“Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta “…
Acordei mais cedo porque tinha alguns exames médicos a fazer. Ainda na cama, o seguinte diálogo com Dona Reinalda:— Há um texto de um tal Zeca Baleiro, na Folha, que te ataca.— Hein? O que é isso? O que é “zecabaleiro”?— Reinaldão, Zeca — pausa — Baleiro.— De bala de açúcar ou de bala de […]
— Há um texto de um tal Zeca Baleiro, na Folha, que te ataca.
— Hein? O que é isso? O que é “zecabaleiro”?
— Reinaldão, Zeca — pausa — Baleiro.
— De bala de açúcar ou de bala de pistoleiro?
— Não sei, nunca ouvi falar do sujeito. A julgar pelo artigo, de pistoleiro.
Fui ao laboratório. Voltei. Peguei o jornal. Lá está o tal na seção Tendêncais/Debates. Isso, por si mesmo, poderia render um artigo na seção Tendências/Debates… A que ponto chegamos! O pé biográfico do rapaz informa: “José De Ribamar Coelho Santos, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, ‘Pet Shop Mundo Cão’”. Ele também quer tirar o meu sangue.
Rompendo o meu jejum com café preto, penso: “Não sei quem está pior: eu ou a Folha. Eu poderia ser xingado por Chico Buarque, diabos! Diogo, ao menos, já foi mencionado por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Pra mim, sobrou esse Ribamar aí!? A Folha, por sua vez, trata compositor como pensador…”
A pretexto de abordar a já bizantina polêmica “Luciano Huck/Ferréz” (convenham: está na hora de trocar de assalto…), dispara o baleiro: “ (…) a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista ‘Veja’, notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita ‘consciência democrática’, propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz) (…) Não cabendo em si, dispara esta pérola: ‘Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos’. Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.” Ao fim de seu artigo, com a autoridade intelectual de um cantor e compositor, rouba o lugar no jornal que já foi de Marilena Chaui: “Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só — uma luta de classes cruel e sem fim.”
Zeca Baleiro acha que “luta de classes” é luta mesmo, o confronto físico, porrada. Nada a estranhar. Os nossos intelectuais, tão lidos quanto ele, pensam o mesmo.
É evidente que não tenho nada a dizer a um cantor do PMPB de quem nunca tinha ouvido falar. Ele está me atacando, acho eu, para ganhar alguma notoriedade. Apenas uma correção que talvez o jornal pudesse tê-lo ajudado a fazer. Quem me convidou a escrever o artigo foi Otavio Frias Filho, diretor de redação do jornal. O convidado fui eu, não o “articulista da VEJA”. Se o xará de Sarney quer atacar a revista, não deve usar aquele meu artigo como pretexto. Sobre “fascistóides”, “extrema direita” e “ultradireita”, ver o post seguinte. Adiante.
Fui tentar saber que cara tem esse meu adversário do PMPB. Lá vou eu: “Google Imagens”. Huuummm: magricela, barbicha, cheio de “atitude”, óculos escuros, queixo de Noel Rosa, ora com rabinho, ora sem rabinho, narigão… “Será mais um que pensa com o nariz?”, vi-me obrigado a refletir. Quem vê cara não vê poesia, não é? E se lhe sobrou algo mais do que o queixo de Noel? Quem sabe algum talento. Google de novo. “Zeca Baleiro letras musica”. Huuummm:
“eu quero ver
eu quero ver a serpente acordar
eu quero ver
eu quero ver a serpente acordar”
*
Eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Ainda não é hora
De partir…
*
Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta
*
Meu Amor, Meu Bem, Me Ame
Não vá prá Miami
Meu amor, meu bem me queira
Tô solto na buraqueira
Tô num buraco
Fraco como galinha d’angola…
*
baby deixa eu ser o teu lamartine babo
o teu sabonete phebo
serás o vinho que bebo
meu baião xote xaxado
meu maxixe meu quiabo
Sou obrigado a admitir que, em prosa, o Narigão é ligeiramente melhor do que em verso.