A Cartuxa de Parma de Fabrizzio e a ermida de Guaribas de Marco Aurélio…

Marco Aurélio Sargento Garcia, o presidente do PT, também falou na reunião do diretório. É aquele senhor baixinho, gordinho, de barbas brancas, notório por acumular tártaro nos dentes e nas idéias, para quem os jornalistas formam uma “malta” — súcia, bando, grupo de pessoas de má reputação. Falando aos petistas — o que quer dizer que são parceiros de Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Genoino, José Dirceu, Jorge Lorenzetti, Gedimar Passos, Hamilton Lacerda, Waldomiro Diniz, Luiz Gushiken, Ricardo Berzoini… —, Garcia rejeitou a despetização do governo e afirmou que muitos usam o termo como se fosse sinônimo de desratização. Eu concordo com ele. Também acho que não haverá a desratização…

Marco Aurélio, como sabem, é o atual maître a penser do petismo. Por isso, enquanto Lula vai traduzindo a política em moeda barata, o ombudsman do jornalismo pátrio cita Stendhal. Afirmou, para espanto quase certo dos presentes, que o PT não pode fazer como Fabrizzio Del Dongo, “que participa da batalha de Waterloo sem perceber que estava no meio de um acontecimento que mudaria a face do mundo”. Referia-se à personagem principal do romance A Cartuxa de Parma, um jovem da nobreza italiana que se alista no exército de Napoleão.

Eu sou capaz de apostar que o “inteliquitual” Marco Aurélio não leu o livro de Stendhal, daí esse reducionismo cretino, que trata Fabrizzio como se fosse um pobre idiota. Leiam o romance, relançado pela editora Globo não faz muito tempo. O “acontecimento que mudaria a face do mundo”, com efeito, não tem maior importância no livro, dedicado a retratar, por meio de histórias privadas, a Europa que agoniza e a que está em nascimento, numa costura impecável entre a vontade individual e a marcha da história. Na edição que tenho, há um excelente ensaio de Balzac sobre Stendhal, com destaque para A Cartuxa de Parma. É mais generoso com Fabrizzio do que Marco Aurélio. Ser a batalha de Waterloo uma espécie de nuvem nas aventuras de Frabrizzio constitui uma das belezas da obra.

Leiam trechos das reportagens do Estadão e da Folha:Por Vanice Cioccar no Estadão: “Na primeira reunião do diretório do PT após a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, minimizou a tese sobre ‘despetizar’ o governo. ‘Fala-se dessa despetização quase como se tratasse de desratizar algo’, reagiu. Em discurso que antecedeu o de Lula, ele defendeu a necessidade de governar com outros partidos, citou PSB e PC do B e destacou que um governo de coalizão ‘não é um condomínio, baseado na distribuição fisiológica de cargos’. Para Garcia, o PT tem quadros para governar, mas é necessário compartilhar o governo com outros partidos e ampliar sua base. Preocupada com a ampliação da presença do PMDB, a cúpula do PT deve aprovar resolução na reunião deste fim de semana em que condena a ‘despetização’ do segundo mandato de Lula e defende um núcleo político de esquerda com PSB e PC do B para manter a hegemonia no governo de coalizão. Na tentativa de acalmar os petistas, Garcia disse ‘a proposta de despetização nasceu da tese falsa do ‘aparelhamento’ do Governo’. ‘Não houve aparelhamento nem haverá despetização’, garantiu. (…) A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), também criticou o termo ‘despetização’ e defendeu indicação de pessoas com qualificação técnica e política para o ministério. ‘Ministro geralmente é um ser anfíbio: técnico e político’, afirmou Dilma. ‘Acho que é bom ter qualidade técnica, mas é necessário ter qualidades políticas, ou então o ministro se torna um tecnocrata.’” Clique aqui para ler maisE na Folha: “Se Lula pediu calma na partilha dos cargos e o fim dos erros, o PT também tratou de mandar seus recados ao presidente. Em discurso que leu pouco antes da fala de Lula, o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, rechaçou a hipótese de uma “despetização” do governo, que ele comparou a uma “desratização”.”Fala-se dessa despetização quase como se se tratasse de desratizar algo. Partem da tese do aparelhamento. Não houve aparelhamento e não haverá despetização”, disse, muito aplaudido. Avisou que o debate interno petista não é ‘fogo amigo’. Assinante da Folha lê mais aqui

PS: Fabrizzio terminou seus dias na Cartuxa de Parma, “situada nos bosques próximos ao Pó, a duas léguas de Sacca”. Para Marco Aurélio, sugiro uma ermida em Guaribas, cidade do Piauí onde foi lançado o programa Fome Zero, que já morreu, e onde a fome ainda não acabou. É só uma questão simbólica. Nada contra o valente povo do Piauí, terra do magnífico Mário Faustino.