“Pô, pai, de novo???”
Não sou de ficar postando musiquinha aqui e coisa e tal. A não ser que eu esteja a fim de fazer certas provocações, hehe. As minhas filhas já não agüentam mais andar de carro comigo. “Pô, pai, Adele de novo?” De novo! Não é que não gostem. Foram elas que me apresentaram a cantora. É […]
Não sou de ficar postando musiquinha aqui e coisa e tal. A não ser que eu esteja a fim de fazer certas provocações, hehe. As minhas filhas já não agüentam mais andar de carro comigo. “Pô, pai, Adele de novo?” De novo! Não é que não gostem. Foram elas que me apresentaram a cantora. É que caí de amores, hehe. A minha predileta não é Someone like you ou Rolling in the deep, embora goste muito, mas Don’t you remember. Vejam só um pouquinho (eu veria até o fim). Volto em seguida.
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E aí? A letra é até bem tristinha, não?, como quase todas. Não chega a ser um canto de exaltação: amargura, aquele velho peso na alma, coração volúvel, olhar perdido, desacerto amoroso, em suma, que é a única coisa relevante no lirismo.
A moça canta que é uma lindeza. Não é um discurso ambulante de contestação. A “ordem burguesa” até que vai muito bem com Adele e sua fartura. Não imagino aquele vozeirão num amontado de ossos embebido em álcool. Dá para confiar tanto na sua música como numa refeição que ela preparasse; não tem jeito de quem cospe ou joga bituca de cigarro nas batatas.
Não tenho paciência — nunca tive! — para mistificações. Notem bem: pouco me importa se ela bebe cinco litros de vodka depois do show. Isso absolutamente não me diz respeito. O que me interessa é, como se dizia antigamente na USP, o “eu-lírico” abandonado da sua letra; o modo como a dor, real ou imaginária, virou melodia; a maneira como ela casa a voz com cada desvão da DOR REPRESENTADA.
Noto que ela até cuida das unhas. Adele vai à manicure. E não há dor de que ela não consiga tratar em sua música, sem carregar aquela aura perturbada da “artista”. O cantor, o músico, o poeta, o pintor ou o ator não precisam estar à beira da destruição para nos dar notícias da dor. O artista tem de fingir os estados d’alma que podem nos conduzir ao desespero na vida real. Ao fazê-lo, contribui para nos tirar do abismo, em vez de cair ele próprio no abismo. Ou, então, é grande a chance de que seja só um farsante superestimado.