A BOBAGEM EM ESTADO BRUTO. OU: A SOMA QUE DIMINUI
Na Folha de domingo, há uma bate-papo de Eliane Catanhêde com o neobolivariano Celso Amorim, o, por assim dizer, ministro das Relações Exteriores do Brasil. Ela sempre é uma fonte confiável quando se trata de saber o que Amorim anda, vá lá, pensando… Já comentei aqui algumas das declarações deste Colosso de Rhodes da diplomacia. […]
Na Folha de domingo, há uma bate-papo de Eliane Catanhêde com o neobolivariano Celso Amorim, o, por assim dizer, ministro das Relações Exteriores do Brasil. Ela sempre é uma fonte confiável quando se trata de saber o que Amorim anda, vá lá, pensando… Já comentei aqui algumas das declarações deste Colosso de Rhodes da diplomacia. Nesta segunda, resultado certamente daquele encontro, há um outro texto, este intitulado “Documento sobre bases gera suspeitas do Brasil”. Trata-se da divulgação da tese cínica, já que nem o governo acredita nela (e seria só paranóia se acreditasse), de que os EUA teriam alguma intenção secreta na decisão de ampliar o uso de bases militares na Colômbia.
Um dos trechos encantadores da reportagem de hoje é este — mas ainda não é o que mais provocou a minha inteligência. Leiam:
“Pelo documento, operações a partir da base de Palanquero com o avião militar C-17 podem cobrir metade do continente sem necessidade de paradas técnicas de reabastecimento, o que reforça a desconfiança do Brasil e de países vizinhos de que o objetivo da ampliação militar americana na Colômbia não é interno, para combate à narcoguerrilha, mas externo, para aumentar a presença dissuasória no continente.”
Comento
Isso é pura ilação, claro. Mas digamos que os EUA estivessem realmente pensando em “aumentar a presença dissuasória” no continente. Qual é o problema? Os EUA não são, por acaso, uma nação amiga? Se, por qualquer razão, um país da América Latina se tornasse alvo de alguma ameaça nuclear, a quem caberia a defesa? Aos bolivarianos de Chávez, Correa e Evo Morales?
Bem, pode-se considerar também que não se trata de ameaça externa; que os EUA estariam preocupados com questões internas. Sei… Mas que questão interna seria essa que repudiria uma “força dissuasória” americana? Notem que se fala de “força de dissuasão”, não de “ataque”. Qual é o busílis?
Alguém, além de Chávez, Corrêa e Evo, anda com idéias estranhas, a que forças dissuasórias seriam hostis? Isso, claro, na suposição, imbecil por si mesma, de que os EUA precisariam de bases na Colômbia ou em qualquer lugar da América Latina se quisessem realmente intervir em algum país. A hipótese é uma combinação de ignorância de um lado com má-fé de outro.
A questão
Mas o trecho do texto de Catanhêde que realmente me atormenta é este. Leiam com atenção:
“Além disso, Planalto e Itamaraty temem que a investida dos EUA tenha como meta neutralizar a aproximação da Venezuela com o Irã e com a Rússia.”
Caro leitor, o que será que o governo e Cantanhêde querem dizer com isso? Não entendi. Se os EUA quisessem mesmo “neutralizar” a aproximação da Venezuela com o Irã e com a Rússia, isso seria, então, uma coisa ruim para o Brasil, decorrendo daí o protesto do nosso governo, é isso? Então, Amorim e Cantanhêde querem que acreditamos que:
1 – o uso de bases da Colômbia pelos EUA é coisa negativa e vem para combater a aproximação da Venezuela com Irã e Rússia, que passa, por dedução, a ser a coisa positiva;
2 – o Brasil tem mais motivos para temer a presença americana na Colômbia do que a influência russa e iraniana na Venezuela;
3 – os EUA, um país das Américas, estabelecer cooperação militar com um parceiro de continente é realmente coisa suspeita. Especialmente quando se sabe que esse país é uma democracia. Já a colaboração militar de uma ditadura teocrática do Oriente Médio e de uma, como chamarei?, “democracia à moda russa” é coisa aceitável. Não! É mais do que isso: é até DESEJÁVEL. Notem que o Brasil “teme”. Se teme, é porque acha aquela aproximação boa.
E só para…
E só para não deixar passar. O texto volta àquela bobagem de comparar o armamento da Venezuela encontrado com as Farc às armas ilegais que chegam às favelas do Rio. Trata-se de uma boçalidade. Uma coisa é comprar armas no mercado negro. Outra, diferente, é recebê-la de um Exército regular, como aconteceu. O primeiro é um caso de polícia. O segundo, de declaração de guerra. Especialmente quando há uma vasta documentação explicitando as relações entre os oficiais desse Exército (no caso, o venezuelano) e os terroristas — no caso, as Farc.
Amorim já é ruim o que chega sozinho. Com ajuda, temos o fenômeno maravilhoso da massa negativa: É A SOMA QUE DIMINUI. A soma consegue ser menor do que cada uma das partes tomada individualmente.