A “Stasi” petista entra em ação no Enade
Como vocês estão cansados de saber, nunca peço que vocês acreditem em mim. Sempre indico a fonte. As provas do Enade (o antigo provão, agora na versão parcial e incompetente) estão no site do Ministério da Educação. Dei uma lida na de “Formação Geral” (íntegra aqui). As outras também devem reservar surpresas, mas me abstive […]
Como vocês mesmos poderão verificar, as questões variam da indigência intelectual à delinqüência ideológica.
Exemplo de indigência na questão nº 6
Vamos supor que você recebeu de um amigo de infância e seu colega de escola um pedido, por escrito, vazado nos seguintes termos:
“Venho mui respeitosamente solicitar-lhe o empréstimo do seu Livro de Redação para Concurso, para fins de consulta escolar”
Essa solicitação em tudo se assemelha à atitude de uma
pessoa que:
(A) comparece a um evento solene vestindo smoking completo e cartola.
(B) vai a um piquenique engravatado, vestindo terno completo, calçando sapatos de verniz.
(C) vai a uma cerimônia de posse usando um terno completo e calçando botas.
(D) freqüenta um estádio de futebol usando sandálias de couro e bermudas de algodão.
(E) veste terno completo e usa gravata para proferir uma conferência internacional.
Uau! É uma questão para universitários, amigos.
Mas isso é o de menos. O proselitismo esquerdopata está infiltrado em quase todas as questões para atingir o estado de arte aqui, na de nº 10:
Sobre o papel desempenhado pela mídia nas sociedades de regime democrático, há várias tendências de avaliação com posições distintas. Vejamos duas delas:
Posição I – A mídia é encarada como um mecanismo em que grupos ou classes dominantes são capazes de difundir idéias que promovem seus próprios interesses e que servem, assim, para manter o status quo. Desta forma, os contornos ideológicos da ordem hegemônica são fixados, e se reduzem os espaços de circulação de idéias alternativas e contestadoras.
Posição II – A mídia vem cumprindo seu papel de guardiã da ética, protetora do decoro e do Estado de Direito. Assim, os órgãos midiáticos vêm prestando um grande serviço às sociedades, com neutralidade ideológica, com fidelidade à verdade factual, com espírito crítico e com fiscalização do poder onde quer que ele se manifeste.
Leia o texto a seguir, sobre o papel da mídia nas sociedades democráticas da atualidade – exemplo do jornalismo.
“Quando os jornalistas são questionados, eles respondem de fato: ‘nenhuma pressão é feita sobre mim, escrevo o que quero’. E isso é verdade. Apenas deveríamos acrescentar que, se eles assumissem posições contrárias às normas dominantes, não escreveriam mais seus editoriais. Não se trata de uma regra absoluta, é claro. Eu mesmo sou publicado na mídia norte-americana. Os Estados Unidos não são um país totalitário. (…) Com certo exagero, nos
países totalitários, o Estado decide a linha a ser seguida e todos devem-se conformar. As sociedades democráticas funcionam de outra forma: a linha jamais é anunciada como tal; ela é subliminar. Realizamos, de certa forma, uma “lavagem cerebral em liberdade”. Na grande mídia, mesmo os debates mais apaixonados se situam na esfera dos parâmetros implicitamente consentidos – o que mantém na marginalidade muitos pontos de vista contrários.”
(Revista Le Monde Diplomatique Brasil, ago. 2007 – texto de entrevista com Noam Chomsky.)
Sobre o papel desempenhado pela mídia na atualidade, faça, em no máximo, 6 linhas, o que se pede:
a) escolha entre as posições I e II a que apresenta o ponto de vista mais próximo do pensamento de Noam Chomsky e explique a relação entre o texto e a posição escolhida;
b) apresente uma argumentação coerente para defender seu posicionamento pessoal quanto ao fato de a mídia ser ou não livre.
Comento
Trata-se, é óbvio, de um teste ideológico, eivado de sutilezas as mais canalhas:
1 – A reprodução do que é a opinião da esquerda sobre a mídia está, sem dúvida, correta: isto é, reflete a sua visão perturbada sobre a liberdade de imprensa;
2 – A reprodução do que seria a opinião dos não-esquerdistas é, curiosamente, o que a esquerda acha que eles acham da mídia. Ninguém, que eu saiba, faz essa defesa incondicional e de retórica balofa;
3 – De todo modo, bastavam as duas opiniões e o pedido para o estudante expressasse seu próprio ponto de vista. Ah, não. Aí não seria um exame para honrar a melhor tradição da canalhice esquerdista.
4 – É preciso ilustrar com o texto de Noam Chomsky, há muito um delinqüente ideológico. Americano no gozo das plenas liberdades democráticas, notabilizou-se por culpar o governo dos EUA pelo ataque do 11 de Setembro. Vejam lá: se alguém lembrar ao vagabundo que ele é livre para escrever o que quiser na imprensa do seu país, ele responde que essa liberdade é uma forma de lavagem cerebral. Logo, é evidente, a “voz autorizada” apresentada aos estudantes conduz o aluno à defesa na posição nº 1.
5 – Alguém poderá objetar: “Ah, mas o estudante pode desancar Chomsky, a posição 1 e defender o ponto de vista nº 2”. Não pode não. Observem que a questão tem duas fases, e a primeira condiciona a segunda.
6 – Eis aí: já não se consegue fazer uma prova, um vestibular, um exame do Enade sem que o lixo esquerdocínico a tudo contamine com suas mentiras, suas pilantragens, suas falcatruas, suas falsificações históricas. De resto, sabemos, a real lavagem cerebral, não aquela de que fala Chomsky, o comunista financiado pela burguesia americana, começa já no ensino fundamental, com livros didáticos perniciosos.
Essa prova de “Formação Geral” do Enade é para selecionar idiotas. Mas não idiotas quaisquer. Só os engajados. A saída de quem percebe a cilada é se fingir de estúpido para não cair nas malhas da “Stasi” petista.