A educação e o Zeitgeist
O molestamento ideológico a que estão sujeitos nossos alunos, insisto, não é coisa irrelevante. A questão não se resume a este ou àquele professores. Instalou-se uma cultura nas escolas que pretende transformar o estudante num militante político. Como Ali Kamel já deixou claro em artigos em O Globo e também demonstrei aqui há alguns meses, […]
Talvez algum historiador da educação se interesse pelo tema. O mal está presente também nas universidades. Faculdades das áreas das chamadas Ciências Humanas se tornaram verdadeiras madraçais do antiamericanismo, por exemplo. Uma compreensão tosca do marxismo faz dos estudantes juízes da história. Dali saem os professores que vão, então, reproduzir o modelo que aprenderam.
Os comentários de solidariedade àquelas incríveis aulas daquele professor continuam a chegar. Selecionei dois. Vale a pena lê-los (os textos estão como chegaram, em vermelho; comento em azul).
Em primeiro lugar o profesor Carlão não estava comemorando a morte de ninguém,mas sim,a ruptura da idéia de que os Estados Unidos são invenciveis e inatacaveis. E o pseudo nacionalismo estadunidense.
Muito melhor um professor que mostra a história inteira, do que partes dela.
A forma como ele age leva, nós alunos, a pensarmos por nós mesmos e a formarmos nossa própria opnião. Infelizmente a individualidade do raciocínio não parece ser apreciada. Pra vocês que tanto falam mal dele,talvez fosse melhor que nós virassemos ovelhas.
E a Veja mais uma vez com seus comentários parciais.
Quem lê deveria saber usar o próprio discernimento e não aceitar cada palavra escrita.Ele é um excelente professor e como qualquer um tem o direito de expressar opinião,ou não tem?
Comento
Viram só? A pessoa que escreveu interpretou direito a dança macabra do professor: ele apenas estava comemorando a “a ruptura da idéia de que os EUA são invencíveis e inatacáveis”. E essa ruptura se deu como? Ora, com atentados terroristas.
Juízo apressado de um aluno? Em primeiro lugar, é bom que fique claro que muitos dos nossos intelectuais de esquerda pensaram e pensam o mesmo. Em segundo lugar, notem que o aluno adota a visão do mestre, embora, suponho, tenha muito menos informações do que ele. Uma coisa, claro, é expressar uma visão crítica sobre a política americana no Oriente Médio — embora, evidentemente, o terrorismo nada tenha a ver com isso. Mas vá lá. Outra, distinta, é, então, comemorar a vulnerabilidade americana, que trouxe conseqüências terríveis para os EUA e o mundo.
Observem mais: para o estudante que escreveu, a prova do discernimento é concordar com o professor. Os que divergem seriam “ovelhas”, “sem opinião”. Mas esperem: essa “opinião” (ou “opnião”, como ele escreve) é de quem mesmo?
Vamos a outro comentário, este assinado:
Grande mestre Rei e seguidores,
existe uma coisa chamada de sensacionalismo, que no caso os senhores estão empregando em seus comentarios sobre o professor Carlão.
Ele nao precisa apelar para que os alunos prestem atençao nele, pois os mesmos adimiram pessoas que têm opinião própria… Carlao não precisa ser um “esquerdista radical que faz lavagem cerebral em seus alunos” pelo simples fato de discordar da polítca externa norte americana.
Quando falamos em alunos, em jovens, pensamos em pessoas imaturas, facilmente enganadas e iludidas. Estamos lidando com jovens, que em sua maioria, ja atingiram a maioridade penal tendo assim, condiçoes de possuir opiniao própria (nao que os menores nao a tenham…).
Gostaria que os “grandes pensadores” que aqui postam, entendessem que o professor Carlao nao faz alusão ás mortes do 11 de setembro, simplesmente comemora a queda de um icone do capitalismo norte americano, que de fato ele nao concorda.
Se alguem presente em sala se sentir ofendido com a comemoração, se retire, pois essa pessoa tem plena capacidade mental de avaliar o que quer assistir em sala de aula.
Carlao tem total direito de expressar suas idéias, assim como seus alunos têm total direito de concordar ou não.
Os senhores dizem que os alunos sao manipuldos pelo Carlao… E os senhores? ja pensaram se realmente possuem opiniao própria? Porque o que vejo, são pessoas criticando um professor apenas por causa de um vídeo e de um comentario do “Rei”. Antes de criticar, procurem bases para suas críticas em algo mais concreto que um simples video.
Grato pela compreensão desses “pensadores”…
Dantas
Comento
Percebam o movimento ensaiado. O homem dança, simbolicamente, um “vai rolar a festa” sobre milhares de cadáveres, mas “simplesmente comemora a queda de um ícone do capitalismo norte americano”. Estudantes estão sendo levados a crer que a queda do “ícone” — uma palavra muito típica desse tipo de peroração — do capitalismo comporta até mesmo atentados terroristas. Com efeito, o que Dantas diz, em consonância com seu professor, confere, por exemplo, com o pensamento de Octavio Ianni, um sociólogo de esquerda que morreu em 2004, segundo quem a Al Qaeda não era terrorista, mas revolucionária.
Espanta-me ainda que esses alunos mandem comentários com tantos erros, numa redação de arrepiar. Claro, eu mesmo erro aqui, escrevendo tanto. Os leitores me ajudam com correções. Ao enviar o que consideram ser uma resposta a alguém que contestam, com o risco de que ela venha a se tornar pública, parece-me que o normal seria que esses alunos tomassem especial cuidado — usando, quando menos, o corretor do Word.
Vivemos o espírito de um tempo, um Zeitgeist. O discurso que Lula fez hoje à tarde sobre uma suposta conspiração contra os interesses brasileiros não difere muito do que vai acima, não. O apedeutismo nas escolas não é coisa recente; de maneira esporádica, sempre existiu aqui e ali. Como militância organizada, no entanto, é coisa dos últimos 20 anos. Coincide com o triunfo do petismo, que sindicalizou mais do que as relações de trabalho: sindicalizou também a história.
Lembro de novo: essa pregação ideológica vagabunda existe de forma muito mais aguda nas escolas particulares, que oferecem, na média, condições de trabalho um pouco melhores do que as escolas públicas. Pais e mães estão se sacrificando para pagar mensalidades, e seus filhos estão permanentemente expostos à mensagem de que o esforço é vão, de que tudo o que está à nossa volta não passa de manipulação barata do capitalismo e do mercado; que a competição e a vitória dos melhores são armas dos “sistema” para dominar as consciências.
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