A canelada é parte da política, sim, senhores!
Marta Suplicy tem chance de se eleger prefeita de São Paulo, apesar da rejeição que tem hoje e de o campo antipetista ter muito mais votos na cidade? Tem, sim, claro. E isso depende, em boa parte, da quantidade de bobagens que os adversários façam — como se já não bastasse a maior delas: estarem […]
O deputado Edson Aparecido (PSDB-SP), coordenador da campanha do tucano Geraldo Alckmin, não gosta muito do que escrevo, sei disto. Fazer o quê? Ele costuma dar sempre motivos novos para as dissensões… A que me refiro? Comecemos com uma questão geral.
Vocês sabem que fui contrário a que tribunais eleitorais — os regionais ou o TSE — divulgassem a tal lista dos “fichas-sujas”. Já expus os motivos. No estado de direito, ninguém é culpado até que a sentença não tenha transitado em julgado. E não acho que devamos abrir mão disso. Critiquei a própria Associação dos Magistrados Brasileiros, embora seja entidade privada, por divulgar a lista. Acho uma exorbitância ética de um ente que reúne juízes. Na minha opiniões, que ONGs e partidos se encarregassem do assunto. Adiante.
Isso é uma coisa. Outra, diferente, é querer impedir que a questão vire tema de campanha. Ora, os adversários têm todo o direito de informar o leitor e de explorar o tema politicamente. Por que não? A campanha de Gilberto Kassab (DEM) botou em praça pública a informação (ver imagem acima). E quem reclamou, com aquele ar de Madre Tereza da política? Ora, Edson Aparecido, o tucano. Aí não é possível, né? Não que lhe falte serviço. Por que ele não cuida do seu arraial, deixando em paz o de um potencial aliado no segundo turno?
Só no Brasil
Observaram que, antes da chegada do PT ao poder, as campanhas políticas pegavam pesado nas reais ou supostas falhas éticas dos adversários? Pois é. Vocês sabiam que assim é em todo o mundo democrático? Ou não vimos as muito caneladas que Barack Obama e Hillary Clinton trocaram nas primárias? Política não é atividade de santos — a não ser aqueles de pau oco.
Leio o noticiário e vejo o prefeito Kassab sendo levado a negar que esteja batendo em Marta com o objetivo de crescer nas pesquisas. Santo Deus! Então não é? Que mal há nisso? Volto ao parágrafo anterior: com a chegada dos petistas ao poder, “bater” passou a ser uma coisa feia em política. Todo mundo tem de ser apenas propositivo! É uma tese asnal.
O próprio Alckmin experimentou, em 2006, o quão mentirosa é. Ela funciona quase sempre numa situação muito específica: para quem está na frente. Na prática, o tucano lidera a disputa — já que será decidida no segundo turno, não no primeiro. Poderá, então, encarnar a Madre Tereza da disputa — desde que, e esta é uma condição, um adversário não lhe pespegue alguma pecha que caia no gosto popular. O líder deve seguir falando em amanhãs sorridentes, evitando a campanha negativa.
Mas e quem está atrás? Caso se limite apenas a desconstruir o outro, sem propostas, não chegará muito longe. Tem de oferecer algum futuro e, tanto melhor, se tiver também um passado. Kassab tem os dois. Mas não pode abrir mão, de jeito nenhum!, da política do confronto — isso a que Aparecido chama de “canelada”. E fazê-lo é absolutamente legítimo, parte do jogo, aqui e em qualquer democracia do mundo. Mas entendo que o deputado tucano censure o outro. Por ele, Kassab ficaria quietinho, sendo acionado na hora certa como reserva estratégica — o que seria outra tolice.
Aparecido precisa ser mais modesto. Ele foi um dos comandantes da derrota de 2006. Convém não repetir os mesmos erros.