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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

“Zeitgeist” e “Weltanschauung” petistas e onde o povo põe seu cóccix

A foto está na primeira página da Folha de ontem, mas o tema é de sempre.Tenho apontado, não é de hoje, o que chamo de Zeitgeist (espírito do tempo) petista que toma conta da imprensa. Não chega a ser uma militância ativa — em alguns casos, é. Os dias continuam propícios a certo estado de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h40 - Publicado em 23 fev 2007, 16h47

“Zeitgeist” e “Weltanschauung” petistas e onde o povo põe seu cóccix

A foto está na primeira página da Folha de ontem, mas o tema é de sempre.
Tenho apontado, não é de hoje, o que chamo de Zeitgeist (espírito do tempo) petista que toma conta da imprensa. Não chega a ser uma militância ativa — em alguns casos, é. Os dias continuam propícios a certo estado de coisas, de que falarei neste e em outros posts. Palavra mais adequada do que “zeitgeist”, ou a ser empregada em conjunto, me lembra um colega jornalista, versado em alemão, é “Weltanschauung”, cujo significado em português pode ser “visão de mundo” ou, ainda, “ideologia”. É verdade. Escrevi há tempos em Primeira Leitura um texto tratando dessas duas coisas. Embora os sentidos acima sejam bons para “weltanschauung”, procurem um dicionário de alemão, ela é mais ou menos intraduzível — sobretudo porque a possibilidade de fundir palavras parece emprestar ao idioma interstícios e tonalidades irreproduzíveis. Vejam lá: procurem o significado de “welt” (a primeira acepção é “mundo”, “universo”) e depois de “anschauung” (convicção, ponto de vista). Quando falamos de uma “Weltanschauung”, estamos, na verdade, tratando de algo mais entranhado na vida e na cultura do que dá a entender a nossa “visão de mundo”. Trata-se de um condicionamento do olhar e do pensamento — ou da morte do pensamento.
Ao caso. A decisão de pôr aquela foto na primeira página, claro, é editorial. Reparem que o companheiro sem-teto tem um jeito todo particular de se apropriar do aparelho urbano. Como aquelas barras o impediriam de deitar, ele, então, criativo que é, encontrou um jeito confortável de ser fotografado por Ricardo Nogueira. Eu não tenho dúvida. Qualquer companheiro miserável, sem-teto, perseguido pelos higienistas, quando vê um banco como esse, opta pela saída mais simples: aperta-se entre a mureta e o assento, sustenta o peso do corpo no cóccix (eta palavra danada, não?, pior do que “Weltanschauung”…) e descansa a batata das pernas sobre o assento. O cóccix, leitor amigo, é o que restou em você da cauda — ou “rabo”, em alemão… O “povo” senta sempre de maneira muito criativa…
O redator da legenda da foto se deu conta do que tinha em mãos, mas fazer o quê? Está lá: “Jovem se ajeita no banco antimendigo na praça da República, em SP; reinaugurada por Gilberto Kassab, ela ganhou novos pisos e canteiros; os moradores de rua agora dormem no chão”. Vejam só: o “jovem” é um mendigo, mas não fica bem o jornal assumir essa informação como um dado referencial. Daí essa variante do eufemismo. Fosse um morador de rua mais velho, em vez de jovem, talvez se tivesse de dizer: “Homem maduro…”. Continuando: ele é um “jovem”, mas o banco de que ele faz um uso criativo é “antimendigo”, aí tomada a palavra como um dado mesmo da realidade. Nesse caso, o banco também poderia ser “antijovem”, certo? Em seguida, vem a informação da reinauguração da praça, reformada, como um dado apenas lateral. E a conclusão: “os moradores de rua agora dormem no chão”. É como se fosse uma conseqüência óbvia e necessária da reforma. Reformaram a praça para quê? Para que o povo dormisse no chão. Mas complicada mesmo é a reportagem a que tal imagem remete. Já chego lá.
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