamentos, as boçalidades, as cretinices, o conjunto da obra, em suma, diz bem qual é a utopia […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 09h22 - Publicado em 9 mar 2012, 07h15

A minha página do Facebook foi invadida por “fascisbikers” e “talibikers” tomados de fúria assassina — não é por acaso que eles vivem atropelando pessoas nas calçadas Brasil afora! — e por supostos militantes do ateísmo. As brutalidades, os xingamentos, as boçalidades, as cretinices, o conjunto da obra, em suma, diz bem qual é a utopia desses caras e dá uma pista de como seria o mundo caso eles estivessem no poder. Ali se vê a capacidade de argumentação, o pensamento largo, o descortino, a delicadeza, a profundidade de argumentos e, acima de tudo, a tolerância! É constatando o que andam fazendo por ali que estou ainda mais convicto de que, de fato, sair pedalando por aí — melhor ainda se for em defesa de uma sociedade laica que destrói até obras de arte com referências cristãs — é lutar por um mundo melhor!

Estão tão certos de sua crença, tão imersos em sua militância, tão dedicados à sua causa que falam abertamente em matar. “Gente como esse Reinaldo não merece viver!”, dizem muitos. Por que não? Porque não defendo o mundo que eles defendem; porque não acredito em suas soluções fáceis e burras para problemas difíceis; porque, em suma, penso de modo diferente. Sempre lembrando que meu texto inicial criticando os bikers os censurava por paralisar a cidade em nome de sua causa. Os fanáticos acreditam firmemente que têm esse direito. Os bikers bocudos são apenas uns burraldos cuja fineza de pensamento é estimulada pelo selim. Já os que se pretendem ateus militantes — ao menos aquela escória que entrou no Facebook (já que os há decentes e sensatos) — padecem daquela ignorância propositiva que faz a certeza dos estúpidos. Que dias estes!

A Internet é uma maravilha! Nestes cinco anos e pouco de blog, tenho entrado em contato — por meio dos comentários e quando, eventualmente, faço uma palestra ou outra por aí — com pessoas muito especiais, com gente que escreve bem, que tem uma cultura sólida, que se dedica à leitura e à pesquisa. Mas há também o lado tenebroso da coisa. Rematados idiotas, cujo pensamento não seria externado antes nem para os familiares, cujas opiniões seriam ignoradas até pelos amigos, ganham voz. É inequívoco que a rede ajuda a reunir a inteligência. Mas também torna a boçalidade visível como nunca antes na história deste mundo.

E não há escapatória: quanto mais cretina e desinformada é a opinião, mais convicto e intolerante é o sujeito com o contra-argumento. Não está interessado em ouvir, mas apenas em sentenciar. Se alguém lhe dá uma referência bibliográfica que conteste a sua convicção, o bruto fica zangado e acha que estão tentando enganá-lo. Duas frases costumam preparar o terreno para a cusparada vertida como opinião: “Não venha me dizer que…” ou “Então quer dizer que…”. Invariavelmente, a oração que ele usa como complemento é algo que ele próprio acusa o outro de dizer, mas que jamais foi dito.

Há dias escrevi aqui um texto lembrando que as mulheres foram as primeiras a aderir ao cristianismo no mundo helênico porque a interdição do aborto as protegia da morte. E citei um livro com um sólido estudo a respeito: “The Rise of Christianity: a Sociologist Reconsiders History”, do americano Rodney Stark. “Ah, então quer dizer que não morrem mulheres por abortos malfeitos no Brasil?” Heeeinnn??? Ontem, escrevi um post demonstrando a conta falaciosa dos tais “milhões de mortos” da Santa Inquisição. E lá veio: “Não venha me dizer agora que a Inquisição não matou ninguém!” Heeeinnn??? É uma coisa muito impressionante!

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Trinta anos de petização das escolas — públicas e privadas, em todos os níveis — criaram esses idiotas cheios de opinião, incapazes de refletir dois minutos sobre um argumento. No caso da retirada dos crucifixos, confundem-se abertamente herança e formação cultural com proselitismo religioso; entende-se o estado laico como sinônimo de um estado que deva promover o ateísmo. Os mais radicais não têm dúvida: Wadih Damous, presidente da OAB-RJ, está certo, e duas obras de arte devem, sim, ser violadas no Supremo para arrancar de lá aquele crucifixo. Não são capazes de dizer por que, então, não devemos revogar outras heranças do cristianismo, aa começar do feriado do Natal.

Na espetacular entrevista concedida ao jornal português “Público”, Josph Weiler, o advogado judeu que defendeu na Corte Européia o direito de as escolas italianas exibirem crucifixos, fez uma brilhante síntese do pensamento tolerante:
“Não podemos permitir que a liberdade de [ter ou não] religião ponha em causa a liberdade religiosa. Temos que descobrir a via média. E essa é dizer “não” se alguém quiser forçar outro a beijar ou a genuflectir perante a cruz. Mas, se houver uma cruz na parede, direi aos meus filhos que vivemos num país cristão. Somos acolhidos, não somos discriminados. A Dinamarca tem uma cruz na bandeira, a Inglaterra e a Grécia igual. Vamos pedir que, por causa da liberdade religiosa, tirem a cruz das bandeiras? Absurdo!…”

Minha religião?
Alguns tontos sustentam que só me atenho a essa questão porque sou católico! Voltaram a me acusar de ser membro do Opus Dei! Se fosse, não haveria nada de ilegal nisso. Feio é paralisar avenidas, ameaçar pessoas, propor a destruição do patrimônio… Mas não sou” Olhem aqui: talvez eu tenha lá minhas contradições — nada do que é humano é estranho a mim… —, mas é difícil me pegar em certas coisas porque penso segundo princípios, o que me livra de ficar me perguntando a toda hora: “O que é mesmo que eu acho disso?” No dia
23 de junho de 2009, escrevi um texto criticando a proibição do véu islâmico nas escolas francesas. Não só do véu. É proibido também exibir um crucifixo no pescoço. O modo francês — e não é por acaso que a Marselhesa é aquele banho de sangue em forma hino! — de garantir a liberdade religiosa é proibindo a expressão de qualquer religiosidade. Acho que isso não só invade direitos individuais como comete o crime cultural de igualar véu e crucifixo —  para a França, são coisas muito distintas, não?

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Mas estes são os tempos. Os valores universais estão em baixa. Em seu lugar, entram as vozes das tais minorias organizadas, dos grupos de pressão, que impõem a sua pauta, os seus valores, porque dispõem dos canais de expressão. E ai daquele que reivindicar aquela coisa besta, como o direito de ir e vir, ou que lembrar que a história não pode ser submetida a uma espécie de revisão permanente, como se só pudéssemos viver num presente eterno. É claro que boçais não são todos os ciclistas, mas os que pretendem fazer terrorismo sobre duas rodas. É evidente que há ateus e agnósticos que compreendem a democracia. Boçais são os que não compreendem

Ainda estou lhes devendo o texto em que prometi voltar àquela questão do infanticídio. Foi espantosa a quantidade de pessoas que condescenderam com a idéia porque, disseram, há mesmo muita gente no planeta, e a Terra está correndo riscos. Acho que entendi a utopia deles: um planeta lindo, vagando nas esferas, sem a presença pestilenta do homem, com a natureza intacta. Não haveria nem mesmo um Stanley Kubrick para filmá-lo…

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