“Para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem”
A foto acima, de autoria de Vanessa Carvalho, da Agência Estado, mostra o presidente do Corinthians (ele é o que está à esquerda), Andrés Sanchez, e a ministra e futura candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, fazendo aquele criativo sinal de “positivo” logo depois que ele assinou a ficha de filiação ao PT, abonada […]

A foto acima, de autoria de Vanessa Carvalho, da Agência Estado, mostra o presidente do Corinthians (ele é o que está à esquerda), Andrés Sanchez, e a ministra e futura candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, fazendo aquele criativo sinal de “positivo” logo depois que ele assinou a ficha de filiação ao PT, abonada por ela: “O presidente Lula jamais vai me perdoar porque ele gostaria de estar aqui dando as boas vindas”, disse a ministra. Ah, perdoa, sim! Ô se perdoa…
A assinatura marcou o encerramento do que se chamou “caravana” de Dilma em São Paulo. Os paulistas e paulistanos sabem muito bem como foi. Os leitores de outros estados têm de saber: só se falava de outra coisa em São Paulo. Escrevo este texto com uma camiseta que ganhei da Reinaldinha mais nova, ainda mais apaixonada pelo clube do que eu. Logo abaixo da imagem clássica de São Jorge e do símbolo, a frase: “Para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem…” Pois é.
Sanchez não é o primeiro dirigente de clube ligado à política, é óbvio. O presidente do Palmeiras, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, é um dos conselheiros econômicos de Lula e presidiu — anunciou a saída no dia 30 do mês passado; não sei se já a concretizou — o conselho da TV Brasil.
Futebol e política costumam andar de braços dados no país. Ora essa relação é mais fria — nos dois governos FHC, por exemplo —, ora mais quente: nos governos Médici e Lula (ele com essa mania de imitar o regime militar). Quase sempre, isso é ruim para o futebol e para a política. Aquele porque vê seu destino atrelado a necessidades e exigência que nada têm de esportivas; e esta porque costuma degenerar em populismo rasteiro.
O PT não está bem em São Paulo. Tanto é assim que pensa em recorrer a um político cearense — Ciro Gomes só nasceu em Pindamonhangaba — para disputar o governo do Estado. Além de tentar a sorte, ele teria também a função de atacar o governador José Serra (PSDB). Seria, assim, como contratar alguém para um serviço, uma espécie de terceirização, entendem? Adiante. Dilma não é exatamente alguém popular por aqui. O que fazer?
Sanchez está tentando ser o mestre-de-cerimônias a apresentar a candidata à Fiel. A filiação do presidente do clube, neste momento, corresponde a uma espécie de “privatização” do Corinthians, que, então, passa a ser identificado com um partido — como se não bastasse o fato que ser corintiano. Ele até poderia se filiar à legenda num outro momento, fora dessa tal “caravana”. Fazê-lo agora é já entregar-se ao proselitismo eleitoral. Preferiria que Sanchez estivesse empenhado em recompor a equipe, desarticulada com a venda de alguns jogadores. E muito desarticulada!!!
Não faz tempo, Ronaldo deixou escapar a frase: “O presidente está sabendo de tudo [o que ocorre no clube e no futebol] e indica as empresas que podem nos ajudar”. Ele estaria se referindo a conselhos que Lula estaria dando ao Corinthians para ajudar o clube a construir seu centro de treinamento.
A identificação de um clube com um político e com um partido atinge seu maior patrimônio, que é justamente a unidade na diversidade; vele dizer: a despeito de todas as diferenças — de formação, de religião, de classe social, de ideologia —, somos corintianos, palmeirenses, são-paulinos, flamenguistas…
Não é segredo para ninguém que o Corinthians é o clube mais identificado com os pobres — como bem sabem a sua própria torcida e as adversárias. Nós vemos isso como virtude (“temos o povo”), os outros, como é notório, acusam o que seria a nossa falta de refinamento. É tudo, literalmente, do jogo. Um Lula corintiano quando era um político da oposição, de origem humilde (faz muuuiiito tempo!!!), tinha lá a sua graça; havia uma certa mímica de resistência naquilo. Hoje em dia, dada a forma como as coisas caminham, a proximidade do petista com o clube e agora a filiação de Sanchez ao PT parecem pôr o partido sob a fronde do oficialismo: oficialista e privatizado pelo petismo!
Dilma, como se nota, busca desesperadamente o “povo”. Dia desses, participou de uma missa celebrada pelo animado Padre Marcelo. Católica ela? Nunca foi! Imaginem tentando rezar “Salve, Rainha”… Se um Pai Nosso sair de primeira, já será uma conquista. Agora, como se vê na foto acima, tenta cair nos braços da Fiel…
São Jorge é mais!
“Para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem.”