A eleição em SP, algumas questões de princípio, o que eu quero e o que jamais faria
Eu acho que o tucano José Serra disputará a o segundo turno da eleição em São Paulo. Torço por isso e espero que vença a disputa. Não escrevo nenhuma novidade. Mais: acredito que terá mais acolhida do que lhe conferem os institutos de pesquisa. Existe uma espécie de voto envergonhado no PSDB em razão da […]
Eu acho que o tucano José Serra disputará a o segundo turno da eleição em São Paulo. Torço por isso e espero que vença a disputa. Não escrevo nenhuma novidade. Mais: acredito que terá mais acolhida do que lhe conferem os institutos de pesquisa. Existe uma espécie de voto envergonhado no PSDB em razão da pressão das milícias petistas — inclusive aquelas que atuam na grande imprensa (ver números num post abaixo). Mas digamos, só por hipótese (batam aí na madeira), que a jornada final fosse disputada entre Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT). O que eu faria diante dessa eventual tragédia?
Anularia gostosamente o meu voto! É uma opção que a democracia oferece, a exemplo do voto em branco. Nesse caso, o eleitor está dizendo que, para ele, tanto faz: qualquer um serve. O nulo tem uma qualidade diferente: corresponde a afirmar que nenhum serve. Em nome de que fundamento eu faria uma escolha entre o obreiro de Edir Macedo e o obreiro de Luiz Inácio Apedeuta da Silva? Não mesmo!
Quando as coisas andavam bem ruins para Serra — o cenário parece ter mudado —, ouvi aqui e ali aquela conversinha: “Pô, gente, Russomanno não dá! Tapo o nariz, mas voto no Haddad”. Não! Justamente porque o meu nariz não muda a realidade — e, pois, não o taparia! —, jamais faria isso. Por que eu daria meu voto a alguém que considera que matar depois de ler livros é moralmente superior a matar antes de lê-los? Por que eu daria meu voto ao responsável pelos aloprados kits gays, que são uma ofensa a qualquer fundamento razoável da educação de crianças e jovens? Por que eu daria meu voto ao ministro que armou a bomba, em várias frentes, do populismo universitário, que comprometerá o setor por gerações? Por que eu daria meu voto ao político em cuja gestão explodiu o analfabetismo (!!!) dos estudantes de terceiro grau?
E isso tudo ainda diz pouco. Por que eu daria meu voto àquele que representa uma confessada maquiagem do lulismo? Pesquisem no Google as motivações de Lula para tê-lo feito candidato. Queria alguém que fosse palatável à classe média paulistana e, como confessou no “Programa do Ratinho”, “bonitão”. Vale dizer: o lulo-petismo, que está em declínio, precisa de um Bell’Antonio para reciclar as suas forças. Com um orçamento de R$ 40 bilhões nas mãos, a tarefa ficaria mais fácil.
Será que, para impedir Russomanno de chegar à Prefeitura, valeria até um voto no lulismo? Mas nem debaixo de chicote! Costumo dizer que a Igreja Universal do Reino de Deus é o petismo da religião, assim como o petismo é a Igreja Universal da política. Uma representa a corrupção — na acepção nº 1 do dicionário — do cristianismo (e isso, reitero, nada tem a ver com os fiéis, que costumam crer por bons motivos); o outro representa a corrupção (em sentido amplo, incluindo o nº 1, da política).
Por óbvio, como está claro, não votaria também em Russomanno porque não vislumbraria em nenhum deles um mal menor. São males distintos, que podem eventualmente se combinar e se harmonizar, a exemplo do que acontece na esfera federal. Afinal, Dilma deu um ministério a Edir Macedo, por intermédio de Marcelo Crivella, sobrinho do sedizente “bispo”. Ao assumir, confessou que não sabia botar uma minhoca no anzol. Levou a pasta dentro da tal lógica do loteamento. Mas volto ao eixo.
Ainda que os petistas atuem, quando necessário, como ordem unida, o fato é que o partido tem matizes. Haddad é hoje a face edulcorada do pior petismo — que é justamente o lulista. O Babalorixá de Banânia se tornou uma força reacionária dentro de sua própria legenda. Sem ele, por exemplo, o julgamento do mensalão estaria correndo, os réus, sendo condenados, e o próprio partido poderia tocar a sua vida, descolando-se, afinal, daqueles que foram pegos pela legalidade. Mas não! A vaidade fez com que o Apedeuta investisse — de novo! — na tese do suposto golpismo das elites (como se o PT não fosse hoje o bibelô das ditas-cujas) e mobilizasse uma fatia considerável do partido contra o… Poder Judiciário.
A este PT ousaria alguém me pedir um voto útil contra Russomanno? “Voto útil” a quem? Às forças obscurantistas que já deixaram claro que não aceitam o funcionamento regular das instituições do regime democrático e de direito? Nem pensar! “Ah, então, só para não votar no PT, você entregaria a cidade…” Podem os que assim pensam interromper a frase antes de concluí-la! Não quero entregar a chave do cofre nem a Russomanno/Macedo nem a Haddad/Lula, ora essa! “Ah, mas alguém a teria de qualquer jeito…” Que fosse! Mas não com a minha conivência. O mensalão é a evidência do respeito que essa gente tem pela coisa pública!
Com o meu voto, o moribundo lulo-petismo não ganharia o direito de morder mais alguns pescoços. De resto, é evidente que a cidade é apenas um instrumento da turma para alcançar o que considera mesmo a joia da Coroa: o Palácio dos Bandeirantes. Justamente porque tenho nariz, nem Haddad nem Russomanno!
Escrevo este texto para deixar claro o que entendo estar em jogo. Não creio — não se trata de uma previsão, claro!; é só uma torcida — que os moradores de São Paulo terão de se haver com essa hipótese trágica. Que esta bela manhã seja prenúncio de um outro futuro. O julgamento em curso no Supremo — ainda preciso tratar do assunto de forma mais detida — tem mobilizado uma esperança nova em muitos brasileiros: ninguém precisa recorrer ao crime para mudar o país ou para ser justo. E os que fazem essa escolha têm de ser punidos.
Tomara que as urnas se alimentem dessa boa-nova!