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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A entrevista “pingue-pingue” em que Cardozo tenta fazer a tragédia do Rio “iluminar” e “contribuir”. Vai ver o assassino era, então, um iluminista!

No jargão jornalístico, leitor, uma entrevista com perguntas e respostas — isto é, em que a fala do entrevistado não vai pontuando uma narrativa, um texto corrido — é chamada de “pingue-pongue”, numa alusão ao jogo mesmo. A metáfora é boa. No esporte, ambos pretendem que o outro não consiga rebater a bola. Há uma […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h19 - Publicado em 10 abr 2011, 08h33

No jargão jornalístico, leitor, uma entrevista com perguntas e respostas — isto é, em que a fala do entrevistado não vai pontuando uma narrativa, um texto corrido — é chamada de “pingue-pongue”, numa alusão ao jogo mesmo. A metáfora é boa. No esporte, ambos pretendem que o outro não consiga rebater a bola. Há uma tensão. É evidente que, entre entrevistador e entrevistado, ninguém busca a “vitória”. Já alguma tensão se faz necessária, não?

Criei uma expressão para designar certas entrevistas: “pingue-pingue”. O jornalista pergunta já induzindo uma resposta (pingue); o entrevistador responde, concordando (pingue); o perguntar volta e reforça o argumento (pingue). Temos, assim, a entrevista “pingue-pingue”.

José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, concedeu um pingue-pingue ao Estadão deste domingo.  Segue em vermelho. Resolvi ser o “pongue” de entrevistador e entrevistado. Os meus “pongues” seguem em azul.

Por Bruno Paes Manso, no Estadão:
O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, acredita que a tragédia no Rio ajuda a jogar luz sobre o Estatuto do Desarmamento. Depois do massacre, ele pretende antecipar a campanha do desarmamento, programada para junho, e iniciar as discussões sobre a restrição de posse de armas no País imediatamente.
PONGUE – Como diz Manso, Cardozo acredita que “a tragédia do Rio ajuda a jogar luz sobre o estatuto”. Entendo! É a chamada “tragédia que ilumina”, uma “tragédia iluminista”. Vamos ler a entrevista, então, para saber como o estatuto ficou mais nítido, com a colaboração daquele assassino. Como as palavras fazem sentido – fazem, certo? -, eu espero que Cardoso realmente use bem a “tragédia” como “iluminação”. Vamos ver.

Estadão – Na Grã-Bretanha e na Austrália, depois de massacres em escolas como a de Realengo, foram tomadas medidas restritivas em relação à posse de armas por civis. A tragédia contribui de alguma forma para a discussão?
Cardozo-
Acho que sim. Temos de debater com a sociedade quais pessoas têm condições de usar armas e em que condições. O próprio Estatuto do Desarmamento tem de ser discutido sob a ótica que estamos vivenciando. O número de homicídios e de vítimas feridas em situações de arma de fogo, voluntariamente ou por acidentes, está subindo. Por isso, temos de discutir a questão do porte, quem deve ter, para que possamos ter uma política mais restritiva de posse de arma.
PONGUE – No pingue-pingue, repórter não pergunta, mas fornece argumentos ao entrevistador. Manso está obcecado pela idéia de ver o lado positivo da tragédia: primeiro, ela “ilumina” o estatuto; agora, “contribui” para a discussão. Chegamos à conclusão de que o assassino foi um verdadeiro agente civilizador. Na sua pergunta, o repórter não informa se os índices de criminalidade caíram depois das “medidas restritivas”.
Cardozo, como vocês vêem, concorda. Sim, ele também acha que a tragédia “ilumina” e “contribui”.
O ministro da Justiça está contando a Manso uma grande cascata. Mas, na entrevista pingue-pingue, repórter não acusa os furos no raciocínio do entrevistado. Afinal, os dois têm uma causa, como a primeira pergunta revela. ATENÇÃO, LEITOR! O número de homicídios por arma de fogo está subindo em muitos estados — no Nordeste, é uma escândalo! Mas caiu mais de 70% em 12 anos em São Paulo  (62,4% entre 1998 e 2008). Até no Rio houve uma ligeira queda.
Com a ajuda de setores da imprensa paulista, os petistas se negam a acusar as virtudes da política de segurança no estado governado por adversários. Notem que, até agora, Cardozo não conseguiu usar a “tragédia para iluminar o estatuto”. Não conseguiu dizer o que uma coisa tem a ver com outra.

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Estadão – Na quinta-feira, depois de saber dos ataques, o senhor falou sobre a importância de apressar a campanha do desarmamento. Quais são os planos?
Cardozo –
Haverá um encontro em Brasília na segunda-feira com integrantes do Viva Rio, representantes da sociedade civil e parceiros do governo. Queremos agora definir o cronograma. O plano original era junho, criando novos postos de entrega e preparando o pessoal para receber as armas. Mas queremos acelerar e lançar antes, para aproveitar as reflexões que infelizmente foram provocadas pela tragédia. Vimos pelo Mapa da Violência que toda vez que se faz uma campanha de desarmamento há uma redução nas taxas de homicídio. A campanha por si só já é válida. Mas a ideia é ir além e enfrentar essa cultura do armamento. Além de outras perspectivas para aperfeiçoar a legislação em vigor.
PONGUE – Cardozo não conseguiu “iluminar”, o repórter não quer saber — embora, na abertura, venda esse peixe — e pede que o ministro relate o que poderia ter sido oferecido pelo release do Ministério da Justiça.
Vejam lá: o ministro da Justiça vai ficar esperando que bandidos e psicopatas entreguem armas para que ele possa esmagar com tratores.
Não! As palavras de Cardozo não correspondem à verdade! O Mapa da Violência demonstra que a queda no número de homicídios dependeu apenas de São Paulo. Não tem relação nenhuma com campanha. E esse número voltou a subir quando as mortes destrambelham no Nordeste — em São Paulo, continuou caindo. No mais, dizer o quê? Fico aqui a imaginar o meliante ou o psicopata a pensar: “Huuummm… Não! Não vou matar! Vi na TV que é feio esse negócio de usar armas”.
Sobre as  mortes acidentais, uma pergunta: quantas são elas? Que diabo de país é esse que tem mais de 50 mil assassinatos, em que as fronteiras são terra de ninguém, em que armas e drogas entram livremente no país (aliás, quem tem de cuidar dessas coisas é Cardozo!), mas que se entrega ao desplante de fazer campanha para desarmar o cidadão comum?

Estadão – Hoje há vídeos na internet que ensinam como usar speed loader. Há espaço para o governo intervir nessa área?
Cardozo –
A internet é um espaço de livre discussão. Temos de levantar esse tema polêmico com a sociedade e discutir até onde deve ir essa liberdade.
PONGUE – É o flerte do censurado Estadão com a censura. O país não tem de proibir filmes que ensinem a usar speed loader. Tem é de impedir a venda ilegal de speed loader. Mas Cardozo diz as palavras certas, considerando a sua origem: “discutir até onde deve ir a liberdade”. Os limites da liberdade são uma obsessão do PT. Hoje é isso, amanhã …

Estadão – Existem cursos de tiros que permitem adolescentes. Como restringi-los?
Cardozo –
Acho que temos de discutir com a sociedade e tomar medidas restritivas. Não faz sentido menor de idade fazer curso de tiro. São questões que têm de ser abertas imediatamente.
PONGUE – Eu não sou favorável, deixo claro, a que menores de idade façam curso de tiro, sempre destacando que a questão nada tem a ver com a tragédia, que, como vocês viram, não “iluminou” nada! Destaco um cacoete do ministro: “Discutir com a sociedade”. Aposta-se na comoção para fazer a coisa errada.  Cardozo quer “abrir as questões imediatamente”. Ok. Mas o que isso tudo tem a ver mesmo com os eventos do Rio?

A tragédia não iluminou nada; entrevistado e entrevitador conseguiram torná-la ainda mais escura!

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